Páginas

terça-feira, 1 de setembro de 2009

VIVA MAURÍCIO DE OLIVEIRA!!!

Maurício de Oliveira morreu. Essas coisas deixam a gente sem palavras, já viu alguém destrambelhar a falar na face da morte? Fica só essa sensação de que alguma coisa nos chateia lá por dentro e que esse sentimento nos persegue, parece pedrinha no sapato, uma dorzinha que dói e a gente nem sabe onde. Junto com esse buraco que se abre quando alguém que conhecemos falece vêm as lembranças. Tive o privilégio de conviver com muitos grandes artistas de nossa cidade e Maurício foi um deles.


Era uma espécie de ocasião solene quando o mestre vinha à nossa casa em Santa Lucia dar aulas de violão para minhas duas irmãs mais velhas. Eu que era menorzinho ficava louco de curiosidade, mas não podia nem passar perto da sala onde as aulas aconteciam, o silêncio reinava austero em toda a casa. Quis o destino que nenhuma das meninas manifestasse talento para o instrumento e coube a mim - anos depois - o resgatar de seu ostracismo. Marretei até aprender a tocar algumas músicas sofríveis, toco até hoje, todos os dias.


“Ninguém escolhe a música, a música escolhe você”, já dizia a minha amiga querida Ana Claudia Nahas, outra que também partiu um pouco cedo. Mas Maurício não, esse levou sua vida de maneira completa, provou estarem errados os que diziam que “música não dá camisa pra ninguém”. O nosso maior e mais bem sucedido escolhido das musas. Deviam rebatizar algum monumento natural com seu nome, algo que tivesse a importância de sua estatura, o Penedo talvez ou o Mestre Álvaro mesmo deveria agora se chamar “Mestre Maurício de Oliveira”.


Quando a gente gosta de tocar um instrumento é natural ter admiração por aqueles que o toquem com mais talento e para mim, no caso de Maurício, não era nem isso. Eu admirava a sua postura. Com certeza a musicalidade, o virtuosismo, eram apenas aspectos exteriores a se admirar no homem Maurício de Oliveira, eu curtia a sua simplicidade, a sua tranqüilidade e o seu bom humor. De quantos destes grandes homens que conhecemos hoje podemos dizer o mesmo? Quisera todos fossem como ele, não músicos geniais, mas pessoas do bem.


Numa das últimas vezes que conversei com Maurício pessoalmente ele estava muito satisfeito e me disse orgulhoso: - Você sabia que agora eu estou tocando com o Manimal? – Logo em seguida colocou o disco pra tocar, fiquei ouvindo o violão solando purinho enquanto o mestre tinha estampada no rosto uma indizível expressão de contentamento, parecia um menino traquinas que conseguira dar uma pernada no tempo.


Teve uma outra ocasião em que ele se apresentou em um projeto que eu coordenava na Igrejinha do Rosário em Vila Velha, não me lembro por que, mas cheguei atrasado à apresentação e - ainda do lado de fora - estranhei uma cantoria na igreja. “Ora, o recital não era instrumental?” Era, só que as pessoas estavam acompanhando o mestre, cantando Carinhoso junto com ele. Que bonito... E o mais incrível é que não faz muito tempo isso, mas a Terra, essa menina sacana, cobra direitinho o seu tributo e a ela todos nós retornaremos um dia.


Então vamos celebrar com orgulho a vida desse homem batalhador da profissão de músico, especialmente porque - graças a Deus - ele escolheu viver nessa difícil terra dos Capixabas trazendo um novo alento a tantas das nossas gerações. Vamos honrar a memória desse pai de família exemplar que atravessou a floresta da vida apenas com sua arte e que num mundo melhor do que este sua música vai para sempre estar brilhando entre as esferas, na harmonia perfeita que preenche o infinito.


Viva Maurício de Oliveira!

14 comentários:

Carla Cristina Teixeira Santos disse...

Oi, Juca
Entristeceu-me também muito a morte de Mauricio de Oliveira, com quem não convivi - como você - mas que sempre admirei por tudo que fez e gerou (sou amiga de um neto dele).

Aproveito para felicitá-lo pelo belo texto de homenagem, bem à altura desse grande homem.

Viva Maurício de Oliveira!

Abraços
Carla

Juca Magalhães disse...

Obrigado Carlinha, tudo é muito pouco quando falamos de gente grande assim... Pouquíssimos são os que nos dão alegria e orgulho.

Anônimo disse...

Parabéns amigo!!! Vc é espetacular!!!

Um grande beijo,

Saudades,
Adriana Gimenez

Anônimo disse...

Oi Juca,

Palavras sábias, muito bom o tributo e a homenagem que faz ao Maurício.Estou na Europa, ( França) e estou sabendo de sua morte por você.Vou rezar por ele!Obrigada,

Gracinha Neves.

Anônimo disse...

Nada melhor que as palavras de um amigo pra ressaltar as qualidades de outro amigo. Mauricio, vá em Paz. Teremos para sempre uma dívida de gratidão a voce.

E a voce, Juquinha, parabéns pelas sábias palavras.

Juvenal Marcelino dos Santos

Anônimo disse...

Lindo texto Juca - faço minhas as suas palavras.

Um abraço,

Helder Trefzger

Anônimo disse...

Juca,

Assim como o HUCAM (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes) prestou uma homenagem a um grande médico capixaba, acredito que a FAMES - Faculdade de Música do Espírito Santo deveria adotar o nome de FAMMO - Faculdade de Música Maurício de Oliveira. Seria o mínimo a se fazer diante de tamanha contribuição que o Prof. Maurício deu a música capixaba. Segue aí a minha sugestão e amanhã vou dizer isso pessoalmente ao Prof. Nelson Gonçalves Filho (que também foi aluno dele nos anos 70) e atualmente leciona lá na Faculdade de Música...

Um forte abraço e a música capixaba está de LUTO.

Flávio Salles

Marco Aurélio Dias disse...

O Flavio falou bem...

Quem morreu não foi o músico Maurício de Oliveira... foi o homem, que diga-se de passagem era um ser humano de rara delicadeza e ética.
Sua obra (que não é pequena) talvez seja divulgada e valorizada da forma que merece após sua morte.
É impressionante como nós temos o hábito de homenagear e valorizar os grandes talentos apenas após sua morte.

Caro Juca, coo você mesmo falou: Viva Maurício de Oliveira!!!

Rodrigo Alves disse...

Boas palavras Juca. E levo mais longe sua sugestão sobre a homenagem ao Mestre Maurício: Que tal uma Ponte Maurício de Oliveira? A recém inaugurada tem o nome de Carlos Lindenberg (falta de criatividade, pq já existe a avenida) e temos também a Airton Sennna (grande piloto mas, que eu saiba, nunca nem pisou no nosso amado solo espiritossantanse)
Acho que deveria se mudar o nome de uma das duas para Ponte Maurício de Oliveira.
Abç!

Anônimo disse...

Falou bonito (como sempre) por todos nós Capixabas de terra, ar e mar.

No mês ecologicamente correto, Setembro, plantamos uma semente logo no seu primeiro dia, para que seja lembrado durante todas as Primaveras, que a sua flor mais bela, é mais do que uma cor entre tantas outras, mas uma canção de paz no jardim da eternidade (ou na floresta da vida, como vc poéticamente tão feliz colocou).

É isso aí meu querido, a vidinha continua... nos enchendo de emoções, lições e razões para escritas inspiradoras.

Take care!

BB

Anônimo disse...

"Juca, bonito o texto que vc escreveu em homenagem a Mauricio de Oliveira. Ele era um Icone da cultura Capixaba, Icone com "I" maiusculo."

Rodrigo Mattos

Anônimo disse...

Juca, querido,

Se fosse antigamente, dizeria apenas que as tintas da sua caneta me emocionaram.

Você possui talento para escrever, com cobertura de ternura!

Parabéns pelo artigo! Uma justa homenagem ao maestro querido.

Um beijo no coração.

Solange Serrat de Aguiar

Anônimo disse...

Oi Juca,

achei lindo o artigo que voce escreveu sobre Mauricio de Oliveira, parabens! Eu nao me lembrava dele e nem que ele me deu aula de violao. Dessa aula eu me lembro que mamae tinha inventado que Fernanda iria aprender. Quando esta nao quis, veio mamae me atentar. Da aula em si eu so tenho a lembranca dele gravar o que eu tinha tocado, para eu mesma ouvir. Nao lembro porque ele fazia isso. Lembro tambem que tocar violao nunca foi minha praia. Eu achava que o som tinha que sair certinho e eu achava que estava sempre tocando tudo errado.

Milla Magalhães

Maria Paula disse...

Bendito Juca!!!

Sem tempo para escrever. e ler textos de amigos, me emocionei demais com esse em homenagem ao Maurício de Oliveira!!!

Você arrebentou com meu coração!!!

Amei!!!

Beijos mill