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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

FÚRIA RACIONAL - PARTE I



Na crônica passada andei falando (escrevendo?) de filmes que gostei recentemente, dois deles guardaram uma mórbida semelhança que anda rodopiando minha cabeça. Com nove indicações ao Oscar 2014, a história contada em “12 anos de escravidão” é bastante contundente: diferente de outras histórias românticas como “Escrava Isaura” esta deixa bem claro que os senhores de escravos e as pessoas à sua volta realmente pensavam não estar lidando com seres humanos. Agiam como se os negros fossem mais um cavalo, um touro ou outro grande animal da fazenda. Aliás, muito provavelmente, tratavam seus cavalos com mais respeito e consideração.

 
Não me lembro antes de ter sido mostrado de forma tão clara o escandaloso desprezo de pessoas teoricamente “cultas” para com o sofrimento humano, simplesmente porque tinham o apoio da Lei e dos costumes para assim não o considerar. Não era uma questão de preconceito com o diferente, mas de enxergar o outro realmente como uma ordem de existência diversa. Que diabos passava na cabeça daquelas pessoas? E o pior é pensar que isso nem faz tanto tempo, lembro que por volta dos anos 1970 o racismo era ainda bastante comum e tolerado.

Embutido nisso tudo tem uma questão muito séria com relação aos animais que, afinal, também não podem ser explorados ou maltratados ao bel-prazer de ninguém, embora isso tenha sido muito comum em outras épocas e, infelizmente, ainda é hoje.

 
O filme “Fúria Animal” (Blackfish) mostra de forma dramática a situação das “Orcas Assassinas” mantidas em cativeiro nos parques do SeaWorld. Aparentemente pouca gente considera absurda a escravidão daqueles gigantescos animais marinhos, apesar de reconhecerem aqueles mamíferos como seres “bastante inteligentes”, multidões lotam os “espetáculos” dos grandes aquários. Já faz tempo que entidades questionam os maus tratos contra animais, os de circo especialmente. Porém, como era o caso dos escravos, não é comum pensar que estes merecem a mesma consideração emprestada aos humanos. Só para dar um exemplo, inúmeros bichos são sacrificados diariamente em escala industrial para alimentar homens e mulheres adultos, velhos e crianças.
 


Portanto, apesar de histórias tão diversas, de forma semelhante, a questão se resume em haver ou não direito ao lucro através da exploração da vida: seja de pessoas ou animais. A alguém sempre cabe realizar o serviço sujo da sociedade e o comércio de escravos já foi uma atividade legal e respeitável, como ainda é hoje matar (inclusive por diversão), vender ou manter animais em cativeiro. Faz pouco tempo vi no Facebook a foto de um amigo orgulhoso e agradecido a Deus por ter matado um bicho. Não se tratava de um ato corajoso de autodefesa contra uma jararaca na floresta, uma onça faminta ou um tigre fugido do zoológico... Era só uma história de pescaria. Pois (ora pois pois) a bravata foi “curtida” por quase uma centena de pessoas. 


sábado, 1 de fevereiro de 2014

O MELHOR DO OSCAR 2014 (E FORA DELE TAMBÉM)




Começou a temporada do Oscar, muita gente não sabe, mas é uma hora em que a galera da pirataria “deita o cabelo” (nunca consegui entender o que essa expressão quer dizer), porque imediatamente começam a vazar os Dvdscr, as famosas cópias promocionais da indústria do cinema. Em muitos destes aparecem aquelas tarjas “for your consideration”, mas preservam a mesma qualidade de um dvd.

Hoje é possível baixar pela internet mais filmes do que um adulto responsável, empregado e com residência fixa é capaz de assistir. Ainda assim, confesso que emprestei meu tempo à apreciação de seis dos nove indicados ao Oscar 2014 de melhor filme. Deveria ter visto sete, mas reconheço publicamente que comecei a ver o “Ela” no domingo, depois de uma moqueca de banana da terra, algumas "Braminhas" além do programado e, enfim, acabei dormindo.

Vamos aos comentários sobre alguns concorrentes:

      Trapaça

É do mesmo diretor de O Lado Bom da Vida (David O. Russel), filme que causou no Oscar do ano passado, mas a história desta vez não empolga tanto. A atuação de Christian Bale é um espetáculo à parte, não sei se vai valer o Oscar de melhor ator porque a briga está feia esse ano. Minha aposta vai para Matthew MacConaughey pelo filme que segue:

      Clube de Compras Dallas

É o “Filadélfia” de Matthew MacConaughey, um ator que amadurece tentando se descolar da imagem de galã. Clube de Compras Dallas é um filme que aborda de maneira contundente e inteligente várias facetas do preconceito e da homofobia. É também um bom filme sobre amizade e se não bastasse tudo, é uma pancada contra a indústria farmacêutica.
  

   Gravidade


Minha aposta de melhor filme vai pra essa saga espacial, mas já vimos várias histórias parecidas. O roteiro lembra especialmente duas produções de 2010: Enterrado Vivo e 127 Horas. Gostei muito da concepção visual dos astronautas orbitando a Terra, digamos assim, e a forma grandiosa e deslumbrante como a história é narrada. 

    12 anos de escravidão

O grande concorrente e para muitos uma surpresa, Ana Maria Baiana mesmo disse que achava que os gringos não iam dar conta de privilegiar um filme abordando um assunto tão vergonhoso como foi a escravidão e particularmente as sacanagens aprontadas ao longo de 12 anos com o indivíduo em questão. É uma obra baseada em fatos reais, feita a partir de um livro deixado pelo personagem principal. A interpretação endemoniada de Michael Fassbender mostra que o ator é hoje um dos maiores de Hollywood.
  
 Capitão Philips


Outra história baseada em fatos reais, estes bem recentes, com uma interpretação vigorosa de Tom Hanks, especialmente nos quinze minutos finais. Não valeu a indicação ao Oscar de melhor ator, mas, como dito, a concorrência este ano está acirrada “de com força”. Por ser uma história verídica é um filme bastante contundente, contado com ritmo e clímax poderoso.

O Lobo de Wall Street

Scorcese é meio doido e seu cinema às vezes tido como irregular, porém, o seu lado mais maluco, que para mim é o melhor, vence nessa produção. É uma tragicomédia estofada com sacanagem, exageros e muita piração; um filme ostentação, digamos assim. As sequências entre Leonardo DiCaprio e Jonah Hill, o impagável gordinho de O Pior Emprego do Mundo, tentando brigar doidões e de matar de rir. O filme é enooorme, mas garante boas risadas, se você tem gosto para cinismo e humor negro. 

BONS FILMES QUE NÃO FORAM LEMBRADOS

“Rush” é um filme sensacional, obrigatório para os fãs antigos de Fórmula 1. Até certo ponto achei que faltou retratar melhor as loucuras de James Hunt, talvez se fosse filmado pelo Scorcese, mas mostra a rivalidade com Niki Lauda e os bastidores da principal categoria do automobilismo numa época em que um ou dois pilotos morriam todo ano. Para complementar vale a pena também assistir aos documentários “BBC4 Grand Prix-The Killer Years” e “When Playboys Ruled the World”.

Um lindo filme, feito com muito carinho, é “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”. A interpretação de Emma Thompson, no papel de uma escritora distímica é pura adrenalina, coitada, ela também não foi lembrada pelo Oscar. Preste atenção, no final do filme, quando soa a gravação com a voz da verdadeira P.L. Travers e veja como foi perfeita a caracterização de Emma. 

A TÍTULO DE CODA
Não deixe de ver o documentário “Fúria Animal (Blackfish)”. Contado a partir do episódio em que a orca Tilikum mata a treinadora Down Branscheau, em 2010, em frente a uma plateia lotada no Seaworld da Flórida. É um bom filme sobre "salvar as baleias" ... E os humanos também.