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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ESSA NOITE EU VOU CANTAR TOM ZÉ! MANIFESTO MUSICAL AUTÓCTONE N°01

Olha bicho cara, como diria Mark Harris “People on Streets”, dira dirahê! É verdade, aqui se faz aqui se vende. Por falar nisso, lembrei de cobranças antigas dessa minha relação torta com a música, esse casa e separa interminável. Minha mãe deve ter sido a primeira, mesmo porque ela tinha essa prerrogativa. Queria me colocar para tocar em festas e casórios. Putz! Fiquei indignado como o quê. Ela não entendeu e tachou (vejam bem: com ch) minha atitude de preguiça de existência. Talvez fosse, mas a música para mim sempre teve uma finalidade mais, digamos assim: íntima.

Outra que me cobrou disso foi a minha primeira esposa, quando ocupava a privilegiada posição de abordar esse tipo de assunto, o que eu – pardon pelo francês – sempre achei uma merda. Perguntou por que eu não fazia alguma coisa com a música para “ganhar dinheiro”, obviamente não imaginava, supunha ou conjecturava que com isso eu fosse ficar rico, talvez apenas quisesse me ver mais feliz e menos reclamão da vida. Respondi com uma de minhas metáforas favoritas daquelas que geralmente não querem dizer nada, servem só pra desviar a atenção, mas dessa vez tinha a ver:

- Querida você já se imaginou fazendo sexo por grana? Saindo com um cara qualquer, um desconhecido completo e transar com ele, só pra faturar um trocado?

- Claro que não. De onde é que você tirou isso agora?

- É assim que me sinto quando me imagino tocando por tocar sem estar envolvido de uma forma que eu tenha amor... Para mim é exatamente como prostituição.

Acho até que ela nem entendeu muito bem a dimensão da coisa que eu queria colocar, mas percebeu que eu falava sério e nunca mais tocou no assunto, mesmo porque nossas vidas seguiram rumos muito diferentes desde então. Porém, durante muito tempo fui assim, preferi quebrar pedra em mil e um empregos diferentes do que fazer música para agradar um certo público ou puramente com intenção de ganhar uma grana. Não condeno quem o faz, longe disso, eu apenas tentei fazer diferente.

De uns tempos para cá resolvi quebrar esses paradigmas impostos por limitações burguesas em minha criação ou pela caretice conservadora do meio em que cresci que pregava – e muitos ainda acreditam – que trabalhar com música é sinônimo de vagabundagem ou idealismo de gente que não tem medo de enfrentar dificuldades financeiras. Hoje não me nego a tocar com algum grupo ou cantar quando convidado por alguma banda ou artista. É o caso do show “Canto Solidário” em homenagem à Tropicália que acontece hoje à noite (01/12). Segue o flyer do evento. Contribuam com a causa e não gritem histericamente quando minha escribática figura adentrar o palco do Theatro Charles Ghomes...

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Juca,
Muito bom ver as coisas acontecendo. E viva a cultura...
Desejo-lhe muito sucesso em sua criação artística: seja nas letras, seja na música.
Não poderei ir, estou trabalhando em São Mateus atualmente. Enfim...

Nada melhor do que uma boa dose de cultura para alegrar o espírito.
Sucesso...

Rico