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sábado, 23 de junho de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: VIRGINDADE POR UM FIO


 
Vou levá-la comigo pra jantar
Ela merece por alegrias que me dá

Supla – Mão Direita

O telefone tocou em off. Parecia início de peça de teatro ou algo assim. Ele podia ouvir do lado de fora do quarto o desgraçado se acabando de tocar. Se fosse numa peça o público ouviria também: as cortinas fechadas e o telefone tocando...

Ele é que não ia lá atender. Deveria, mas nenhum atacante jogando em sua posição teria ido.

Ela era jovem, mas ele também era. Ela era linda, mas ele não a amava. Ela era virgem e para ele isso não era nenhum problema. Nada. Ele não estava nem aí pra nada!

Estudavam arquitetura, mas não eram calculistas. Ele desprezava matemáticos! Gostava era de se atracar a seu corpo, rodar a ponta dos dedos pelos bicos dos seus seios e beijar a sua boca. Quanto beijo cabe um coração incipiente! Parece aquela sede que nem rio nem represa, nem mar nem oceano é capaz de aplacar.

Aplacar... Palavra engraçada. Não consigo pensar em outra melhor para descrever aquele sentimento. O que será que incipiente quer dizer exatamente?

Telefone desgraçado! Pensamos. Ele é que não ia lá atender. Estavam quase conseguindo fazer o que o desejo suplicava latejando no tal “músculo que sente” que o Cazuza falava e que a moral reprimia distante como aquele toque insistente dos infernos.

Como será que ela foi parar no quarto dele naquela tarde? Como era mesmo seu nome? Cristina? Cristiane? Era algo assim... Estavam quase em ponto de ebulição, quase! Um sarro alucinado por cima das roupas de cima e de baixo que iam saindo e chegando pros lados. Ele nem lembrava mais do telefone.

Foi quando estavam bem perto de acoplar espaçonaves que o pai apareceu. Furioso, como se realmente quisesse dar um susto tão grande quanto o que levou!

- Por que é que ninguém atende telefone nessa casa!? – Ele deu um salto acrobático de cima da garota.

Ficaram os três se medindo surpresos: do lado deles de um jeito e por certas razões, o lado paterno de outro e por outras. Depois de uns segundos de hesitação, o homem resmungou alguma coisa sobre o telefone e se mandou desconcertado.    

A garota correu pro banheiro do quarto e de lá foi embora sem dizer adeus. Quem manda ser burro e não trancar a porta?

A verdade é que nessas horas é preciso ser prático, afinal, o fato dela ter abandonado a causa não aquietou em nada a revolução vulcânica no músculo que sente.

Resolveu se trancar no banheiro também, no modo manual.

Na lixeira encontrou um bolinho de papel que ela usara para se limpar e porque em pânico quisera (quisera?) conferir se havia sangrado. Ficara no final a virgindade por um fio...

Ele levou o papel ao nariz enquanto se masturbava. Deixou se entorpecer na incongruência cômica do odor impuro que exalava duma boceta zero bala.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo Juca,

Não acredito em coincidências. Hoje sem mais nem porquê estive conversando com minha esposa sobre o ES e, uma coisa leva à outra, falei de você com a admiração de sempre. Em meio à conversa falamos de sua mãe, da scuderie le cocq, de seu blog. Quando resolvi mostrar a ela o blog, certo de que encontraria curiosas imagens do movimento cultural capixaba dos ointenta, deparei-me com seu post de ontem. Não tinha ideia de que hoje seria niver de sua mãe, nem da aproximação do julgamento, em julho. Envio-lhe minha consideração e apoio, um pensamento a Deus, por sua mãe, e os votos de boa sorte, sempre.

Continue nos brindando com a Letra Elektrônica.

Um abraço, do amigo

Flávio Sarandy.

Gabriela Galvão disse...

Perfume, Juca!

(Mto bom, abração!)