Páginas

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CHUCK BEARRY ALLEN KING KONG SIZE!


Que surpresa bacana ter um feedback de personagens involuntários aqui da Lektra, eles, baseados em gente do mundo real, eles, transparentes e invisíveis, eles: “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança”. Se vocês tiverem a curiosidade de dar uma olhada nos comentários a este texto verificarão que meu amigo Barry e a própria Julia Roberts em carne e osso digital apareceram de um distante sumiço para saudar a minha iniciativa e, o que é pior: corroborar os fatos, qual seja, o meu mico King Kong Size. Putz! Fiquei emocionadão, quase caí duro também.


Sobre esse texto teve até uma outra história gozada: eu o enviei por email para um grupo de duzentas pessoas que me correspondo com mais freqüência com o título abreviado “O Adeus à Julia Roberts”. Daí estava conversando anteontem com Marco Antonio da Gráfica A1, meu editor para assuntos do Livro do Pó, que me falou chateado em tom de quem dá puxão de orelha:


- Pô cara você quer me matar do coração? Quando vi aquele seu email anunciando a morte da Julia Roberts fiquei abalado. É engraçado, porque nunca me considerei fã dela nem nada, mas quando vi a mensagem me bateu uma tristeza, comecei a lembrar dos filmes... Fiquei imaginando o texto até mesmo antes de o abrir: hoje no dia tal faleceu a atriz Julia Roberts... Daí quando fui ler a mensagem vi que era uma coisa completamente diferente...


Só pra arrematar a personagem, eu ia até colocar essa no texto passado, mas vivo tentando economizar espaço na mente dos outros, embora muita gente ache meus textos grandes demais, vide meu amigo Paulo Rubens, que o acha para ruim e o Washington que admira a criatividade. Sempre tento suprimir comentários desnecessários e ir direto ao ponto, mas nem sempre isso é possível sem arranhar a estrutura melódica da frase e o acontecimento real dos fatos. Falando em real, o Barry mencionou em sua mensagem a minha boa memória: ora, tem muitos detalhes de coisas que não lembro que simplesmente imagino que podem ter acontecido daquela forma e vou adicionando quando tem a ver, até mesmo para pontuar a estrutura harmônica ou florear a borda de um parágrafo.


Novamente, explicando a personagem do Barry: as alcunhas aqui mencionadas são apenasmente (Odorico Paraguaçu - sic) invencionices de minha imaginação fértil, mania curiosa que sempre tive de colocar apelido nas pessoas. Falei que o cara era meio neurótico né? Pois então. O Ligeirinho é guitarrista lá daquele passado distante, recorte temporal em que foi sumariamente apelidado de Berry, baseado no Chuck; porém, como ele era um solista ágil e veloz, o nome bem que poderia se remeter igualmente ao do super-herói velocista The Flash cuja identidade secreta era, Barry Allen. Assumida a alcunha e seguindo seu “modus operandi” todo pessoal Barry escolheu ser grafado com “A” ao invés de “E”. Lembrei desse detalhe quando fiz o texto, o que não lembrei foi a preferência da grafia e, como tinha cinqüenta por cento de chance de acertar, errei. Basta reparar que ele assina o seu comentário com um sonoro “A”...


Mais um mico para minha coleção, foi mal Ligeirinho...


Pode parecer bobagem retificar um detalhe besta desses num simples apelido, visto que o nome bacana de meu amigo nada tem a ver com as referidas alcunhas, mas vocês acreditariam se eu lhes contasse que ele, em determinada ocasião, ligou para a redação do Jornal A Gazeta e fez o editor corrigir de “E” para “A”? Eu tinha feito um release de nossa banda e enviado pro jornal, quando ele viu o texto ficou danado da vida e saiu atrás de acertar minha falha gravíssima, antes que saísse publicada para todo o Brasil. O engraçado foi a paciência do jornalista: “Mas meu filho, você tem certeza que isso vai fazer alguma diferença para alguém, aqui e agora ou em qualquer outro lugar e tempo do espaço infinito?” O guitarreiro (guitar hero?) respondeu aborrecido, brandindo um manual do tamanho da lista telefônica da cidade de São Paulo: “Vai fazer diferença sim, pode mudar!!!”


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

MEU AGRIDOCE ADEUS À JULIA ROBERTS


Não sei porque cargas d’água estava eu vendo um pedacinho do programa da Xuxa em que Luana Piovani era entrevistada, muito bonitona e cada vez mais com cara de mulher madura. Ficaram as duas (apresentadora e convidada) naquela tradicional rasgação de seda, daí um participante da platéia perguntou pra “atriz” se em alguma ocasião ela teria ficado nervosa na hora de contracenar com um grande ator. La Piovanesca vem então e me cita o cada vez mais canastrão José Wilker. Disse que na novela em que trabalharam juntos, fazia o papel de filha do cara e que havia um texto de várias páginas para decorar. Contou que Wilker sentou, leu o texto, foi lá e fez a cena...


Tem ator da Globo que pensa que é Jack Nicholson e que já está tão inserido naquele feijão com arroz que nem se dá mais ao trabalho de criar um papel. Por essas e por outras, entra novela sai novela, as atuações são quase sempre insossas e sem graça. Dessa turma são muito poucos os que se salvam. Vide, num exemplo contrário, o show que deu a atriz Dira Paes no papel de Norminha. No meio televisivo parece que a coisa vai ficando automática e a maioria responde com interpretações negligentes, somente quem é mesmo do ramo trabalha para construir uma persona e naturalmente se sobressai, “rouba a cena” como eles mesmos dizem.


A atuação amadoresca e decorativa de Luana Piovani no filme “A Mulher Invisível” é outro exemplo grosseiro. Já que o roteiro requeria uma loira gostosa que ficasse de lingerie erótica o filme inteiro, pra quê dar falas para ela também? É pedir demais né seu diretor? A “interpretação” de Luana é tão recitadinha que me lembrou os tempos de teatro amador no segundo grau, não faz uma pausa para respirar, o diálogo não tem vida, coisa mais sem graça para uma mulher linda como a Vênus de Boticelli. O que salva o filme - não inteiramente - é a interpretação de Selton Mello e o fato de Paulo Betti ter ficado quietinho na dele, sé é que vocês me entendem.



Durante a entrevista com a Xuxa, Luana contou de um mico em que estava desfilando com um cachorro e o bicho fez cocô na passarela, daí lembrei de minhas crises de riso, coisa também conhecida por aí como ataque de bobeira. Tive algumas muito chatas, como a que narro a seguir:


Num domingo eu estava voltando da praia e lavava a velha Brasília na garagem de casa, coisa que devo ter feito duas vezes a vida inteira, quando tocou o telefone avisando do falecimento de um amigo num daqueles acidentes de carro das madrugadas alcoólicas hoje tão combatidas. No dia seguinte foi o enterro e toda aquela comoção que marca o dramático desaparecimento das pessoas jovens.


Meu amigo Berry, o ligeirinho, estava de caso com o acaso em cartas de Tarot, mais precisamente com a irmã desse amigo nosso falecido e, logo depois do enterro, me chamou para dar uma passada no hospital e pagar uma visita pra moça que estava, obviamente, ferida e muito abalada. O sacana do Ligeirinho - ou Speedy Gonzáles se preferirem - era um dos caras mais certinhos e neuras que já conheci, levava a vida pelo manual, sabe como é? Eu sempre fui a esculhambação em pessoa e de vez em quando nossas criações muito diferentes faziam soltar faíscas estremecendo nossa amizade, mas o atrito é bom, do atrito vem o fogo, Nero queimou Roma e jogou a culpa nos cristãos...


Fazia um calor do cacete naquele final de manhã e Berry estava em jejum, eu sabia lá desses detalhes! Fumava um cigarro atrás do outro e parava pra tomar café em toda birosca que encontrava. Na hora que chegamos não conseguimos visitar a irmã de nosso amigo, para não perder a viagem fomos ver como estava a melhor amiga dela, uma linda menina que eu mesmo, com minhas doideiras capixabescas, tinha apelidado de Julia Roberts. No início da noite de sábado eu havia encontrado as duas amigas na Cachaçaria do Tremendão, arrumadíssimas para a tal da festa, o acidente aconteceu na volta. Foi um choque ver a moça ferida com hematomas no rosto e escoriações, um puta contraste com aquela noite em que estavam as duas lindas, alegres e exuberantes.


Nos colocamos ao lado de seu leito hospitalar, Julia Roberts parecia contente de nos ver e a fim de conversar, contou detalhes do que lembrava do acidente, falou da desorientação e do tempo levou para entender o que tinha acontecido. Estávamos os dois de pé ao seu lado, nesse meio tempo notei que Berry estava adernando que nem nau à deriva. Sem dar tempo de pensar, nem chance de reação, o cara afundou de cara na barriga da menina. Fiquei espantado e continuei sem ação, nos entreolhamos e ela falou: o que está acontecendo? Peguei meu amigo pelos cabelos e levantando sua cabeça falei: Berry, você pirou cara? Ele nem me respondeu, seus olhos estavam fora de órbita, virados lá pra trás, o Ligeirinho tinha sofrido um apagão!


Com dificuldade arrastei seu corpo mariamolente até uma poltroninha de visitas, Julia Roberts estava catatônica em cima da cama, a perna imobilizada por uma daquelas amarrações ortopédicas. Estávamos num hospital, mas o gênio aqui ao invés de pedir ajuda, disparou bofetadas na cara desmaiada do Ligeirinho: Plaft! Nesse meio tempo começou a juntar gente, a porta do quarto estava aberta, ou talvez a paciente tenha pedido socorro a alguém, não me lembro mais. Plaft!! O dia virou noite, o sol foi pro além, eu preciso de alguém! Plaft!!! O terceiro bofete finalmente fez efeito. Berry piscou os olhos e me fitou surpreso: Ué cara o quê foi que aconteceu?


Você desmaiou Berry! – Imediatamente me veio a crise de riso, do nada, inexplicável - e o que é pior - imparável (sic). Surgiram aquelas senhoras expeditas (íça!) oferecendo água gelada e suco de laranja. “Tadinho, ele desmaiou”. Tem horas em que esse tipo de solidariedade acaba soando mais como curiosidade mórbida e aumenta o embaraço. Era como se as pessoas esperassem alguma declaração bombástica que finalmente alterasse o tédio de suas existências, como se meu amigo dissesse dramaticamente olhando para as câmeras: estou grávido! Berry piscava os olhos entre surpreso e assustado, aquela auto-rebelião não estava no manual!


Eu seguia rindo que nem um doido, as gargalhadas jorravam estrepitosas, era preciso abandonar o local, antes que fosse mal interpretado, afinal, um grande amigo tinha morrido, as meninas estavam hospitalizadas, Berry tinha “passado mal” e eu estava rindo do quê porra?! Acenei um vergonhoso e risonho adeus à Julia Roberts e saí quase correndo pelo corredor, o Ligeirinho vinha logo atrás tentando me cobrir de porrada: para de rir porra! Para de rir seu mané!! - Não sei dizer o que me fez rir daquele jeito, foi só o “nervoso” me explicaram depois, ou talvez a cena do Ligeirinho caindo por cima da menina tenha me lembrado o filme “Corra que a Polícia vem aí”, sei lá. Foi uma armadilha de minha psique como diriam os “psis” ou simplesmente uma prova de que sou humano, e como estes: às vezes muito doido.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CORRESPONDÊNCIA ELEKTRÔNICA ZIG-ZAG


Estava procurando umas coisas aqui em casa e me deparei com um texto que fiz em 2003 para a jornalista Veruska Seibel - que na época assinava a coluna Zig-zag – puto da vida que fiquei com uma foto que ela tinha publicado afirmando que homem ligava pra moda, porque a sunga tradicional havia desaparecido nos últimos verões. Resolvi contar pra ela a historinha bacana que segue:


SERÁ A MODA UMA FORMA DE DITADURA?


Não foi com muita alegria que eu e meus colegas da época (a maioria tirados a surfistas) saudamos a chegada da sunga em nossas praias, falo - por quê qui-lo - das sungas anos oitenta e não daquelas geringonças de super-homem que usavam as pessoas mais velhas. Nosso descontentamento vinha - como acontece com adolescentes - carregado de preconceito, porque no início daquela década o Fernando Gabeira apareceu com a famigerada tanguinha considerada trés indecente e, guri, você sabe como é: cheio de paranóia, quer chamar atenção só que sem pagar mico. A maioria da galera compartilhava a opinião de que sunga era coisa de gay e ponto final, o mais indicado para a categoria era o então chamado “calção de surf”.


Foi só pro final dos anos oitenta que acabei aderindo à sunga, por sinal, graças a uma sacação meio sexual que tive. Estava em plena onda de saltar de para-quedas e naquele outono fazia um calor dos diabos. Em dias assim, a piscina do aeroclube da Barra do Jucu virava o “point” onde a galera se reunia. Nos dias de saltos e atividades da equipe rolava também muito churrasco e cerveja, dependendo do estado do motorista era bem mais perigoso voltar dirigindo pra casa (a terceira ponte ainda não havia sido inaugurada) do que efetivamente se jogar de cabeça de um teco-teco em movimento.


Em um desses dias carcomidos pelo tempo, enquanto rolava a maior atividade na piscina do aeroclube, eu estava de fora porque não tinha lembrado de levar o meu calção. Os amigos insistiam pra que eu participasse da bagunça de qualquer jeito.


- Pega um calção ahê emprestado com alguém! - Procurei, mas ninguém tinha. Até que um dos colegas, que estava com a perna engessada, falou:

- Cara, eu sempre trago minha sunga pra dar um mergulho, mas com a perna desse jeito não vai dar mesmo... Se você quiser usar...

- É muito pequena? – Perguntei desconfiado.

- Que nada... - Não pintou outra alternativa, fui no banheiro e vesti a sunga que acabou servindo; porém fiquei que nem menino arteiro depois de aprontar: todo escabreado. Fui chegando junto da galera me sentindo “à vontade” como se estivesse peladão de tudo. Sentei na borda da piscina, perto de uma garota que estava tomando sol estendida em uma canga. Fiquei batendo os pés na água até que falei.

- Cara, tô morrendo de vergonha com essa sunga. – Sem nem mudar a posição da cabeça ela falou.

- Eu achei que você ficou um gato. - Não bastasse o elogio disparado à queima roupa, percebi na fala dela uma onda sexy que nunca tinha me passado pela cabeça de mulher ter, ainda mais pra cima de mim e que reparar e desejar o corpo das pessoas não era bem uma exclusividade da homarada. Obviamente, daí pra frente adotei oficialmente a sunga como “roupa de praia”.


Deixando essas memórias bizarras de lado, vamos dar um salto até o momento em que pintou o tal do sungão.


Quando chegou dezembro de 2002, eu não agüentava mais a encheção de saco de minha mulher contra a minha velha e valente sunginha. Seus argumentos entravam por um ouvido e saíam pelo outro sem a mínima cerimônia. Só resolvi tomar uma atitude mesmo quando outras pessoas começaram a perguntar se aquela sunga não era a mesma de outros anos, etc... Eu, que nunca reparo neste tipo de coisa, achava muito ingênuo que ninguém reparava também. Como estava errado, dei a mão à palmatória e, por mais que a missão não me agradasse, fui às compras em busca de uma substituta à altura da minha velha sunguinha.


Procurando evitar a muvuca do Shopping Vitória, ainda mais em tempos desesperados e aflitos de final de ano, rodei o Centro da Praia, onde, aliás, tinha adquirido a tal da sunga. Fui, inclusive, na mesma loja e o que encontrei? Um tal de Sungão. Uma enorme e colorida coleção de sungas largas e esquisitas que estavam sendo lançadas com estardalhaço. Tomado pelo pânico falei pra vendedora.


- Não tem mais aquelas sungas normais? - Ela pareceu surpresa com minha pergunta, e com um certo ar professoral de indiferença respondeu:

- Não moço. A moda agora é este tipo de sunga. – Atordoado ainda respondi, que nem uma criança em frente a um prato de buchada.

- Mas eu não gosto desses sungão. – Desdenhosamente a moça me lançou uma maldição.

- É moço, você vai ter dificuldades neste verão.


Daí pra frente rodei mais umas dez lojas (boutiques?) atrás de uma sunga pelo menos semelhante à que eu estava acostumado a usar e nada. Só encontrava o diabo do sungão e explicações idem: - Agora a moda é essa. - Fiquei puto. Então é assim? Lançam uma nova moda e o resto que se dane? Aquilo era extremamente grave, quase a volta da ditadura. Já pensou se, por exemplo, aquela moda de homem usar saia tivesse pegado e, de repente, ninguém mais conseguisse comprar calças? O pior era a expressão incrédula estampada na face dos jovens vendedores das lojas que visitei, como se eles não conseguissem me classificar como incrivelmente antiquado, ou simplesmente gay. Não sabiam se o que eu queria era a tanguinha do Gabeira, ou o calção do super-homem. E eu não queria nenhuma das duas coisas.


Finalmente cansei. Já tinha rodado a rua Aleixo Neto toda e não estava mais com saco de procurar nada, estava resolvido a mandar todo mundo cuidar da vida e continuar usando minha boa e velha sunguinha. Foi só com muita insistência de minha mulher (que resolvera fiscalizar a minha “via crucis”) que entrei na última loja, já desenganado, pra fazer a derradeira tentativa. E não é que lá achei uma sunga que me atendeu? Não era tão legal como a outra, mas dava pro gasto. Acho que comprei aquela só pra acabar com o sofrimento, fui vencido pelo cansaço, o que é uma merda para um consumidor nada consumista.


Portanto e mais um pouco, cara jornalista, não se apresse tanto a alardear a volúpia do macho com relação à moda, porque, na verdade, quase todos os que conheço acham comprar roupa um saco! Deveria era se denunciar essa ditadura infeliz, que nos obriga a vestir o que dá na cabeça dos outros como se isso fosse uma coisa muito natural. Espero não ter tomado seu tempo tanto assim (se é que você leu até aqui este textículo), desculpe o desabafo. Quem sabe não nos vemos algum dia destes em Manguinhos? Mas, seguramente, sem sungão!


No dia 24 de fevereiro ela me respondeu com a mensagem acima agradecendo o email, disse que tinha morrido de rir com o texto e que meu comentário ia virar uma nota de resposta... Que eu saiba isso nunca aconteceu. Então para sanar essa injustiça publico aqui na Lektra para deleite de vocês que estão entediados em casa com tanta chuva nesse feriadão desinfeliz.


Beijo do coiso!