Essa eu ouvi em Cuiabá: a amiga Valéria contou que um amigo ouviu duas mulheres conversando num ponto de ônibus do Rio de Janeiro. O tema era a complicada gramática portuguesa e a misteriosa diferença de significado das palavras “pobrema” e “problema”. Depois de bastante argumentar e levantar hipóteses chegaram à conclusão de que:
Problema: seria uma questão de caráter civil público, ou seja, não privado e comum a todos os cidadãos. Por exemplo: as enchentes e os deslizamentos de encostas são um problema, a violência urbana, o tráfico de drogas, o mau atendimento na saúde pública e por aí...
Pobrema: seriam questões de foro íntimo e particular, pendengas do dia a dia dentro do ambiente familiar: falta de grana, conflitos com a sogra, marido bebum contumaz, indiscrições verbais relativas à vida dos outros (fofocas), gravidez indesejada, avistamento de disco voador etc...
Valéria foi uma companhia de viagem e tanto. Descobrimos em Cuiabá um folclore muito rico e variado, é possível, por exemplo, fazer relações entre a maneira característica de se cantar o “rasqueado” com aquele jeito latino a La odalisca de Ney Matogrosso, cuja (cuja?) relação explícita com o sobrenome eu nunca havia feito.
Outra coisa típica do Mato Grosso são as danças do Cururú e do Siriri. A primeira tradicionalmente é exclusividade dos homens (embora a relação com os sapos não tenha sido aventada em nenhum momento), a segunda cabendo as mulheres valeu logo uma observação picante: se colocar mais um “ca” no final a ligação com o universo feminino fica totalmente explícita.
Em Cuiabá ainda pintou o Habel Santos, mestre da viola de cocho, instrumento típico da região como aqui é a casaca e a corrupção. Falando nisso, em quase todos os lugares que fui vi reco-recos com nomes diferentes, até agora me pergunto sobre essa falta de identidade para com um instrumento de percussão tão comum e sem graça: para mim o reco-reco é o chuchu da percussão.
Descobri um país muito parecido com o resto, só que com muitas frutas diferentes: pequi, buriti, açaí. Me perguntaram se vi muita pobreza lá pelo norte. Pelo contrário: vi carrões e gente com grana em colunas sociais com as mesmas expressões idiotas chiquérrimas e pessoas sorridentes que não faço a menor idéia de quem sejam aniversariando e viajando para a Europa...