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domingo, 9 de setembro de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: EXPOSIÇÃO ELEITORAL GRATUITA



Você já apareceu na televisão? Já pensou em ser ator ou atriz, tentou decorar um texto e teve a corajosa experiência de ir para frente de uma câmara, ou na boca do palco de um teatro lotado e expressar da maneira mais natural e convincente longas frases e sentimentos que não foram criados por você?
  
Manuel Bandeira dizia que gostava de ser fotografado, achava uma delícia poder se observar como puro objeto. E àqueles que tachavam suas manias de “criancice” o velho poeta respondia: “Deus conserve as minhas criancices!”


Somos muito pouco autoconscientes, temos uma vaga idéia de quem somos e nos preocupamos muito pouco com a maneira que podemos interferir na vida das pessoas. Talvez por isso sejamos cruéis com tanta facilidade: destratamos, humilhamos, ofendemos e, muitas das vezes, sequer nos damos conta; achamos que estamos nos impondo, exatamente como fomos ensinados: a não levar desaforo pra casa.

A exposição na mídia é uma forma muito interessante de autoconhecimento. Rapidamente, sem dó nem piedade vem gente que sabe-se-lá de onde saiu dizer o diabo a respeito de outra sem nem a conhecer. O melhor é quando a pessoa que precisa se expor consegue se enxergar para além desse teatro e deseja mudar. As outras vão lá ficar fazendo o que sabem fazer melhor: caçoar do (de)feito dos outros...

Penso muito nisso tudo quando assisto ao programa eleitoral gratuito. Tenho pena de algumas daquelas pessoas que nunca deram a cara à tapa e de repente são confrontadas com o mundo em que vivem. Aquele homem e aquela mulher para quem sorrir é uma dificuldade estão lá, tentando fazer cara “de gente boa”, coisa para a qual não têm muita vocação. Parece fácil ser simpático, mas está é longe de ser.

Alguém vem e fala: “você tem que sorrir, passar segurança, esbanjar simpatia”. A lista de atributos televisivos para um candidato deve ser de deixar qualquer Fátima Bernardes vesga. E a maioria não fez teatro ou já havia sequer aparecido na televisão. Fica aquela coisa meio idiota do cara falando sobre um assunto importante ou sério e sorrindo como fosse o Sérgio Malandro.

Em tempo: gostei de várias propostas das propagandas dos candidatos a prefeito de nossa Capital, estou até pensando em comprar logo uma bicicleta. Não vejo tanta diminuição na qualidade dos candidatos como dizem, já houve épocas bem piores. Sem dúvida, há um discernimento maior do eleitorado, tanto que a crítica mais dura parece ser à própria existência obrigatória do programa eleitoral.

Agora, toma jeito Conceição que ninguém é obrigado a ver televisão, não é? Vai ler um livro, pendura na Internet, tome uma água de coco no calçadão. Daqui alguns meses essas pessoas estranhas de quem você tanto falou mal, troçou e reclamou estarão ocupando um carguinho público bacana e tudo continuará na mesma, ou não, talvez a gente até vá mesmo dar umas voltas de bicicleta... Vai saber...

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