Eu nunca tive nada
contra a pessoa Dilma Rousseff não, sabe? Fora seu catastrófico governo, coisa
que até alguns de seus defensores passaram a admitir depois dela ser afastada,
vide declarações de Gregório Duviver e Tico Santa Cruz. Mas pra mim a gota
d’água foi ver o Gabeira detonando Lula, Dilma e companhia. Disse, entre
outras, que os intelectuais têm culpa no que aconteceu, porque quando o Lula
dizia uma das suas besteiras iam lá defender e deu no que deu.
Como militante
bissexto do preconceito contra a mulher - bandeira que abracei por causa do
assassinato de minha mãe - é para mim inadmissível chamarem uma mulher de vaca
ou mandarem-na em coro tomar naquele lugar. Então, me pareceu haver um bocado
de misoginia nos ataques à primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do
Brasil. O preconceito de gênero, especialmente de radicais de direita machos
pra caceta, grassou na certeza de fazer Dilma a primeira e também a última.
Fora essa questão de
gênero, há que se entender a revolta de boa parcela do povo brasileiro. Quem
mora no Brasil não tem como achar que a economia estava indo bem - a não ser na
propaganda do governo - e torceu para ver esse inferno acabar mesmo que na mão
do Temer ou do Tiririca que fosse... Ainda assim, muitos defensores da presidente
evocaram teorias de conspiração, de empresários que propositadamente faliram o
Brasil para tomar o poder. Enquanto isso o Gabeira afirmava: “repare que
naqueles cartazes eles nunca disseram: nós não roubamos”.
Ora, ou a presidente
cometeu crime e por isso foi afastada ou é uma pessoa séria, inocente coração
valente, deposta por um golpe de estado da direita esperta. Os dois não dá...
Ainda assim, no auge da
bagunça eu nunca bati panela, não fui pra rua, nem demonizei os integrantes do
Petê. Portanto, fiquei ofendido quando fui chamado de coxinha - agora estou
começando a achar que é elogio - por gente que não faz trabalho social, não
conhece a realidade da própria cidade que vive e que, pior de tudo, não enxerga
o quanto de pretensão tem em querer discutir a política do país. Repetem afirmações
que ouviram e se identificaram, como é o caso da teoria golpista à qual tenho
reservas, embora alguns bons advogados que conheço apontem indícios
consistentes.
Agora as pessoas estão
pelo Facebook agindo como fanáticos religiosos. Absortos por uma paixão que não
precisa de razão, sentido ou explicação. Provocam embates em que buscam uma
vitória mesmo que imaginária. Não percebem que nessa história todos saímos
derrotados como povo e como nação. Deveríamos nos unir e não destratar todo
mundo a torto e a direita como estão fazendo - especialmente no meu caso que
nem falo de política - os “militantes da esquerda”. Com isso, a única coisa que
estão conseguindo fazer é aumentar a sensação de que o que aconteceu foi o
melhor para o país e levando a ser contra até quem estava quieto no seu canto.