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sábado, 26 de abril de 2014

AGORA BRIGAR REJUVENESCE?



A violência é tão fascinante
E nossas vidas são tão normais (...)
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal, amar ao próximo é tão démodé.

Legião Urbana - Baader-Meinhof Blues

Um quebra pau de proporções grotescas chamou a atenção da mídia local nessa semana. Dois professores de uma academia de ginástica em Jardim da Penha partiram para o personal fighting no meio da rua. O indivíduo mais velho, um cara de 41 anos de idade, acabou esfaqueado e está em estado grave no hospital. Relatando o barraco, o jornalista de A Tribuna (pag. 20 em 25/04/2004), talvez na onda de sacar um sinônimo, comentou que “a família do jovem (o esfaqueado) está muito abalada”. Guarda isso...

Quando eu era pequeno, mamãe sempre dizia que brigar era uma coisa muito feia – porque criança adora brigar - embora ela mesma fosse uma pessoa adepta de monumentais confusões; de vez em quando a véia pegava o pau de macarrão e saía correndo pela rua atrás de alguém. Depois, quando cobrada da diferença entre palavras e atitudes, dizia soberana: “Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”. Aquela “geração Chacrinha” tinha dessas coisas.

Brigas e ódios mortais não são coisas bacanas, mas fazem a alegria da galera chegada num barraco e acidente de carro com vítimas fatais. A violência é tendência, é “up to date”, mas é também antiga como o tempo. Mesmo no livro sagrado dos cristãos tem várias histórias de guerra e assassinatos. O que seria da literatura, do cinema e tudo o mais se não fosse a luta de algo bom contra algo ruim? Eu particularmente nunca gostei de novela (exceto Estúpido Cuspido), nem curti ódiozinho mortal por alguém e olha que algumas pessoas gostam de mexer com quem tá quieto.

Lá na adolescência tinha um sujeito que me odiava apaixonadamente, não vou dizer que era um inimigo, eu nem sabia quem era o cara até descobrir de sua fixação em minha pessoa. Durante um tempo me perguntei o que deveria fazer, considerei até a hipótese de dar uns bofetes na anta pra não estimular a tara, mas fui dissuadido. Perigava o efeito ser contrário, aquela coisa do bate e apaixona. Por falar nisso, já tem gente maldosa especulando no Facebook que foi algo assim que aconteceu entre os dois marmanjos vacinados da academia Coisa Fitness.

Pois não é que outro dia numa festa encontrei a tal figura que não gostava de mim? E o infeliz, depois de uns trinta anos, não me olhou meio atravessado outra vez? Que perigo meus amigos... Eu já tinha entornado uns birináites e estava rolando roquenrou, situação que faz a gente esquecer as décadas. Porém, novamente, deixei pra lá, fiz que não era comigo. Agora, pensando melhor, talvez fosse uma boa ter partido pra cima (no mau sentido) do valentão. Quem sabe os jornais não se refeririam à minha vetusta pessoa como um jovem também?

sábado, 19 de abril de 2014

DESCOBERTA MENSAGEM SATÂNICA EM CONCURSO DE BANDAS!



A TV Gazeta, retransmissora da Rede Globo aqui no Espírito Santo, realizou um concurso musical intitulado Minha Banda que prometia “incendiar a cidade” e cuja (cuja?) “finalíssima” ocorreu na quarta passada. Duas bandas, uma de pagode, outra mezzo-axé mezzo-sertaneja e uma cantora de estilo semelhante a essa última disputavam o que os apresentadores do noticioso televisivo da hora do almoço chamavam de grande premiação. Era engraçado ver o repórter ostentar frente às câmeras um daqueles cheques cenográficos enormes no valor de apenas R$2.000,00!

Rapá, no preço que estão as coisas hoje, só para produzir aquele cheque já deve ter custado uns duzentos paus! Ora, o restaurante do Argentino do Uruguai que não gosta de ser chamado de Colombiano, tá mais caro do que eram faz pouco tempo os mais exorbitantes da categoria. Ou seja produção: a vida não tá fácil pra ninguém. O bom é que hoje é sábado, dia de ir comer no restaurante Verde Perene, um legítimo Chinês da Coréia, cuja (cuja?) comida Tailandesa é realmente imperdível...

O curioso é que muita gente esbravejou pelas redes sociais contra os escolhidos para a final, alguns pareciam entender que grupos de pagode e sertanejo não podem ser classificados como banda. É preciso considerar que muito antes da pélvis do Elvis, da Beatlemania e da volta do irmão do Henfil havia já porraqui bandas e fanfarras. Musicalmente falando o termo nunca foi exclusividade do Roquenrou. Ademais, é meio pequeno esse negócio de pensar que só o nosso estilo musical é bom. Todo mundo deve ter o direito de se expressar musical e culturalmente. Não gostou? Não ouve. É simples assim.

Como diz a Lei de Murphy, a Lei de Zeppelin e a Lei de Laura: tudo que é ruim sempre pode ser piorado. Terminada a competição de bandas, venceu a cantora. A Globo local resolveu seguir o padrão Rock in Rio, no qual se apresentam roqueiras como Ivete Sangalo e Claudia Leite... Por falar nisso: a vencedora, uma assistente social chamada Michele Freire, tinha voz grave muito parecida com a da Ivete e da Paula Fernandes. Em tempo: se as duas não se parecerem em nada me deem um desconto porque, como diria o Braga, eu escrevo de ouvido e adoro falar de coisas que não entendo.

Estava tudo (maaais ou meeeenos) certo até que o repórter passou às mãos da feliz vencedora o tal do cheque enorme de valor modesto e perguntou o que a moça ia fazer com toda aquela dinheirama. Suponhamos que a Michele seja uma garota honesta e tivesse intenção de dividir o "bicho" em partes iguais com os dois rapazes que a acompanhavam. O resultado formaria uma dizima periódica diabólica: R$666,66 para cada. É menos que um salário mínimo, mas menos mal, porque, imagina se ganhasse o grupo de pagode com seus mais de dez integrantes? Mal daria para pagar o almoço e as passagens de Transcol...

Será que essa foi mais uma mensagem subliminar diabólica que intencionava “incendiar a cidade”. Há suspeitas...

sábado, 12 de abril de 2014

MÍDIA FASCISTA E SENSACIONALISTA

Faz um tempo, nem sei quanto, assisti de passagem a uma discussão no ótimo Observatório da Imprensa comandado por Alberto Dines. O assunto era os programas televisivos de cunho supostamente jornalístico, mas que tratam descaradamente as notícias mais escabrosas como um show de variedades, tudo pontuado com críticas, comentários agressivos e frases de efeito. Apesar de soar francamente antiético do ponto de vista do jornalismo sério, os programas desse gênero conquistaram o público e alcançam grande audiência no horário do almoço e início da noite.

ESTILÃO DE PORRETE NA MÃO


A título de indignação e empatia com o sofrimento alheio, figuras histriônicas como o apresentador José Luiz Datena, cobram Leis mais rigorosas e punições exemplares à bandidagem. Aos berros reclamam de tudo, menos da polícia, geralmente retratada como mais uma vítima do sistema. A mais enfática campanha atual desse pretenso “defensor da justiça” e seus similares é a redução da maioridade penal, infelizmente, sempre calcado em achismos e preconceitos sociais, maneira no mínimo irresponsável de se abordar uma questão que merece ponderação profunda.

Antes do Datena conquistar seu espaçozinho na mídia nacional – ou paralelamente - outras figuras fizeram esse jogo sujo de encarnar um defensor dos “frascos e dos comprimidos”, quando na verdade buscavam apenas um pretexto para legitimar a exposição da frágil intimidade e a violência presente no cotidiano das pessoas simples. Se você pensou no Ratinho pode crer que está com a razão. Brandindo um indefectível porrete e dando uma de macho alfa, Carlos Roberto Massa fez fama e fortuna no SBT. O estilo tragicômico do programa fez sucesso e foi imitado Brasil afora, alternando pavorosos casos de incesto, estupro e homicídio com humor negro.    


AS PALAVRAS LEVAM À AÇÃO

Na esteira da popularização destes programas pipoca outro fenômeno que pode ou não ter a ver: o crescimento de linchamentos perpetrados por uma população cada vez mais convencida da incapacidade dos poderes constituídos cuidarem da segurança. Essa sensação de abandono à própria sorte é alimentada diariamente pelos bojudos apresentadores televisivos que vociferam refrões como “Não pode! Cadê a polícia?” ou então, um de seus prediletos, o sonoro “Cadeia neles!”. Sem falar das inúmeras vezes em que comemoram a prisão de um suposto estuprador, mencionando alegremente o seu provável e merecido destino como “noiva da cela”.

Paralelamente à banalização da violência, livremente divulgada por esses programas, os linchamentos começaram a pipocar pelo Brasil. No início da semana uma multidão no bairro Vista da Serra II (Serra ES), espancou até a morte um menino de 17 anos porque suspeitavam ser um estuprador. O apresentador de um infame produto local do gênero até mudou a direção de seu tradicional “Não pode!”, mas a mensagem implícita de seu discurso e de mais uma galera pelo país é sempre o mesmo “alguém tem que fazer alguma coisa”. O problema é a maneira como esse discurso é interpretado pelas populações desfavorecidas que diariamente os assistem eletrizadas.


CADA UM POR SI E DEUS CONTRA

O movimento por soluções violentas é comum também nas redes sociais vemos pessoas aparentemente responsáveis apoiando barbáries ou mesmo divulgando frases e ideais fascistas. Muita gente apóia, por exemplo, a, felizmente, improvável volta dos militares ao poder. Recentemente circulou bastante no Facebook a foto de um homem que teria sido violentado por mais de vinte na cadeia, era estuprador do próprio enteado de um ano e pouco. A “Lei do retorno” perpetrada pelo invasivo “código de ética” dos bandidos encarcerados foi relatada com requintes de crueldade e compartilhada por varias pessoas íntegras como fora a própria expressão da justiça.

Falando de jornalismo, o cerne da questão ética é a maneira francamente hipócrita com que esses apresentadores emulam difundir um clamor por justiça institucionalizada, promovendo a denúncia pública de um Estado falido e corrupto, mas na verdade incutem na população a sensação do “faça você mesmo”, ou como dito no filme Macunaíma: “agora é cada um por si e Deus contra”. É o momento em que são feitas concessões à uma suposta liberdade de expressão, entretanto, não se pode esquecer que o exercício público de divulgação de informações não pode abrir mão de uma responsabilidade que possuiu fingindo não saber que a tem.