Páginas

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O SUPER PODER DA DISTRAÇÃO


Muita gente consegue desenhar bem várias coisas: animais, pessoas, paisagens. Na infância eu me considerava um bom desenhista, uma das minhas ambições era tentar replicar os meus super-heróis prediletos. Muita gente sabia do meu entusiasmo pelas histórias dos super-caras que usam cuecas por cima da roupa. Alguns amigos de papai até me apelidaram de “Super Juca”, eu que era um garoto magrelo não achava que era por ironia, tentei sair voando dos telhados, mas o chão gostava de mim.


Fizeram uma pesquisa nos EUA para ver quais os super poderes as pessoas mais gostariam de ter: voar ganhou disparado. Curiosamente, falar com os peixes – super poderes do Aquaman – não ficou bem ranqueado. “Que pena, dizem que os peixes falam coisas muito interessantes.” Quem nunca se imaginou tendo poderes telecinéticos para pegar coisas distantes sem levantar da cama, atravessar paredes para fugir de uma encrenca, ler pensamentos durante uma paquera ou ter visão de raios-x? Uma vez eu nem precisei desse último super poder para realizar um desejo.

Em minha escola da adolescência estudava uma garota apelidada de “a perfeita”. Naturalmente, além de ter tudo generosamente no lugar exato, a beldade não dava pelota pra ninguém, era um sonho de consumo inexpugnável. Faço aniversário perto do natal e justamente naquele dia, um final de tarde ensolarado, dobrei uma esquina na Praia do Canto e me deparei com “a perfeita” caminhando bem à minha frente.

Fazer parte da categoria das perfeitas requer um trabalho danado, tem, por exemplo, que usar vestidos provocativos que privilegiem curvas e retas de um corpo jovem e desejado por mais marmanjos que a torcida pelo fim do sertanejo universitário. Não fora assim, que graça teria em ser estonteantemente bela? E a garota caminhava carregando um monte de pacotes de presentes. Pensei que Deus tinha me dado a chance de ser cavalheiro e a conhecer, mas antes disso bateu a ventania e o vestidinho da perfeita ficou que nem biruta de campo de pouso em dias de atividade.

Tive que improvisar uma tipóia pra me segurar o queixo ante aquela cena que qualquer marmanjo pagaria várias vezes o valor da mesada para poder assistir. Enquanto tentava equilibrar os presentes que perigavam despencar no chão, “a perfeita” lutava em vão contra o vento que revelava impune e fartamente seu corpo escultural da cintura pra baixo. Foram umas três quadras daquele jeito até que a alcancei e me ofereci a ajudar. Descobrimos que morávamos perto, tivemos um pequeno romance e lá pelas tantas constatei que ela não era tão perfeita assim...

Por essas e por outras que ao invés de desenhar eu acabei me dedicando a escrever.

2 comentários:

Anônimo disse...

Juca adorei me fez relembrar minha adolescência e a nossa inocência da época.

Super-herói vc não conseguiu ser mas como escritor está no caminho certo bjs

Adelina

Anônimo disse...

Caro Juca,

Amei o texto, realmente, qual a criança, pré-adolescente, que nunca desejou ter superpoderes, só os que não sonhavam, e, estas fantasias nos proporcionaram uma infância maravilhosa e crescemos sadios, felizmente!

É isso meu amigo, não pare nunca de escrever, e nos proporcione viajar contigo.

Grande abraço,

Paulo Angelo