No domingo passado terminou o 18° Festival de Inverno de Domingos Martins, ficaram boas historias e algumas constatações ponderadas. O fechamento do Hotel Imperador é praticamente um crime de lesa patrimônio turístico e cultural do Espírito Santo. O amigo Paulo Fonseca da empresa de turismo Etérea, disse de uma pesquisa onde a cidade de Domingos Martins é apontada como o destino número dois de turistas no Espírito Santo, perdendo só pra capital Vitória. Se fosse uma aposta eu teria marcado Guarapari e me cambado, como diria Tom Zé, aliás, mais Zé do que Tom.
Daí que o comércio local resolveu aproveitar para faturar de maneira canhestra. Tô eu vendo uma galera circulando com grandes taças de vinho pra lá e para cá. “Muito chique esse pessoal daqui hein?” Pensei com meus botones, mas no dia seguinte encontro o amigo Eustáquio Palhares que revelou a verdade: a taça era compulsória, a garrafa de vinho custava, vamos dizer uns vinte reais, mas só era vendida com a taça e esta custava mais sete. Por essas e por outras nossa equipe ficou local do boteco Galeto de Prata, um abraço pro Foguinho e pro Guimarães, vulgo Formiga.
Salvo raras exceções não rolou baixaria durante o festival, o que é certamente uma das explicações para a mídia não ter dado tanta importância ao evento. Uma das tais exceções veio inesperadamente do palco principal. Um senhor da prefeitura me contou constrangido que o cantor Emilio Santiago, soltou um tremendo palavrão durante sua apresentação: “Quando a gente ouviu naquelas caixonas de som - “Baralho! (pra não dizer outra coisa) O som tá muito alto!” - minha mulher quase caiu da cadeira... O cantor carioca parece que de suave tem só a voz, sua equipe deu um piti danado e acaba que sua participação foi das mais sem graça da programação.
Já Monarco mostrou porque é conhecido como a realeza do samba, seu show foi uma saraivada das mais lindas canções do gênero “de raiz”. Acompanhado por quatro senhorezinhos da famosa Velha Guarda da Portela, o show do sambista de 77 anos encantou a todos. No final não teria bis, mas acho que convencido por Edilson Barbosa, diretor da Fames, Monarco voltou e atacou seu samba "Coração em Desalinho" que é tema da novela Insensato Coração, não sem antes comentar satisfeito que cada vez que a música toca na Globo, bate um “cascalho” em sua conta.
Convencido a voltar, o difícil depois foi fazer Monarco parar outra vez. Um dos músicos que tocava sete cordas chamou discretamente um dos rapazes da produção e falou: “pede pra ele parar senão a gente não sai daqui hoje.” E lá foi o cara puxar, também discretamente, a barra da calça do velho sambista que já não sabe o que é freio de mão há muito tempo, enquanto isso algumas pessoas do público se indignavam ou achavam engraçado, pensando ser alguma espécie de gafe ou combinação.
A tônica do festival foram as apresentações de qualidade e as gratas surpresas como, por exemplo, o som da empresa Loudness que realizou prodígios. Por exemplo: a orquestra Capella Bydgostiensis (ê nome desgraçado) formada por músicos poloneses, sentou e tocou de pronto. Eu nunca vi nada parecido, eles nem sequer checaram a afinação no palco. Posicionaram-se e sentaram o dedo – sem querer desmerecer ninguém - enquanto grupos muito menores de instrumentistas levaram quase uma hora para ajustar o som... Rapaz e como os polacos tocaram! Me senti uma “vaca profana” cantada por um Caetano em ter que falar alguma coisa depois daquele concerto.
O quinteto Fabiano Mayer fez uma linda homenagem ao violonista Maurício de Oliveira que teria completado 86 anos no último dia 17 de julho, receberam no palco o Tião, filho de Maurício, que aproveitou para mostrar uma música chamada “Cadência” de Juventino Maciel que o maior músico do Espírito Santo, em seus últimos dias, sempre pedia para o filho tocar. Isso tudo aconteceu no sábado, sem dúvida o dia mais emocionante do Festival, embora, musicalmente falando, a disputa se torne difícil de comparar com a noite de abertura que teve nossa orquestra com Wagner Tiso, Leci Brandão e Amaro Lima.
Em 2012 tem mais Festival de Inverno de Domingos Martins, inclusive, o tema do ano que vem dá o que pensar aos mais musicalizados, afinal, homenagear-se-á (Íça!) o compositor francês Claude Debussy, conhecido como impressionista e o nosso “Rei do Baião” Luiz Gonzaga que dispensa apresentações. Em outubro teremos, organizado pelo Instituto Todos os Cantos e com cobertura da Letra Elektrônica, o II Festival de Coros Infantis da Serra com patrocínio da Lei Chico Prego e da empresa ArcelorMittal Tubarão. Maiores informações em breve, quem viver não se arrependerá por esperar.