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domingo, 4 de julho de 2010

SOBRE OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS

Os anos 80 acabaram pra mim com alguns meses de antecedência. Eu tinha 23 anos e não tinha a menor consciência do quanto era jovem, ingênuo e inexperiente para enfrentar as enormes pedreiras que me viriam pela frente, mas uma coisa eu sabia: o que ficara para trás eu precisava abandonar. Foi no dia 05 de julho de 1989 que minha mãe morreu, não quero falar do fato em si, mas do que ele representa para mim e do significado simbólico no livro que estou lançando.

O Livro do Pó vem a público agora, após muitos anos de depuração de formato, de maturação e de filosofia da piração. Muita gente me questiona a importância de escrever um livro sobre o rock daqui, dizem que não fará diferença nenhuma para o resto do mundo. Fico pensando se caras como Tolstoi ou Jorge Amado pensassem assim. O importante nessa história não são as pessoas e nem o lugar em que os acontecimentos se deram, mas a forma e o conteúdo em que ambos são apresentados à malhação, aclamação, ou indiferença de todos.

Sei que muitos têm a expectativa de que O Livro do Pó seja uma obra apoteótica, feita com a intenção de transformar uma bandinha de quinta num supergrupo esquecido e injustamente renegado pela posteridade. Para começo de conversa O Livro do Pó não é uma biografia da banda Pó de Anjo, embora use seu nome a partir de determinado momento, trata de uma onda, um movimento, um tempo que passou e deixou suas impressões. Não é uma história de sucesso, é a triste sina daqueles que se atiraram ao mar e nunca chegaram do outro lado, ou melhor, não conseguiram sair da ilha em que permaneceriam naufragados.

São quase trezentas páginas de recordações transformadas em um livro do que poderíamos classificar de “realismo fantástico”, ou “romance baseado em fatos reais”. Qualquer um dos que se atreveram a o ler até agora chegam à conclusão de que se trata de uma obra de fôlego e, vou me atrever a dizer, um gênero novo sem muitos outros similares na atualidade. O Livro do Pó não tem fotografias, nem nomes reais das pessoas que circulam em seu espaço. Não vi muito sentido em me ater à realidade de um passado do qual poucos lembram, apostei na fantasia para tentar resgatar um bafo dos anos 80, tão pouco reinventei a história, mas a partir dela fiz um exercício de exorcismo.

Não consegui escrever O Livro do Pó na primeira pessoa, me sentia estranho ao ter que falar de mim como alguém que não conheço mais e precisava reencontrar. Inventei um outro eu e dei o nome de Zeca para ele, tanto em homenagem ao meu amigo Babalú, quanto porque é a troca mais comum que fazem com relação ao meu apelido “Juca”. E, sim, matei o personagem não por conta da dificuldade que tenho hoje de me encaixar naquele universo, mas porque sua morte simboliza aquela outra que menciono no início deste texto e que foi, de verdade, uma das várias mortes que experimentamos em vida. O fim de uma fase, de um trecho do caminho.

Outra coisa que é bom explicar é que o Livro do Pó não tem nada a ver com cocaína, muito menos com seu uso dentro de um grupo de pessoas. Pelo contrário! É uma obra anti-drogas e nada condescendente com o uso temerário de que tantos fazem dela. No final há um trecho de Eclesiastes que dá nome, inclusive, ao título do capítulo final “Os Maus Dias”. E que é uma referência às vaidades das vaidades que permeiam o universo dos jovens desde aqueles tempos bíblicos e que serve como uma advertência: do pó ao pó retornarás... Ou seja: coloca os pés no chão galera, porque quando nos dermos conta já terão passado os melhores dias de nossas vidas.






RESUMO ELEKTRÔNICO

Lançamento do Livro do Pó

Dia: 13 de julho de 2010

Horário: 21 horas

ENTRADA FRANCA

Local: Teacher’s Pub

Endereço: Rua Rômulo Samorini, 33. Praia do Canto.

Informações e reservas: 99895654

Juca Magalhães: 27 9942 9087 & 3225 0848.
Visite a Letra Elektrônica.
http://megamagalhaes.blogspot.com

2 comentários:

Ricardo Chagas disse...

Olá meu caro, Juca...
Não há nada mais simbólico, importante e verdadeiro do que aquilo que se escreve com o coração. Essa materialização de uma obra ou idéia é mais que uma vitória. Imagino o quanto esteja feliz. E sei também o valor simbólico que estão por trás dos relatos, dos fatos e das palavras expostas ali. Nada melhor que a experiência vivida e bem vivida. Também trilhei muito no mundo da música e sei o quanto tenhos histórias para contar. Afinal, cada um tem a sua história. Tudo tem o seu tempo. E como você mesmo falou, devemos colocar os pés no chão, afinal tudo acaba tão rápido e tudo é tão passageiro (seja as situações, a fase, as pessoas que amamos, a propria vida). O que resta? Viver... e procurar dá sentido ao grande absurdo que é a vida. Absurdo no bom sentido...
Um grande abraço, meu amigo.
Sucesso neste livro e nos muitos outros que virão.
Ricochagas

Anônimo disse...

É isso Mestre! Poucas são as pessoas que se dão conta de que num estalar de dedos, num piscar de olhos a vida passa e vira de cabeça pra baixo o viver de quem fica...

Dia 13 batendo à porta, parabéns por mais essa etapa vitoriosa, é festa na Ilha...

Luzia