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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DO NOVO DICIONÁRIO POPULAR BRASILEIRO: “É POBREMA OU PROBLEMA?”


Essa eu ouvi em Cuiabá: a amiga Valéria contou que um amigo ouviu duas mulheres conversando num ponto de ônibus do Rio de Janeiro. O tema era a complicada gramática portuguesa e a misteriosa diferença de significado das palavras “pobrema” e “problema”. Depois de bastante argumentar e levantar hipóteses chegaram à conclusão de que:

Problema: seria uma questão de caráter civil público, ou seja, não privado e comum a todos os cidadãos. Por exemplo: as enchentes e os deslizamentos de encostas são um problema, a violência urbana, o tráfico de drogas, o mau atendimento na saúde pública e por aí...

Pobrema: seriam questões de foro íntimo e particular, pendengas do dia a dia dentro do ambiente familiar: falta de grana, conflitos com a sogra, marido bebum contumaz, indiscrições verbais relativas à vida dos outros (fofocas), gravidez indesejada, avistamento de disco voador etc...

Valéria foi uma companhia de viagem e tanto. Descobrimos em Cuiabá um folclore muito rico e variado, é possível, por exemplo, fazer relações entre a maneira característica de se cantar o “rasqueado” com aquele jeito latino a La odalisca de Ney Matogrosso, cuja (cuja?) relação explícita com o sobrenome eu nunca havia feito.

Outra coisa típica do Mato Grosso são as danças do Cururú e do Siriri. A primeira tradicionalmente é exclusividade dos homens (embora a relação com os sapos não tenha sido aventada em nenhum momento), a segunda cabendo as mulheres valeu logo uma observação picante: se colocar mais um “ca” no final a ligação com o universo feminino fica totalmente explícita.  

Em Cuiabá ainda pintou o Habel Santos, mestre da viola de cocho, instrumento típico da região como aqui é a casaca e a corrupção. Falando nisso, em quase todos os lugares que fui vi reco-recos com nomes diferentes, até agora me pergunto sobre essa falta de identidade para com um instrumento de percussão tão comum e sem graça: para mim o reco-reco é o chuchu da percussão.

Descobri um país muito parecido com o resto, só que com muitas frutas diferentes: pequi, buriti, açaí. Me perguntaram se vi muita pobreza lá pelo norte. Pelo contrário: vi carrões e gente com grana em colunas sociais com as mesmas expressões idiotas chiquérrimas e pessoas sorridentes que não faço a menor idéia de quem sejam aniversariando e viajando para a Europa...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PERTINHO DO PORTÃO DO INFERNO


Duas cidades marcadas por uma pequena rivalidade já acolheram a parte inicial do projeto Música Barroca na Estrada, Campo Grande no Mato Grosso do Sul e Cuiabá no Mato Grosso do Norte. Nossa troupe desembarcou em Campo Grande em plena “Semana do Saco Cheio”, um grande feriadão que marca a fundação do Mato Grosso do Sul.

Campo Grande é plana, grande e muito marcada pela cultura pantaneira. É comum vermos pessoas usando chapéu de vaqueiro e casas que vendem artefatos rurais, tipo selas de cavalos e coisas do gênero. Contrasta com isso grandes automóveis importados circulando por toda parte em largas e planas avenidas. Antes de embarcarmos para o destino seguinte nosso apoio operacional local avisou: lá em Cuiabá é muito quente...

Quando dizem para você uma coisa assim, há que se dizer: bom, é quente e daí? Vitória também é quente, o Rio de Janeiro é quente... Amigo, Cuiabá é quente mesmo, mas bota quente nisso. É também muito maior e mais antiga do que eu imaginava. Recentemente eles venceram uma disputa com os vizinhos do sul e é evidente o orgulho da cidade em receber jogos da Copa do Mundo.

Muito evidente também em Cuiabá é a cultura regional pantaneira que envolve viola de cocho, rasqueado, siriri e mais uma pá de danças folclóricas muito bacanas e surpreendentemente próximas dos ritmos latinos. É muito evidente a influência regional na música, por exemplo, de Ney Matogrosso, coisa que eu nem suspeitava. Amanhã estamos combinados de nos encontrar com o Abel, o mais respeitado violeiro de cocho (nem sei se é assim que se fala) da região.

O calor das ruas é do tipo forno ligado, vem do asfalto e do cimento e sobe pelas pernas. Ar-condicionado aqui não é luxo de maneira nenhuma, é item de primeira necessidade. Esse calor parece se refletir no jeito das pessoas, todas muito receptivas e simpáticas, parecem amigos nossos de longa data. É impossível não fazer gozação do calor com a proximidade da Chapada dos Guimarães e o famoso Portão do Inferno, um canyon de mais de cinquenta metros de altura que fica no limite de Cuiabá.

Hoje saiu no jornal A Gazeta daqui - o mais lido, ligado à Rede Record – uma reportagem de página inteira muito elogiosa com relação ao projeto, deram muito destaque à iniciativa e à minha participação como palestrante. Espero, quando voltar ao Espírito Santo, e no mês que vem lançar o livro Sobre a Orquestra Filarmônica Capixaba, ter a oportunidade de compartilhar conhecimento e ver este encontrar a devida valorização como tem sido por todo o país.