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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

QUERIA TER ACEITADO AS PESSOAS COMO ELAS SÃO...

Todo mundo reclama do mau atendimento em Vitória, isso é coisa tão antiga que já virou característica de nossa cultura como a panela de barro e a moqueca. Bons funcionários custam caro, com os impostos até os maus custam, e os empresários não querem ou preferem não investir nesses detalhes. Um dia desses vi um grupo de pessoas no Facebook falando mal do Cinemark, cujo atendimento já até valeu post inteiro na Lektra: para evitar aborrecimentos como filas e defeitos constantes raramente vou lá, apesar de adorar cinema e este ser o mais próximo de minha casa.


Minha referência de bom atendimento era São Paulo capital, sempre que ia lá ficava impressionado com o nível cultural dos atendentes, a polidez, a presteza, tudo muito bacana e diferente daqui. Passei a acalentar o sonho de um dia ver Vitória chegar naquele padrão de excelência e para minha decepção, na última vez em que estive na “terra da garoa” pude constatar que é bem mais comum importar deficiência do que exportar qualidade. Depois de tantos textos sobre essa característica capixaba (Zé da Pizza, O caso das bisnagas etc.) tenho uma nova história pra contar aos amigos...


Ontem apresentei a colação de grau de uma turma que dei aula no semestre passado, os formandos em Biblioteconomia 2006/1. No final da cerimônia estava previsto a aluna Ester cantar a música Epitáfio e ela me pediu para a acompanhar, levei meu violão e mais algumas tralhas na manga porque sei que na maioria dos lugares não têm extensão, cabos e outros equipamentos lógicos de se ter já que o evento estava acontecendo no “Teatro” da UFES. Chegando lá foi batata, procurei o pessoal do som do teatro e no palco encontrei um rapaz, literalmente, olhando pro teto.


- Ôpa amigo, tudo beleza? Você cuida do som aqui do teatro? – Sem retribuir minha saudação ele confirmou me olhando de menesgueio: era como se eu fosse mais um pentelho dos que teimam em aborrecer sua gloriosa existência. Daí emendei: - Eu trouxe um violão para usar e queria... – Ele nem me deixou terminar a frase.


- Você trouxe cabo? – Claro que eu trouxera, mas a maneira como ele falou me deixou grilado. Não conhecia o cara, nem me lembro de ter elogiado sua mãe. Tava sendo grosseiro por causa de quê? Além do mais havia uma espécie de expectativa baixo astral em sua fala, me deu a impressão, que agora é certeza, de que se eu não tivesse levado o cabo de alguma maneira isso ia lhe ter feito um bem danado.


Enquanto escrevo toca o celular, tive que parar, era da Vivo oferecendo cartão de crédito. Cara: detesto quando me ligam sem eu saber quem é me chamando de seu Djalma. Tem vezes que esqueço meu nome de batismo e quase não respondo por pirraça ou preguiça. Falei que não queria cartão coisa nenhuma e o cara desembestou a argumentar que nem uma metralhadora – se é que isso argumenta -, o jeito foi bater o telefone na cara do infeliz. Lembrei que no início da conversa ele falou que a ligação estava sendo gravada... Não sei pra quê.


Aliás, não tinha saído uma Lei que proibia esse negócio de telemarketing? É como essa coisa das propagandas políticas e a poluição sonora: não tinha sido proibido? Parece que as Leis só pegam quando visam restringir nossa liberdade auto-destrutiva ou encarecer e dificultar a vida, como esta última da cadeirinha para crianças que custa uma nota... Deste susto eu não morro, mas voltando ao Teatro da UFES:


Mostrei o cabo pro rapaz do som e ele, sem se mexer de onde estava, apontou para uma caixa lá na parede da coxia com umas trinta entradas.


- Não tem mais perto do palco não? Meu cabo não vai chegar tão longe.


- Não. – Pensei em perguntar então se no Teatro não teria um cabo maior pra emprestar, mas do jeito que a coisa ia achei melhor fiquei quieto.


- Então em qual entrada eu ligo?


- 20 e 21.


- Tem certeza? Meu cabo é banana e não estou vendo nenhuma entrada assim ali. – Estava escuro na coxia, o simpático repetiu entre os dentes o que já dissera e foi saindo de perto antes que eu, o que seria lógico, pedisse para ele me ajudar.


Fui olhar a caixa de perto e achei as entradas, pluguei minha viola na 21 e me preparei para a apresentação que foi um sucesso, mas não graças à equipe do Teatro colocada à disposição dos formandos. Sabe qual é o detalhe? O aluguel daquele espaço não é barato e, sim, aquela má vontade toda era remunerada capitão! O que, aliás, não pode fazer diferença, porque no final das contas todo serviço é remunerado. A gratidão mesmo é uma forma de pagamento que me apraz, assim como costumo retribuir grosserias com textos pela Internet. Além de ser divertido dá um resultado...


Bom, vou parar de novo porque agora apareceu um rapaz do IBGE, hoje pareço estar condenado a dar atenção às pessoas que não conheço. Fico mal humorado como o cara do teatro, a diferença é que não estou prestando serviço, nem pedi que me procurassem. Encontro na portaria um garoto usando um grande colete azul empunhando um breguéti eletrônico da mesma cor, que quando me viu disparou à queima roupa: - O Senhor se considera pardo ou branco? - Pensei em responder que me considerava amarelo, mas para quê estragar meu happy hour?

8 comentários:

O Segredo dos Escritores disse...

olá!
tudo bom???
muito prazer,me chamo Augusto César...
gostei muito do seu blogger. show de bola!
estou lhe seguindo,me siga também???
http://osegredodosescritores.blogspot.com/

Anônimo disse...

Anteontem mesmo mandei um e-mail para o Cinemark perguntando se aquela grosseria fazia parte do treinamento deles e que já estava se tornando proverbial em Vitória.

Se responderem, te passo o texto.

Em SP me incomoda aquela história de 'senhor' o tempo todo, sem o promome 'meu' que lhe confere gentileza. Virou uma praga. Se não querem usar pronome, que empreguem 'cavalheiro'.

O Brasil tem essa mania de cassar esses adjuntos que equilibram a língua. Reparou a atual mania de escrever 'toda loja', ao invés de 'toda a loja'? Por que cassar o pobre a? Toda loja significa qualquer uma!

AC Braga

Anônimo disse...

Adorei Juca.

Passei pela mesmissima situação naquele evento que fizemos juntos lá no teatro, lembra?

Tive que dar vários "por fora" para merecer alguma atenção dos funcionários de lá.

bjs

Margô

Anônimo disse...

Muito boa Juca....rsrsrs....

É isso ai irmão, bota a boca no trombone mesmo....É preciso ter nestes lugares pessoas que no minimo tenham respeito pela arte, pois amor pelo que se faz, principalmente nos orgãos públicos, em qualquer instância tá dificil mesmo...
Mais uma vez obrigado em amplo sentido, por enviar-me o Lektra e por continuar empunhando a bandeira da mãe de todas as artes, que é a musica !!!!

Att. Mario Gallerani Jr.

Anônimo disse...

Oi Juca

Concordo com você em gênero, número e grau. Meu fds não foi melhor devido a má vontade de alguns atentendes de um Hotel nas montanhas. Uma pena. Quanto ao Cinemark, venho fazer coro, ja fiz reclamação com gerencia e tudo, mas não resolve. Mas sou Brasileira e não desisto nunca, tenho esperança que um dia isso mude.
Marcia

Anônimo disse...

Oi Juca

Concordo com você em gênero, número e grau. Meu fds não foi melhor devido a má vontade de alguns atentendes de um Hotel nas montanhas. Uma pena. Quanto ao Cinemark, venho fazer coro, ja fiz reclamação com gerencia e tudo, mas não resolve. Mas sou Brasileira e não desisto nunca, tenho esperança que um dia isso mude.
Marcia

Juca Magalhães disse...

Uma sugestão que me foi dada por um amigo é reclamar no site do Cinemark. Mais do que isso não podemos fazer. Pena o Kinoplex não ser no Shopping Vitória tb. Segue o link de sugestões e reclamações deles:

http://www.cinemark.com.br/cinemark/fale_conosco.jsp

Paulo Pimentel disse...

Se Vitória continua assim...
Enfim, tristeza não tem fim, felicidade sim...
Que pena!

Paulo Pimentel
"anos 70 em Vitória"