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terça-feira, 16 de agosto de 2011

O MEDO DO MEDÍOCRE DIANTE DO GÊNIO

A primeira vez que me lembro de ter visto um comentário diretamente ligado às improbabilidades do sucesso foi no filme “Buena Vista Social Club”. O guitarrista Ry Cooder tocava - literalmente - o projeto e disse que, enquanto o fazia, não tinha a menor idéia se obteria algum sucesso. Spielberg uma vez disse a mesma coisa de Tubarão, que quando o filme estourou nas bilheterias ele estava já envolvido com a produção seguinte e não costumava pensar sobre o resultado do público.

Woody Allen é um cara que deve ter ficado muito surpreso com o sucesso de seu filme Meia Noite em Paris. E eu também me pergunto das razões para tanto frisson, afinal gostei muito mais de Vicky Christina Barcelona. Obviamente o filme não é ruim, mas parece pouco quando comparado, por exemplo, com “Poucas e Boas” que é até parecido no clima nostálgico e traz Sean Penn numa de suas melhores performances como um talentoso, narcisista e cleptomaníaco guitarrista de Jazz.

A impressão que tenho é que as pessoas gostaram desse filme do Woody pelas razões erradas, como foi exatamente no caso do Buena Vista Social Club que assisti no Cine Metrópolis e pude testemunhar um grupo de tiazinhas animadas cantado “Quiças” e aplaudindo no final como se estivessem no show daqueles músicos empobrecidos e relegados ao descaso pela ditadura de seu país. Buena Vista é um filme glorioso, mas é triste também. Algo assim se passa em “Meia Noite em Paris”.

O mais curioso nesse filme do Woody são as piadas repetidas, as auto-referências. A situação com os sogros é muito parecida com um dos quadros de seu filme “Tudo Que Você Queria Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar”. Essa nova película não passa de uma viagem intelectualóide e sentimental a Paris, é romântico “ma non trepa”, o sucesso que fez junto a um público maior, talvez, se deve a aspectos “pedantes” que temos em nossa personalidade que nos fazem sentir inteligentes quando confrontados com as referências clássicas de pintura e literatura que abundam no filme.

É como aquela coisa de muita gente que volta do exterior se sentir um poliglota, saca? Quando na verdade o que assimilaram foi um fugaz "verniz de cultura" e, não sei por que, isso me incomodou. Talvez seja porque o Woody resolveu brincar com essa coisa do gringo deslumbrado passeando em Paris e eu vi isso muito dentro de casa e no meio em que fui criado. Ao invés de achar graça me senti triste, Meia Noite em Paris é um recado mal criado ao “bom gosto” consumista das pessoas ricas e foram justamente essas pessoas que o adoraram.

É também a constatação do valor que todos damos ao passado, agora que está morto e imutável, que pode ser manipulado, não responde, não contesta as tuas convicções. Por isso tanta gente no presente se acha no direito de falar em nome de grandes autores e isso é outra crítica recorrente na obra de Woody Allen, talvez ele já esteja começando a se perguntar sobre o que será o amanhã, inclusive de suas próprias idéias. Então, enquanto idealizamos figuras do passado espezinhamos as do presente, simplesmente porque os grandes nos lembram que somos pequenos.

E não há esse nanico que queira viver na terra dos gigantes. Ou há? "Off With Their Heads! Off With Their Heads!"

4 comentários:

Anônimo disse...

Juca,

SENSACIONAL. A letra elektronica está cada dia melhor (repare que é uma afirmativa "não hipócrita", que mantém espaço para que o Juca continue humano e talvez até decadente em alguns aspectos. Sua faceta "elektronica" é que ascende)

Abbraccione,

Leonardo Tristão

Juca Magalhães disse...

Valeu Léo, a gente é decadent avec elegance. Huauhuha.

Anônimo disse...

Adorei...

Você, não o filme. rs.

Margô Loureiro

Anônimo disse...

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