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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

FOI BOM ENQUANTO DUROU

Andei lendo o blog do Gerald Thomas no IG e de lá tirei as seguintes afirmações:


“Se formos analisar o último filme ou CD de fulano de tal, ou a última coreografia de não sei quem, veremos que tudo é uma mera repetição medíocre e menor de algo que já teve um gosto bom e novo. (...) Vejo um mundo nivelado por uma culturazinha de merda, por twitters que nada dizem. Nem bandas ou grupos de músicas inovadoras existem: vivemos num looping dentro da cabeça de alguém. E, ao contrário de Prospero, ele não nos liberta para o novo, mas nos condena pro velho e o gasto!”


Na hora lembrei de uma entrevista que Iggy Pop deu pra Jonathan Shaw na revista Trip, da qual pincei o seguinte comentário:


“Chega a ser irônico que (você - Iggy) esteja conseguindo sucesso e respeito do grande público justamente hoje, num dos períodos mais negros, conservadores e criativamente medíocres da história.”


Também me incomodo com essa sensação de que tem alguma coisa estagnada nesse nosso céuzinho azul, alegre e límpido como diria Vanusa. Porém pode ser que estejamos vivendo um período de transição cultural, um momento global de assimilação de informações antes não disponíveis abertamente, uma respiração no fluxo criativo da Terra. A Internet e tudo o que ela traz a rodo tem grande parcela de culpa nessa reviravolta. Outra coisa a se considerar é a ressaca do momento:


Pois é, depois de algumas décadas de porralouquice, o mundo acordou de bode e resolveu ficar mais caretinha. Sei que logo uns vão argumentar: “Você ficou doido? Nunca teve tanto maluco no mundo como agora!” Pode até ser, mas a doideira não é mais vista como uma coisa bacana e muderna como já foi em outras épocas. Vivemos tempos responsáveis em que não se pode fumar em lugares fechados, nem beber e sair dirigindo, nem transar sem camisinha. Aliás, tudo podemos, mas saber que tem muita gente morrendo por isso nos faz tentar ajudar a não piorar a coisa.


Nas artes vivemos uma ressaca semelhante, o tédio das crianças mimadas que durante décadas chutaram todos os baldes, romperam com todas as convenções para conseguir no final o mesmo resultado: consumo voraz e lixo tóxico, pulmões enegrecidos, enterros de amigos, visitas ao urologista... Nós não fomos salvos pelo amor, diria John Lennon desconsolado, e eu pergunto: nos salvar do quê? Conversava outro dia sobre isso. Qualquer pessoa que leia os livros antigos vai perceber claramente que a raça humana patina nos mesmos problemas filosóficos e espirituais há milênios e que essa dita “evolução” é uma falácia. Se bobear estamos andando para trás...


Era disso que John queria ser salvo? Será que a arte se tornou pequena em face da constatação dessa verdade? Mas não, as pessoas continuam produzindo discos, livros, filmes, peças de teatro, o problema é que a criação parece ter chegado a um limite e a repetição da mesma coisa diferente se tornou aborrecida e cansativa para aqueles que já estão enfiados nessa seara há uns quarenta anos, como é o caso tanto de Gerald Thomas quanto de Jonathan Shaw. Temos a impressão de que a arte só é novidade para os principiantes e que, portanto, é feita por eles e para eles em consumo imediato. Mas como eu disse, isso pode ser só uma impressão... Afinal os entendidos em arte dos anos sessenta torceram ou não o nariz pros Beatles? Ô se não torceram.


Sem dúvida novidades como o Twitter, por exemplo, nos soam bobocas comparadas com a emoção de ouvir Janis Joplin num toca discos Sonata, mas talvez seja injusto compararmos o novo atual com o de outras épocas. Têm muitas coisas bacanas sendo feitas agora que o merecido valor nos escapa e que poderão ser lembradas e amadas durante muito tempo como é, por exemplo, esse boom da Internet e o próprio surgimento de espaços virtuais como os blogs e os ditos “sites de relacionamento”. É uma louca época caretinha, não há nada de revolucionário ou contestador no ar. Algumas de nossas maiores cabeças estão estudando freneticamente para passar em concursos públicos...


A tônica dessa juventude de hoje não é mais curtir a vida, mas garantir uma forma de vida e com isso perde a arte, a poesia, perde um monte de coisa. O artista precisa ter aquela incerta irresponsabilidade para criar algo realmente novo, colocar a mente longe dessa roda do capital, lá na fronteira dos mundos, ainda assim nada garante que ele vá encontrar e nos trazer algo diferente e, pior ainda, que sua arte apesar de inovadora seja realmente aceita e dela possa tirar seu sustento. Muitos já pagaram caro por fazer esse leva e traz e nunca o mundo inteiro soube tão bem disso. A época da inocência acabou e o século vinte um ainda não começou. / E a Era de Aquário? - Olha honey: foi bom enquanto durou...

4 comentários:

Gabriela Galvão disse...

Comecei a comentar, apaguei, deu vontade d fazer um post, mas melhor dialogar por aqui!

Tem muito o q se falar disso, vou tentar falar o mínimo do máximo q eu lembrar.

D twitter e qq saite d relacionamento:ñ são, a priori, nascedouros d arte, mas meio d difundí-la!

Eu nunca tive tanto contato com arte -e da boa- qt agora.
Meus pais ñ se ligam nem em música, mas eu e minha irmã degenerammos, thank God!

E c/ a internete, a nossa vida ficou mt, mas mt mais fácil!

A arte da boa a q me refiro eh q q estava aih hah séculos e a atual, tb. Uma ñ eh melhor q a outra, ñ!!!
Adoro coisa q ñ eh contemporânea, mas ñ sou saudosista e mt menos qria ter nascido em outra época.

Tem mta coisa boa acontecendo, talvez as pessoas estejam presas olhando pro q jah passou ou reclamando do q vê, daih ñ se deixam entrar em contato c outras coisas.
Ñ veem o bom pq ñ chegam a ele -no caso do Gerald, desconfio q ateh chegue, mas ñ tenha disposição!!! p admirar-.

Hum... Pensei em mais trem, mas eh tanta coisa, q me foge, o tempo ruge -alto-...

Gostei mt do post -fez pensar-, se vir qq coisa similar pelo meuzinho, ñ serah mera coicidência.

Abração!

Gabriela Galvão disse...

Jah falei: http://mgabrielagalvao.blogspot.com/2009/09/tah-ruim-mas-tah-bom.html

Bisous!

Chico Arantes e Rica Urso disse...

Fácil! Inovemos à moda antiga, então!

E um dia - profetizando - criar coisa boa será a moda (ïéééca")

Abraço e parabéns cara

SILVANA PEDRINI disse...

Isto parece uma revolução de idéias ou ideais. E a arte contemporanea se tornará bela e tão boa quanto a passada, quando nós - artistas, nos tornarmos mais irresponsáveis e entregues a vida e a emoção. Tudo o que há de novo pode ser usado de forma boa ou não. Muitas novidades me assustam, mas eu sempre ouço e vejo coisas boas surgindo em meio a tanto lixo.

Abraços