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domingo, 14 de março de 2010

A CRÔNICA DO MEU PRIMEIRO AMOR

Daí que ontem foi aniversário de Renatinha e a festa foi na casa onde morava um amigo de infância, na rua que morei quando tinha lá pelos meus doze, quatorze anos. Foi naquela rua que vivi muitas aventuras de guri e da qual preservo com carinho algumas de minhas mais caras lembranças pré-adolescentes. Lá na esquina tem um prédio que hoje está velhinho perto de seus vizinhos onde moravam vários amigos como o Geraldo, o Dodas e uma menina loirinha que foi o que mais próximo eu cheguei de um amor juvenil.


Minha mãe era colunista social, como muitos devem saber, então muita gente me pergunta se não sinto falta daquela vida agitada de nosso assim chamado high society capixaba. Que pergunta mais sem propósito! Amava a minha mãe como a maioria das pessoas ama a sua, porém – embora para muitos o que vou dizer seja uma surpresa - esse lado escancarado de colunista dela sempre foi um incômodo para todos nós, razão pela qual dou aqui um exemplo concreto.


Logo correu pela casa a notícia de minha paixonite juvenil, enquanto isso eu sofria com aquele sentimento novo e o acalentava com o receio exagerado de ser mortalmente ferroado, ferido, aprisionado, como as pessoas inexperientes na mata selvagem. Nem às paredes eu confessava que estava amando, morria de vergonha daquele sentimento incontrolável que se apossara de minha barriga como uma revoada de borboletas toda vez que via aquela menina, então eu escondia aquele sentimento dentro de mim e o negava para tudo o mais.


A minha amada devia estar assim também, porque ela me procurava todos os dias, criou-se entre nós uma espécie de ritual: todos as manhãs nós nos víamos e religiosamente caminhávamos pela quadra em que morávamos conversando sabe-se-lá sobre o quê. Os passeios se sucediam e os mexericos foram se intensificando, nosso pequeno caso de amor virou assunto em minha casa e na vizinhança, era diversão para os empregados e pessoas simples que se alvoroçam quando vêem os cachorros no cio.


A notícia de meu caso de amor logo chegou aos ouvidos da matriarca e ela ficou muito orgulhosa: seu filho estava se transformando em um homem! Sabem o que ela fez? Sapecou uma nota no jornal no melhor estilo “meu filho Juca está apaixonado!” Casa de ferreiro, espeto de pau. Obviamente eu não lia a coluna de minha mãe, mas para meu azar muita gente lia. O pai da minha amada, por exemplo. Logo meu segredo mais secreto era uma notícia social espalhada aos quatro ventos, até os peixeiros devem ter embrulhado pescados com a notícia de meu amor para seus clientes.


O mais doloroso de tudo foi que nem para a minha amada eu havia tido a coragem de confessar aquele terno sentimento... Ela o descobriu pelo jornal, da pior forma possível, tomando um senhor esbregue da família. Ora a menina devia ter uns dez anos, qual pai não ficaria puto da vida? Logo, fomos proibidos de nos encontrar e nunca mais tivemos nossos passeios inocentes, nunca mais sonhar em viver aquele amor. Os anos se passaram e eu voltei naquela rua por uma coincidência da vida, num dia de verão, o calor sufocante espremeu lembranças através de meus poros. Nós nos reencontramos depois, anos depois. Mas isso é outra história e ela está no Livro do Pó, breve vocês poderão saber como acaba.


Segue abaixo um “teaser” da capa do Livro do Pó – feita pelo Pedrão Nascimento - que está em sua fase final de edição – na Gráfica A1 - e deve ser lançado em algum lugar do mês que vem, muito provavelmente no Teatcher’s Pub que fica no Suvaco da Perua, pertinho de onde o grupo Pó de Anjo ensaiava e outras coisas rolavam... Enquanto isso tenham uma boa semana e não deixem de coisar e aparecer na televisão, segundo Gore Vidal , isso é o fundamental...


9 comentários:

Anônimo disse...

Juca, excelente. Todos nós temos uma história para contar.Mas vc o faz de maneira tão singela que nós, leitores assíduos da sua "letra" , apropriamos-nos como se foSse a "nossa' HISTORIA.
Legal!

Basul

Anônimo disse...

Adorei Juca, mt bom, vc escreve mt bem!
bjos

Thaïs Sabino

Anônimo disse...

Foi nessa casa também que rolou a passagem da família Seu Coiso, Dona Coisa e Coisinha... morro de rir até hoje lembrando dessa história. Sua mãe era o máximo! Hoje mesmo estávamos converssando e daí estávamos lembrando de uma perua boutiqueira quem não lembrávamos o nome quando soltei um 'Gina Bacurau?', pra quê? foi gargalhada geral... e o papo descambou pra sua mãe. Lembramos dos apelidos que ela colocava nas figuras e divulgava no jornal. Ai, ai, muito bom.
Gostei da capa do livro do pó. O melhor de tudo é a cara dos anjinhos... olhos possuídos rsrsrsrs.
Bjs,
July.

Anônimo disse...

Xuca, só mesmo pra dizer que eu gosto muito dos seus textos, mesmo os que eu não entendo porque me faltam referências :) Enfim, continue! A capa do livro parece ótima.

abraços
LP

Anônimo disse...

Olá meu caro, amigo...
Que crônica fantástica, mesmo com o desfecho da situação não tendo sido uma dos melhores. Nossa, como esse sentimento nesta faze é obscuro, tudo é novo, assusta e como é necessário o silêncio (segredo). Fiquei até curioso para ler na integra a crônica da sua mãe. Você a guardou não? Essa crônica me fez lembrar as minhas paixões de infência. Na 4ª série gostava de uma menina que estudava com minha prima. Loirinha também... escrevi até carta. Mas com ela nunca fui conrespondido... oh situação difícil. Mesmo assim não a deixava quieta hahuahuahuaaa...
Mas é isso. Gostei da crônica!!!
Ah, a capa do livro ficou muito bonita. Logo, logo quero lê...

Abraços,

Ricochagas

Juca Magalhães disse...

Não guardei o que minha mãe escreveu não, como disse na crônica mesmo: casa de ferreiro, espeto de pau. É interessante isso, como tanto meu pai como minha mãe eram jornalistas muitas coisas importantes foram escritas ao invés de ditas e eu sempre tive um pouco de decepção com o fato. Muitas vezes desejei palavras ternas proferidas ao invés de textos bem acabados, acho que ainda sou assim. Mas o problema é que eu também sigo escrevendo... Deve ser alguma espécie de tradição ou maldição. UHauhuhuha. Um abraço e obrigado pelo comentário meu caro.

Anônimo disse...

aê, magalhães, acho que prefiro a dos pirralhos, outra coisa, tem dois "do", ou seja, sobra um. quanto ao resto, acho que deve manter a palavra que mais te agrada pra qualificar o rock local, e o texto mais confortável pra te qualificar. botocudo é mais sonoro, não? abraço, adolfo. ps: pra botar uma lenha na fogueira eu questionaria o sentido de "década perdida", no seu título: 1) existe isso (década perdida), ou essa não passa de uma expressão criada por economistas yuppies pra caracterizar momentos de menor calor financeiro, como a década de 80? pergunto isso porque não creio que nem a leva anterior de roqueiros (paulo branco, mamíferos etc) nem a leva que a sucedeu, protagonizada por você, sejam desligadas da terceira onda, da qual participei gritando mal minhas letras ruins. mesmo que não haja uma continuidade transparente entre nós, pra mim é indiscutível o fato de uma ter alimentado a outra. e aí, o que acha?

Adolfo Oleari

Juca Magalhães disse...

É isso mesmo véi, existem várias denominações para os anos oitenta: década perdida, que está mesmo ligada ao momento financeiro de hiperhinflação e baderna financeira da época, tem a geração coca-cola que o Renato Russo falou e mais um monte de bobagens... O Lordose, The Rain, O Urublues, a banda do Marquinhos - agora me fugiu o nome - são continuidades não tão transparentes de tudo o que rolou (Pó de Anjo, Thor, Vapor Mercúrio e as outras), mesmo porque vocês já estavam chegando quando estávamos na atividade e viram a dor e a delícia do que era ser "roqueiro capixaba". Mas gosto do termo década perdida, mais por conta do oba-oba que foi aquele período de liberou geral após o fim oficial da ditadura 1984(?). Um abraço.

P.S. Não existe letra ruim, você é que bebeu pouco.

Anônimo disse...

Juquinhaaaa

Que história linda!

Quero estar presente quando o livro for lançado. Lembre-se de me convidar. rsrsrsrsrsrs

bjs.

Leonora