O chefe da
polícia
Pelo telefone
manda me avisar
Que com
alegria
Não se
questione para se brincar
Daí que hoje se
discute em Brasília o fim da assinatura de telefone. Realmente – ou “di fatis” como diria Muçum - uma das
inúmeras cobranças sem sentido que nos enfiam de goela abaixo desde o tempo em
que na saudosa e bucólica Vitória do Espírito Santo só havia a Telest e ter linha
de telefone era uma espécie de investimento. Reza a lenda que alguns teriam
enriquecido aplicando direitinho (dinheirinho?) na área como é o caso do
empresário Otinho. Causa então estranheza na pauta da Câmara existir para ser
votado um projeto que vai beneficiar o consumidor! Sabe por que isso aconteceu?
Por causa de um monte de gente reclamando insistentemente, como explica trecho
da reportagem abaixo do site: http://www.maisumonline.com.br
O fim da assinatura básica de
telefonia está na pauta do plenário da Câmara dos Deputados nesta primeira
semana de novembro. O Projeto de Lei 5476/01, do ex-deputado Marcelo Teixeira,
lidera o ranking de participação popular entre as propostas que os cidadãos
esperam ser votadas. No ano passado, foram 553.937 chamadas e 18 e-mails –
99,94% deles para pedir a aprovação da proposta –, o que representa 79,73% das
participações. O fim da assinatura básica de telefone lidera atendimentos pelo
10º ano seguido.
Existem ainda outros
projetos para acabar, por exemplo, com o “roaming” dos telefones celulares que
encarece “bagarai” as ligações interurbanas. Aliás, se as empresas de telefonia
celular não fossem tão teimosas em oferecer um serviço escandalosamente caro, a
telefonia fixa estaria com os dias contados. Então, A Letra Elektrônica que não
é mão boba nem nada resolveu dar um basta nessa putcharia e promoveu uma
enfezada disputa entre o “OI Fixo” (telefone aqui da redação desde os tempos da
Telest), a NET (que já nos conectava à Internet) e a GVT, empresa que vem
açambarcando o merrecado com propostas sedutoras, mas atendimento nem tanto.
Depois de uma
saraivada de telefonemas marcados por pedidos e explicações curiosos (senhor,
qual é o seu CPF? Senhor, isso é política da empresa) e diálogos cheios de
gerúndios, travados de maneira a nos despertar um mau humor inconsciente e,
portanto, muito estranho, cheguei à conclusão que as três principais empresas
locais praticavam, praticamente (a redundância é intencional), os mesmo preços.
Era uma porra de um oligopólio! (Cadê o delegado Fabirato Contarano?) Fiquei
bravo que nem quando preso em engarrafamento na Avenida Leitão da Silva por
causa das obras em Maruípe que não acabam nunca mais; mas também, fiquei um
pouco aliviado da sensação de estar pagando caro por um serviço ofertado pela
concorrência em melhores condições, então não fiz nada e segui a vida.
Uma semana e pouco
depois me liga o pessoal da NET, dando uma pernada na concorrência e oferecendo
um pacote bem mais em conta do que o inicialmente proposto. Apesar do cara
insistir em se dirigir à minha pessoa com aquele “senhor” de tom tão, sei lá, irritante,
caquético e hospitalar; vocês acreditam que eu fiquei meio besta por ter
conseguido impor alguma coisa do que queria em meio à selvageria explícita do
merrecado capitalista? Fiquei sim e fechei um acordo com eles todo prosa e
satisfeito: assinei Internet de 10 megas com modem WiFi, telefone com “negócio
de coisa” e carência de três meses na primeira conta. Exclamei uma exclamação
(de novo) como os jovens de hoje: Chupa
OI e GVT!
Bom, linha nova
instalada tinha que ligar pra OI pra cancelar a antiga. Mas, não é que me bateu
uma nostalgia? Lembrei de tanta coisa. Aquela linha era antiquíssima, e não sei
por que me bateu a lembrança do 145 ou 147 era o Fiat de caixinha, não lembro
mais. Foi, que eu me lembre, o primeiro “chat” de Vitória. Você ligava e caia
ao acaso numa conexão de cinco ou seis linhas diferentes com pessoas
conversando anonimamente. Durante um tempo aquilo foi uma febre! Eu detestava
falar ao telefone, até hoje não me gusta mutcho, como era bem adolescente
costuma ligar pra lá só para dizer todos os palavrões que conhecia e morria de
rir, achando que tinha aprontado uma grande traquinagem.
Como nós, as crianças,
estávamos muito curiosos e empolgados com a novidade, o alvoroço não passou
despercebido de mamãe: a conhecida jornalista Maria Nilce, figura pública das
mais badaladas. Um dia ela ligou sem dizer obviamente quem era e fez voz de mulher fatal - termo que ela
usava muito - e a homarada, vocês podem bem imaginar, se ouriçava nessas
ocasiões. Foi conversando – e eu ouvindo tudo na extensão – até que jogou o
próprio nome como assunto na conversa. Vaidade? Talvez; Curiosidade? Com
certeza. Algumas pessoas foram bastante agressivas e maledicentes com o tópico
sugerido, mas uma mulher passou a defender Maria Nilce como fora pelo menos
muito amiga da própria.
Depois de um tempo, a
tal mulher meio que ganhou a discussão, provando que Maria era uma mulher
“ducaralho” e rechaçando as críticas lugar comum que eram feitas pelos
“invejosos de plantão”. E eu me lembro como se fosse hoje a emoção na voz de
mamãe quando ela abriu o jogo para sua valente interlocutora, usando, aliás,
aquela mesma linha que passado uns trinta anos eu estava para cancelar:
- Fulana, eu sou Maria Nilce!
Maria Nilce pelo telefone |
Que saco é a memória!
Ora, não sou o Rubem Braga, que escrevia crônicas melhores do que merecemos ler
hoje, mas sou um dos bons amigos do sobrinho neto dele. Ainda assim, nada sei de
Cachoeiro e isso não tem nada a ver também com minha implicância com o Roberto
Carlos, nem com o tão infame calor que faz naquela cidade. Tinha é que cancelar
a linha e sabia que ia ser um “cú de boi”...
Fui atendido por um
rapaz que começou com aquela coisa de me chamar de “senhor”. Não que eu não
goste de ser tratado assim, o que irrita é a entonação que a pessoa usa. Parece
que dá a entender outra coisa, como aquela pessoa que te chama de “meu amigo”
quando vai te aprontar alguma sacanagem. Lembro que a primeira vez que me
irritei com o tom desse tratamento foi numa confusão em Manaus por causa de um
voo cancelado. A irritação das pessoas, sobretudo as mais jovens, quando não
conseguem resolver um problema que não tem solução - e eles estão ali
justamente para isso, são bucha de canhão - transforma o tal do “senhor” em
algo muito próximo do “ô seu filho de uma puta!”.
O cara da OI deve ter sido treinado em algum campo de concentração para convencer os trouxas (clientes?) a não
cancelarem o serviço e parecia ser uma pessoa muito
orgulhosa de seu poder de convencimento, porque foi se irritando à medida em
que não conseguia “virar o jogo” e, consequentemente, o
“senhor” que ele usava ia ficando mais e mais cerrado entre os dentes.
- Mas o “senhor” vai
cancelar e ficar sem linha de telefone?
- Eu não, já tô com outra
instalada aqui. Vocês é que vão ficar sem cliente. – Nessa hora o rapaz se
indignou todo e despejou um monte de “mimimis”, como se aquilo fosse uma discussão de
futebol, ou se a empresa fosse dele e eu estivesse chamando sua mãe de “boa senhoura”.
- Nós não
vamos ficar sem cliente e mimimi!
- Tudo bem meu filho, mas vocês vão ficar sem esse cliente aqui.
Olha só, eu não estou ligando pra discutir com você se eu vou cancelar a linha
ou não, certo? Estou solicitando o cancelamento e ponto.
- Senhor(grrrr), eu
estou seguindo o “protocolo da empresa”, posso continuar? – Aqui eu percebi que
o rapaz estava mesmo puto da vida. Ah! Se ele soubesse o quanto o seu destempero me
soou como uma retumbante vitória sobre as forças do passado e do capitalismo
telefônico (Eita!). Ganhei o dia, conquistei a telefonia e ainda
transformei minha vitória numa crônica que vai rodar os mares cibernéticos. Vai
fazer minha irmã se acabar de rir lá no Texas, o LP na Europa, o Muralha# em
Santos e até mamãe, que onde bem estiver, além de em nossa memória, me deixou o
DNA pra aprontar dessas traquinagens literárias... Bom domingo galera!
Juca e Maria Nilce Magalhães no início dos anos oitenta |