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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

DICAS DE COMPORTAMENTO PARA OTÁRIOS


Fui pegar um café e tinha um sujeito parado bem em frente à grande cafeteira prateada. O cara se servia em um tempo todo próprio, colocava açúcar no copinho de plástico em lentas colheradas e misturava o líquido distraído como se morasse na outra face da lua. Eu estava bem atrás esperando para me servir, de sua parte não houve o menor esboço de reação como costuma acontecer no mundo normal. A maneira como ele me ignorava começou a me incomodar, alguns hoje o chamariam de “sonso”, termo que não gosto e também não sei por que.

Já que estava invisível resolvi contornar o “problema”, dei a volta e peguei um dos copinhos no qual coloquei três gotas de adoçante esperando daí ser percebido. Ainda como se eu fosse invisível, após terminar de dar umas cinqüenta voltas no copinho, o cara finalmente saiu de frente da cafeteira. Nessa altura eu já estava considerando a possibilidade dele tomar o café ali mesmo. Quando fui me servir é que descobri a razão de sua tranqüilidade bovina: não tinha mais café!

Acho louco encontrar pessoas que deliberadamente colocam de lado toda cortesia, educação e consideração com estranhos. Custava o cara ter me dito que o café tinha acabado? Será que a minha infinitamente pequena decepção fora razão premeditada de divertimento para o sujeito? Foi o que pareceu.

No restaurante self-service estava lá eu na fila como todo mundo, me servindo de saladas e outros alimentos vegetarianos. Logo atrás tinha uma senhorinha apressada (estabanada?) que de vez em quando esbarrava em minhas costas com o prato ou o corpo. Pode até não ser, mas sua mensagem subliminar era: “Anda logo seu sonso que eu estou com pressa!” Depois da terceira ou quarta futucada me voltei sorrindo que nem um galã e falei com voz macia:

- Por favor senhora, pode passar na minha frente. – O mais engraçado é que a vi ficar quase sem graça, o que não a impediu de passar e começar a esbarrar o próximo da fila à sua frente, mas aí o problema não era mais meu.

Há muito tempo em nosso mundo a gentileza e a educação foram sendo substituídas pela competição desenfreada. Ser educado, dar a vez, oferecer a outra face, virou atitude suspeita, sinônimo de otário; é preciso sair na frente, ser o primeiro em tudo, mesmo que o respeito e a consideração sejam deixados de lado. Vemos muito disso especialmente no trânsito. Por que será que tantos correm, fecham a passagem e se comportam como formiguinhas desembestadas?

Um dia eu estava manobrando o carro aqui perto de casa, uma rua tranqüila de Bento Ferreira. Do nada apareceu uma mulher à mil por hora, freou bruscamente a ponto de quase bater e enfiou a mão na buzina. Tomei um susto danado e reagi sem pensar: deixei o carro parado onde estava, abri a porta e rosnei pra ela:

- O quê que foi dona? – Ela se encolheu, mas gritou de volta:

- Você não deu seta! – Pois é: a culpa era minha Mané, eu estava errado. Sua corrida desembestada naquela ruazinha tranquila, sua atitude agressiva eram causadas pela minha “barbeiragem”. Voltei e terminei de estacionar pensando: “era só ela ter desviado um pouco”. Pelo menos aquele pequeno susto eu devolvi.

Tem gente que não leva em consideração o risco envolvido na grosseria gratuita. E se eu, ao invés de um otário, fosse um pistoleiro sanguinolento, bandido armado desses que andam soltos por aí atrás de confusão? Pra quê dar chance ao azar? São essas pessoas que chegam em casa reclamando da violência, sem nem sequer imaginar o quanto estão contribuindo para piorar esse mundo do qual tanto se queixam e que também são as mais resistentes na hora de aceitar aquelas mudanças necessárias que começam dentro de cada um. 

Não sei como terminar esse texto de forma estrambótica, mas o quis compartilhar com vocês. Vamos tentar nos comportar bem, na melhor das hipóteses vocês correm o risco de virar  assunto na Letra Elektrônica e isso pode não ser legal para a lataria do senhor ninguém... Mister Nobody (sic).

8 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí Juca! Assino embaixo de tudo que escreveu. Mas acho que isso é próprio do ser humano (Freud....) Bom, mas quando estou quase desistindo das pessoas, do nada aparece um desconhecido (ou conhecido) que te faz uma gentileza gratuita, trazendo de volta a esperança... O negócio é se lembrar dessas pessoas, da gentileza que gera gentileza (viva o Seu Raimundo) e ignorar essas pessoas, pois elas passarão pelo mundo e serão esquecidas com a mesma voracidade com que disputam a todo custo o seu lugar ao sol.
Abraços do seu amigo, leitor e fã,
HT

Anônimo disse...

DEMAIS!!!!

UM DESABAFO DE TODOS NÓS!!!


Leonardo

Anônimo disse...

Sou igual a vc bicho, cansei de ser "The Nice Guy", joguei a educação no porta malas e trago no banco do carona o bom e velho monstro que alimentei dentro de mim mais do que o cãozinho manso. Mas é só começar a escrever que esta terapia me acalma.

Para o babaca do café eu diria ser um looser himself, aquele assumidamente fracassado que sem ter mais nada a perder na vida ajuda os outros a perderem seu tempo e paciência com ele.

Quanto a senhorinha agitada na fila do "selvi-selvi" (popular e fluentemente dito pelo povão), muito provavelmente deveria estar nos seus dias de cio, querendo a qualquer preço esfregar suas tetas nos outros para abrandar o fogo de loba nos países baixos.

Be good my friend!

BB

Anônimo disse...

Juca, entendo perfeitamente esse tipo de situação...Olha a vergonha que me aconteceu ontem: http://bit.ly/cCwguj , a propósito marca volta do @semquerersaiu


Abs.
.Emily.
@opss

Anônimo disse...

Juca, como é bom ver você traduzir nesse texto as minhas indignações do dia a dia.
Tenho pelo menos umas mil e uma história destas pra contar, a da fila do self-service é classica e aconteceu exatamente assim comigo, no Natura da Praia do canto.
Saio de casa sempre com esse espirito, dar bom dia com um sorriso a todos que encontro, ceder a vez para qualquer um passar adiante se este estiver com pressa, dar passagem no transito, sempre. Pra ver se com pequenas atitudes eu consigo contribuir para mudar um pouquinho as pessoas, porque eu tento me melhorar todos os dias.
bjs

Gabriela Galvão disse...

Dei um 'p.s.' no post mais recente d hoje. Um trecho dele:

E teve a visita frustrada ao João. Porqe erramos a entrada da maternidade e a motorista tava dirigindo em função dos outros. Considerando q estava em horário d pico e a educação do povo como anda, vc (ñ) pode fazer uma idéia. Pelo menos rendeu mta risada.

Aih vou no Juca e ele estah falando disso. Ele q ñ sabe dumas histórias. Nego finge q vai pegar arma no porta-luvas, caro Juca. E acha graça, parece. E nem liga d ñ estah sozinho. Nego fica perseguindo outros motoristas, caro Juca. E nem liga d ñ estar sozinho. Nego ñ guenta andar, ñ guenta nem falar!, e pega o carro e sai dirigindo, caro Juca. E nem liga. Nem te conto.

Gerielly disse...

É velhinho,viva o senhor ninguem!

Thatiana disse...

Isso pq vc não pega ônibus. Tem gente capaz de te derrubar pra pegar um lugar. Fora criaturas soltas por aí que não sabem dizer "bom dia", "por favor", "obrigado". Pedem informação e viram as costas... enfim, a falta de educação é assoladora e só nos estressa mais ainda. Na boa, tou vendo que tb vou virar uma "ogra" com certas pessoas.