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domingo, 21 de outubro de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: MARCELO RAUTA, UM TALENTO EM ASCENSÃO NA MÚSICA CLÁSSICA



“Trajetória de um músico que se destaca no cenário nacional provoca uma reflexão: quantos compositores e artistas extraordinários se perdem devido à falta de oportunidades?”

Texto publicado ontem (20 de outubro de 2012) no caderno Pensar de A Gazeta.

Por Juca Magalhães

No Rio de Janeiro existe uma Associação de Violões criada para promover o ensino do instrumento mais popular do país com projetos sociais, um programa na Radio MEC (Violões em Foco), saraus e que realiza anualmente desde 2003 uma seleção de “novos talentos” destacando um compositor brasileiro e oferecendo premiações em dinheiro aos três primeiros colocados. Nesta edição de 2012, cuja (cuja?) abertura aconteceu no último dia 20 de outubro, o homenageado é o capixaba Marcelo Rauta.

Graduado e mestre em composição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, premiado em concursos e autor de obras para várias formações da dita “música clássica”. No final de 2011, Marcelo Rauta lançou o disco Rerigtiba, uma amostra de suas peças, sobretudo, para violão. Teve, também nesse ano, o seu Salmo 100 incluído na turnê internacional do coral Canarinhos de Petrópolis que postou no Youtube um belo registro em vídeo apresentando a música de Rauta numa catedral em Bonn.

COMPOSITOR NO INTERIOR

Talvez mais incrível que o prolífero talento desse jovem capixaba ainda desconhecido de seus conterrâneos seja a história de sua vida. Longe de ser educado em um rico ambiente cultural que se imagina forjar os grandes compositores de música de concerto, o menino nasceu em Guarapari (05/03/1981) e logo foi morar na zona rural da cidade vizinha, Anchieta. Um município que em 2010 (segundo o site da Prefeitura) tinha pouco mais de vinte e três mil habitantes.

Após terminar a quarta série primária veio uma mudança importante, para prosseguir nos estudos o menino passou a morar com a mãe na sede do município. Marcelo tinha então em torno de dez anos. Um dia brincando na casa do colega Paulo Henrique Cunha Gonçalves viu lá um instrumento que despertou sua curiosidade...

- O que é isso?
– É um teclado... Serve para fazer música.
- Música? E o que é música?
- Ué, você nunca viu o Caçulinha tocando no Domingão do Faustão?

Criado na fazenda Dois Irmãos, sem energia elétrica muito menos televisão, Marcelo não conhecia nada daquilo. Seu amigo ligou o instrumento e tocou um trecho da nona sinfonia de Beethoven. Desnecessário dizer que o menino ficou maravilhado com a novidade e propôs um escambo: “eu te ensino matemática e você me ensina a mexer nesse negócio”. O engraçado é que o compositor confessa hoje não saber mais nada de matemática e o amigo trabalha como contador.

Logo Marcelo intercalava parte do dia na escola, corria em casa para almoçar e todo o resto do tempo ficava mexendo no teclado. A mãe de seu amiguinho era estudante do instrumento um pouco mais experiente e também compartilhou de boa vontade o que já havia aprendido, mas em pouco mais de um semestre a avidez musical do menino esgotou as possibilidades da escolinha improvisada. Naquele momento o destino se intrometeu na história, como nos conta o próprio compositor:

“Eis que surge em Anchieta um projeto que a prefeitura estava implantando. ‘Música para a comunidade’. Aí, foi daqui de Vitória a professora Ângela de Souza Cruz, minha primeira professora de piano. Ela viu que eu tinha talento, começou a me dar aulas e me preparou, inclusive, para a prova da Fames que na época era ainda chamada Escola de Música. Foi onde eu estudei o terceiro básico e dali já pulei para o curso superior.”

MÚSICA, NEM PENSAR!

É preciso explicar que, a princípio, o interesse incomum de Marcelo pela música foi ignorado por seus familiares: não incentivaram, não investiram, mas tampouco proibiram. Só na hora de escolher um curso superior é que todo mundo resolveu opinar. Uns diziam que devia estudar medicina, outros achavam direito melhor: mas música? Nem pensar! Música era coisa de vagabundo, ia acabar desempregado e morrer de fome. O pior é que nem se pode acusar seus parentes de ignorância, o preconceito com o “mundo das artes” persiste em todas as camadas sociais.

Junto com o estudo de música Marcelo começou a compor música de concerto, era como se uma coisa estivesse diretamente ligada à outra, o que geralmente não é tão simples. Mesmo sem noção das regras básicas de composição (forma, harmonia, contraponto, orquestração etc) o jovem criava partituras e as submetia à opinião de músicos mais experientes como os maestros Helder Trefzger e Leonardo Davi que reconheceram seu talento e o aconselharam a estudar no Rio de Janeiro, porque no Espírito Santo ainda não havia curso superior de composição (Só neste ano de 2012 a UFES deu início ao bacharelado na área).

Como imaginar aquele rapaz tímido que mal conhecia Vitória se mudando para o Rio de Janeiro? Para começar havia a dificuldade financeira - na primeira vez que tentou estudar na Fames, foi preciso abandonar o curso após três meses por não poder pagar as passagens – depois havia um concorrido vestibular para entrar na UFRJ. A princípio Marcelo fez o esperado, concluiu o “segundo grau” e resignadamente começou a cursar ciências contábeis em Guarapari. Três períodos depois não aguentava mais. Resolveu arriscar o futuro no Rio, cidade que até então nem conhecia, e foi aprovado em segundo lugar no curso de composição dando início aos estudos em 2003.

Para poder se virar na “Cidade Maravilhosa” o jovem compositor fez entrevista com a assistente social da Universidade e conseguiu provar ser merecedor da chamada “bolsa auxílio” no valor de apenas trezentos reais para custear todas as suas despesas: aluguel, alimentação, tudo. Sua família ficou chocada do rapaz se aventurar numa cidade tão perigosa onde não conhecia ninguém. Marcelo conta que também ficou com medo, mas logo se acostumou. Achou o carioca receptivo, os professores notaram seu talento e lhe deram atenção, no segundo ano conseguiu outra bolsa, a coisa foi melhorando e entre o curso de graduação e o mestrado passaram sete anos.

UMA INEVITÁVEL REFLEXÃO


A partir de certo momento de sua vida acadêmica o capixaba começou a colecionar premiações importantes, como consta no site da Academia Brasileira de Música: “Venceu o ‘Concurso Nacional de Composição para Orquestra de Câmara – Prêmio Sesiminas de Cultura’. Premiado no ‘Concurso Quintanares de Quintana’ em comemoração aos 100 anos de nascimento do poeta Mário Quintana, com sua obra para soprano e piano Ah! Os Relógios – obra lançada em livro e CD pela UFRJ. Venceu o ‘Concurso de Composição Niemeyer – 100 anos’, com sua obra Trio nº3-Igreja de São Francisco – obra lançada em livro e DVD pela UFRJ. Venceu o ‘II Concurso de Composição Claudio Santoro para Jovens Compositores’ com sua obra Psalmus 67”.

Logo após defender sua dissertação de mestrado em 2010, Marcelo ficou sabendo que haveria seleção para professor substituto dos cursos de bacharelado e licenciatura na Faculdade de Música do Espírito Santo. Veio, fez a prova e, como costuma ser, passou. Voltou para ficar perto da família e, numa inesperada inversão de valores, por questões financeiras. “A concorrência no Rio é grande, a remuneração de professor ficou mais interessante aqui no Espírito Santo”. Bom para os alunos capixabas que podem aprender um pouco da arte musical com esse gênio de trajetória insólita na qual se revela um misto de predestinação com muita determinação e coragem.

A história de Marcelo Rauta nos ensina muita coisa e provoca uma inevitável reflexão: quantos outros potenciais compositores e artistas extraordinários estiveram e ainda estão relegados à própria sorte neste país de tantas e tão grandes desigualdades? Quantos estão sem acesso à educação, sem força psicológica para romper as barreiras do preconceito contra sua arte ou encarar as dificuldades financeiras e conquistar sua independência vivenciando plenamente seu talento e criatividade? Quanto será que perdemos enquanto cultura com tudo isso?

No final deste ano a Faculdade de Música do Espírito Santo - Fames vai publicar em livro a pesquisa de mestrado de Marcelo Rauta que tem o título: “Reminiscências do Choro N° 10 de Heitor Villa-Lobos na Sinfonietta N° 4 de Marcelo Rauta: um estudo comparativo.” Não por acaso as obras em questão são de compositores nascidos no mesmo dia 5 de março, até aonde vão essas coincidências é difícil precisar. Tudo que sabemos é que Marcelo Rauta é um nome que evoca uma missão para a sociedade civil organizada: criarmos meios – que hoje não existem - de fomentar talentos como o dele e os ajudar a se desenvolver e frutificar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

RAPIDINHAS DO FESTIVAL DE INVERNO 2012

Esta décima nona edição do Festival de Inverno de Domingos Martins levou o conceito de "choque cultural" ao extremo. O exemplo mais explícito aconteceu no início da noite de domingo quando rolou um encontro de violeiros com o som mais raiz que o sertanejao já concebeu e na sequencia entrou uma orquestra de cordas polonesa tocando Mozart, Respighi e o melhor do repertório clássico. Taí um clique da Orquestra Capela Bydgostiensis que é regida pelo brasileiro José Maria Florêncio. 


O Capela tinha já se apresentado no Festival do ano passado e enquanto eu conversava com o regente comentei da peça Orawa do compositor Wojcieck Kliar que eu tinha gostado muito. Daí ele disse que ia apresentar a peça outra vez porque era a mais moderna do repertório e sabia que o público não ia lembrar. Só que na hora da apresentação Florêncio explicou que o grupo ia reprisar a peça a pedido de uma pessoa do lugar, pensando que eu fosse local. Bom, certamente estávamos distante demais da Polônia...

Um dos momentos mais tocantes - em vários sentidos - do Festival de Inverno de Domingos Martins foi o da apresentação da Fames Jazz Band. As participações especiais de Antonio Paulo Filho e de Dalila Gusmão foram de dar um nó na garganta. O Toninho, como é conhecido o maestro, se fora nascido do lado de cima (levando-se em conta o mapa mundi tradicional) seria reconhecidamente uma lenda do jazz. Na foto vemos Dalila, nervosa com a estréia, assumindo os teclados da Jazz Band. Para quem não está entendo, a moça é deficiente visual e figura queridíssima na Faculdade de Música. Pura emoção!


Os pequeninos integrantes da Orquestra Jovem do Festival de Inverno encantaram o público. A coordenadora da oficina de prática de orquestra, Mozineide Schultz, estava impressionada com a seriedade e o profissionalismo dos meninos e meninas. Na foto tem a Manu, a menorzinha, esperando a hora de entrar em ação sob regência do professor e maestro Ademar Rocha. 


A penúltima atração do Festival de Inverno de Domingos Martins foi a dupla sertaneja Edson Mineiro e Goiano - que curiosamente é de Vila Velha - e o líder da banda tem aquele jeitão despachado e brincalhão das pessoas do interior. Como o público demorou um pouco pra se achegar do palco ele disparou o comentário: "Vem pra cá minha gente, num deixa nóis passá vergonha sozinho não!"

No detalhe: Edson chamando "meu povo e minha pova" pra dançar
 
Uma das participações mais surpreendentes e bonitas do Festival de Inverno de Domingos Martins foi de Jamie Machler (informação de Edilson Barboza diretor da Fames), uma norte americana de Seatle muito tímida que veio às terras tropico-capixabas para participar da oficina de sanfona e concertina - que aconteceu em Melgaço - e cantou uma canção de Luiz Gonzaga com um sotaque delicioso, mesmo porque a moça não entendia uma vírgula de nosso idioma.  


Edilson disse que a moça chorou copiosamente na hora de voltar pra gringolândia, talvez porque tenha descoberto o sentido da máxima proferida pelo saudoso Tom Jobim:

"Viver nos EUA é maravilhoso, mas é uma merda; viver no Brasil é uma merda, mas é maravilhoso!"



CURIOSIDADE INÚTIL: Chamava atenção em Domingos Martins o triciclo "Ghost Ride" (SIC), como diria meu amigo Paulo Sardenberg, mais enfeitado que sela de burro de cigano... 



O pessoal do mega famoso grupo Falamansa quando chegou ao Festival viu o grande painel com Luiz Gonzaga no palco e se intrigou com a outra figura, queriam saber quem era. Veio então um rapaz da produção descobrir e me pediram para explicar que aquele era Claude Debussy, compositor francês, o cara do impressionismo etc. Enquanto o salameléktrico rapaz agradecia, eu, que ia apresentar o show, aproveitei pra também tirar as minhas dúvidas: agora me fala um pouquinho quem é o Falamansa porque eu também não sei... 

O maestro Helder Trefzger conversando com o público durante a linda apresentação da Orquestra Camerata SESI, atrás vemos o painel que intrigou o Falamansa... Falassério...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

RAPIDINHAS CULTURAIS ERUDITAS

Mandando duas repostagens (reportagens?) rapidinhas culturais. São apresentações muito bacanas que acontecerão amanhã (31 de maio) no apagar das luzes do mês das noivas, mas deste susto eu não morro. Destaco especialmente o Concerto em Sol de Ravel para Piano e Orquestra, uma obra que é linda do início ao fim, mas o segundo movimento ... Bom, simplesmente imperdível. Seguem as repostagens, não percam!

Ofes apresenta "Choros 10" de Villa-Lobos da Série Sinfônica

A Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes), sob a regência do maestro convidado, Roberto Duarte, realizará na quinta-feira (31), o terceiro concerto da Série Concertos Sinfônicos, da Temporada 2012. A apresentação será realizada no Theatro Carlos Gomes, em Vitória, às 20 horas. Os ingressos custam R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia) e podem ser adquiridos a partir das 14horas do dia 25 de maio, na bilheteria do Teatro (3132-8396).

O repertório será composto por obras dos compositores franceses Debussy e Ravel e do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, três nomes de peso da música clássica do Século XX. Destaque para aprimeira apresentação pela Ofes da obra Choros 10, de Villa-Lobos.  Esta composição é de 1926 etraz elementos de percussão brasileiros que conferem à obra, essencialmente modernista,cadências semelhantes às do baião e do samba. É uma das obras de Villa Lobos mais reconhecidas eaplaudidas no mundo inteiro.

Além da Ofes, participarão dessa apresentação o Coro Sinfônico da Faculdade de Música do EspíritoSanto (Fames) e o Coral do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES ).

Para apresentar o concerto em Sol, de Ravel, foi convidado o pianista francês Hugues Leclère. Nascido na França em 1968, Hugues Leclère se aperfeiçoou sob a orientação de Catherine Collard antes de entrar para o renomado Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, onde maistarde obteve três primeiros prêmios, em piano, análise musical e música de câmera.

Paralelamente à sua carreira de concertista, Hugues Leclère atua como diretor do FestivalInternacional Nancyphonies e como professor de piano no Conservatório Real de Bruxelas.

Destaque ainda para o maestro convidado, Roberto Duarte. Natural do Rio de Janeiro, Duartedesenvolve suas atividades como regente no Brasil, Europa e Estados Unidos. Seu interesse pela música brasileira o coloca em posição de destaque no cenário musical, com a apresentação de maisde uma centena de obras em primeira audição mundial e a revisão das obras para orquestra de Villa-Lobos. Teve o privilégio de ter sido discípulo e assistente de dois dos maiores mestres brasileiros: Francisco Mignone e Eleazar de Carvalho. Mais tarde aperfeiçoou-se, ainda, na Itália e na Alemanha.

É membro, entre outras, da Academia Brasileira de Música. Em novembro de 1996 recebeu doGoverno Brasileiro, através da Funarte, o mais alto prêmio da Música no Brasil: o Prêmio Nacional da Música, como regente. Foi Em 2001 recebeu o Prêmio Carlos Gomes por sua atuação no campo daópera, como regente e revisor. Em Paris, em abril de 2002, participou como membro do comitê dehonra e palestrante no I Congresso Internacional Villa-Lobos.

Roberto Duarte foi Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981-1994), da Orquestra Sinfônica do Paraná (1998-1999) da Orquestra Unisinos, no Rio Grande do Sul (2003-2005).

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Na próxima quinta feira, dia 31 de maio às 19:30h a Cia Capixaba de Ópera e Musicais estará apresentando mais um concerto da série " Concertos na Vila". O evento, de arte integrada, apresenta ao grande público, além de obras dos grandes compositores eruditos e sacros, peças dos mais belos musicais da Broadway.

A participação especial do mês de maio é do coral Arcelormittal Tubarão, e os artistas convidados são Ingrid Mendonça, que relançará seu livro " Além do Gesto", o poeta Marcos de Castro e a artista plástica Erminda Breda com sua exposição  "Ludicidades".
O grupo de teatro Geta e o Ballet Ludmila Machado completam o quadro de atrações dessa edição.
Os cantores do elenco  são Patrick du Val, Cláudio Modesto, Elaine Rowena, Symara Feitosa, Marcos Rosa, Marcos Antônio Cypreste e Julimar Amorim e os bailarinos Rebeca Freitas, Thaís Salomão, Lara Cremasco, Bruno Correa e Julia Mariano. O piano é de Angela Volpato, o violino de  Evandro Marendaz, as coreografias de Lígia Araújo, a apresentação de Maryza Barbosa, a direção musical de Cláudio Modesto e a direção geral de Elaine Rowena.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

MORRE UMA DAS PIONEIRAS DA MÚSICA CLÁSSICA NO ESPÍRITO SANTO


Soube agora do falecimento, aos 95 anos, da pianista Edith Bulhões, militante antiga da música de concerto no Espírito Santo. Quando pesquisei a história da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, encontrei o programa de um recital de Dona Edith em Buenos Aires, certamente o auge de sua carreira como concertista internacional.

 
Durante a pesquisa descobri também que Edith estava envolvida numa questão relativa ao nome da Orquestra dos Capixabas criando uma situação que permanece até os dias atuais. Tudo bem que talvez fique até estranho o grupo mudar outra vez de nome agora, quase vinte anos depois, mas leiam a seguir um trecho do livro Da Capo – De Volta às Origens Da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, para entender melhor a questão:

            Com a aprovação do quadro complementar de cargos e salários em 1986, a Orquestra que já fora de Câmara, Clássica e Filarmônica mudou de nome pela quarta vez e passou a ser definitivamente intitulada “Sinfônica”. Definitivamente? Essa era, na verdade, a denominação adequada para o grupo, porque, nem todo mundo sabe, mas o que distingue uma Sinfônica de uma Filarmônica não é o número de seus integrantes, nem o repertório que executa e sim a sua condição formal. As Sinfônicas são órgãos governamentais custeados pelo Estado (leia-se pelo povo). As Filarmônicas, o nome já diz, são em tese (porque a OFES tem o nome de Filarmônica e não se encaixa na descrição) sustentadas por doações filantrópicas, por “amigos da música”. A denominação não significa que uma Orquestra esteja em um patamar inferior com relação à outra, as Filarmônicas são órgãos privados, muitas vezes de um poderio enorme. Talvez a mais rica, tradicional e respeitada Orquestra do mundo seja a Filarmônica de Berlin.
            Mas então porque a OFES é Filarmônica e não Sinfônica se o grupo sempre teve gestão e custeio do Governo do Espírito Santo? A explicação é meio torta: muito antes da criação da OFES (na década de sessenta!) uma pianista e promotora cultural chamada Edith Bulhões fundou e registrou em seu nome uma “Orquestra Sinfônica do Espírito Santo”. Embora quase ninguém mais se recorde, Dona Edith chegou a realizar apresentações com o grupo, como atesta uma reportagem do jornal A Tribuna de 04 de setembro de 1975, cuja manchete, que por sinal destilava uma certa ironia, era: Nós temos uma “Sinfônica”. Alguém sabia? Mais abaixo vinha a explicação:

            “Quando a Orquestra Sinfônica Brasileira esteve em Vitória, apresentando o Projeto Aquarius, o maestro Isaac Karabchevsky fez um apelo ao Governador Élcio Álvares para que fosse criada uma Orquestra semelhante no Espírito santo. Depois do espetáculo de encerramento da Semana do Exército, Edith Bulhões, diretora da Sociedade Cultural Artística de Vitória, foi conversar com o maestro, explicando-lhe que já existia a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, mas que, por falta de verbas e de músicos ela tinha feito apenas uma apresentação, no dia 25 de setembro de 1971, como um conjunto de Câmara. Ninguém até então tinha conhecimento da Orquestra, nem mesmo a Fundação Cultural do Espírito Santo. A Orquestra Sinfônica do Espírito Santo foi registrada no Ministério de Educação e Cultura em 1964 e pelo Governo do estado. Até hoje, ela existia realmente apenas no papel, lavrado pelo órgão educacional e mantida aos solavancos por esmolas dadas por autoridades e congressistas, depois de pedidos insistentes da diretoria da SCAV.

            Publicado no jornal A Tribuna em 04 de setembro de 1975.

            Como a própria Edith Bulhões explica na reportagem acima, sua Orquestra nunca chegou a “decolar” de verdade. Portanto não vamos aqui entrar nos méritos que levaram esta mesma senhora - depois de seis anos de existência da OSES - a reivindicar em 1992 os direitos sobre o uso do nome da Sinfônica do Estado. Foi uma atitude polêmica que gerou um processo há muito engavetado no arquivo da Secretaria de Estado da Cultura. Segundo depoimento do maestro Helder Trefzger, a discussão não foi em frente para evitar uma celeuma desgastante com uma pessoa pública de méritos inegáveis para a cultura local. Foi decidido que a Orquestra simplesmente voltaria a ser denominada Filarmônica, embora não muito corretamente, e seguiu-se em frente o curso da história. 

quarta-feira, 28 de março de 2012

ABERTURA DA TEMPORADA 2012 DA OFES TEM CONCERTO DE ARREPIAR

Amanhã a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo abre a temporada 2012. Elogiada pela Revista Concerto a tradicional temporada da OFES completa 35 anos de militância musical entre os filhos do Espírito Santo. Quem também comemora 20 anos à frente do grupo é o maestro Helder Trefzger. Após a saída abrupta de Leonardo Bruno em 1991, o sul matogrossense, então radicado em Belo Horizonte, começou a colaborar inicialmente como convidado ao longo de 1992, sendo nomeado regente titular no ano seguinte.

A OFES sob comando de Mario Cezar Candiani, por volta de 1985

O Concerto de Abertura da Temporada 2012 terá regência de Leonardo Davi, maestro adjunto da OFES e titular da Camerata Sesi. Leonardo é o primeiro regente nascido em terras capixabas a comandar nossa orquestra - não que seja uma obrigatoriedade, aliás, isso quase nunca acontece - é só pra ressaltar que o concerto vai contar com talentos musicais nascidos e desenvolvidos nessa terra notoriamente ingrata para os artistas e que aqueles que chegam lá são desbravadores e além do talento acima da média, possuem ainda um bocado de determinação.

É o caso do solista da noite Aleyson Escopel, um concertista que está brilhando em palcos internacionais e que há pouco tempo assistia concertos junto com a gente na platéia do Carlos Gomes – era conhecido (talvez aluno, não lembro) de meu professor Josué Louzada -. Aleyson estudou com mestres como Miguel Proença e Celia Ottoni, a grande dama do piano capixaba nas últimas décadas. E nessa noite vai encarar o terceiro concerto para piano e orquestra de Prokoffiev, considerado um Everest do repertório pianístico. Simplesmente imperdível.

ORQUESTRA FILARMÔNICA DO ESPÍRITO SANTO
CONCERTO DE ABERTURA DA TEMPORADA 2012
SOLISTA ALEYSON ESCOPEL
Dia: 29/03/2012. Oito da noite
Theatro Carlos Gomes
Praça Costa Pereira – Centro - Vitória-ES

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

LIVRO DA CAPO É DESTAQUE NA MÍDIA NACIONAL

Quem diria que seria na música de concerto que o Espírito Santo iria ganhar a mídia nacional? A última edição da tradicional revista Concerto traz uma retrospectiva dos principais acontecimentos na música clássica no Brasil e também a opinião de várias personalidades do meio musical como o compositor Marlos Nobre, o hoje regente João Carlos Martins, o pianista Ricardo Castro e, entre estes e muitos outros, o maestro titular da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, Helder Trefzger.

Helder destaca a garra e a dedicação com que foi encarado o projeto da Orquestra em 2011, uma temporada considerada surpreendente na mídia nacional. Fala também do Festival de Domingos Martins, da Camerata do Sesi que tem o maestro Leonardo Davi na competente realização de uma temporada de concertos e da Série de Concertos Internacionais capitaneada por Gracinha Neves, trazendo ao estado uma série de importantes grupos musicais da Europa.

2011 marcou também o ressurgimento do livro Da Capo de Juca Magalhães, originalmente publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, um breve apanhado sobre a criação da Orquestra dos capixabas que durante muito tempo foi a única fonte de pesquisa sobre a história do grupo. O novo livro surgiu com uma pesquisa bem mais abrangente, dando conta de detalhes não abordados na primeira versão e que vem sendo elogiada fora do Espírito Santo, vide reportagem abaixo. 

A edição da revista Concerto de janeiro/fevereiro de 2012 traz em sua seção de livros três resenhas sobre os lançamentos mais relevantes do período, dentre estes está o Da Capo - de volta às origens da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo. Destaca a pesquisa bem elaborada e a importância da batalha no país pela criação e manutenção das orquestras sinfônicas. É uma luta comum a várias regiões do Brasil, terra de samba e futebol, portanto a nossa história acaba ganhando uma dimensão de universalidade que o próprio capixaba ainda não foi capaz de reconhecer.



O livro Da Capo tem sido vendido no hall de entrada do Theatro Carlos Gomes durante as apresentações da Filarmônica ou no Teatro do Sesi nas apresentações de sua camerata, mas pode ser adquirido junto ao autor ao preço de R$35,00 através do email djmagalhaes@hotmail.com. Está a venda também no site da revista Concerto (o link está na barra ao lado) e em sua loja "Clássicos" que fica no anexo da Sala São Paulo.