E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
(...)
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Drummond
Eu não entendo nada de futebol, nunca me interessei muito e, aliás,
sempre achei um tédio aquele leva e traz interminável da bola e que muitas
vezes acaba em 0 x 0. Outro dia até comentei com minha esposa que gostaria de
torcer por algum time, o envolvimento emocional das pessoas parece tão
divertido, acho incrível como tem gente que realmente se importa com aquilo.
Como brasileiro nato e típico até certo ponto, fui pego a rodo pela
animação em torno da participação do Brasil-sil-sil em uma Copa do Mundo, ainda
mais com a parada rolando aqui mesmo em terras tropico-americanas. Só que foi muita bola fora desde o início, uma espécie de filme
catástrofe dos bons, daqueles que vão num crescendo até rolar a grande
tragédia, a morte anunciada.
Pra começar tem a questão do Fuleco. Lembro de ter me perguntado: É sério?
O nome é esse mesmo? Quem foi o imbecil que teve essa idéia? Por que não
colocaram logo Fudêncio? Depois me embrulharam os “estrombios” a arrogância
daqueles franceses suíços da FIFA, as denúncias de corrupção, os estádios que
nunca ficavam prontos, as obras prometidas que não saíram do papel. Eu muito besta fiquei
animadão para andar de trem bala, ia ter uma estação bem atrás da casa de minha
irmã...
Vieram então os protestos, os questionamentos, de repente parece que ninguém queria
mais a Copa do Mundo no Brasil. Precisamos de escolas e de hospitais,
precisamos de vergonha na cara, futebol já temos desde criancinha. Mas lá veio
a Copa do jeito que a FIFA queria, com uma festa de abertura sem graça de dar
dó e o jogo cujo (cujo?) episódio mais marcante e comentado foi a galera
mandando a Presidente do país tomar naquele lugar.
Para inaugurar em grande estilo a tragédia que nos esperava, o primeiro
gol feito pelo Brasil foi contra. Um pânico sem panicats - fora a buzanfa do
Hulk - invadiu a cara de Marcelo. O pior é que aquela expressão de cagasso
acompanharia o time e culminaria no linchamento em Beagá. Depois veio o
chororô. Não lembro mais em qual jogo, se no segundo ou terceiro, que o menino
Neymar Junior abriu a cara a chorar após o hino nacional. Pensei: tem alguma
coisa errada nessa parada aí, num tem não?
Ao longo de toda a Copa fiz churrasquinho, tomei minha cervejinha e vi os
jogos em casa com a “costela de Adão” que há tanto me aguenta e que, como eu,
tá pouco se lixando para a vértebra do Neymar. A cada um dos passos mencionados
por Felipão me perseguia sensação de que tinha alguma coisa fora da ordem, mas,
como disse no início, não entendo patavinas de futebol e os outros times estavam passando seus sufocos também, vai ver no final dá tudo certo.
Quando o Brasil empatou com o México ainda na primeira fase, começou a
agonia, meu amigo Cello postou no Facebook o sentimento da nação: “0 x 0 pro México”. Prova que ele é
melhor piadista do que torcedor, porque sei que liga tanto para futebol quanto
eu. Depois veio o empate com a porcaria do Chile e eu detesto decisão com
pênaltis! Um conhecido me contou que ficou tão nervoso que baixou hospital, na
volta foi parado numa blitz e perdeu a carteira por razões óbvias, etílicas e
patrióticas.
Ontem, contrariando todas as teorias da conspiração de malucos como o
Cajurú que afirmavam categoricamente que a Copa estava comprada, o Brasil
finalmente mostrou que os derrotistas estavam certos. Poucos dias antes
aconteceu na mesma cidade de Belo Horizonte uma tragédia muito maior, o
desabamento de um viaduto inacabado que deveria estar pronto para a competição,
ceifando a vida de duas pessoas que nada tinham a ver com as bandalheiras de um
Estado corrupto, irresponsável que está pouco se lixando para o povo sofrido
que David Luiz pranteou.
Curioso notar que quase todo mundo se debulhou em lágrimas histéricas pela
contusão do nosso principal atacante, mas, fora as famílias, quem chorou pelas
vítimas daquela tragédia em Beagá? Ninguém deu a menor bola, aliás, brazuca é
outro nome idiota para a tradicional pelota. Lembro, nem sei como porque tinha
seis anos de idade, do escândalo que foi no final de 1971 o desabamento do
viaduto da Paulo de Frontin no Rio. Agora não houve revolta, o erro de um juiz causa
muito mais indignação do que um representante público corrupto e suas obras que
desabam.
E agora José? Alguém anotou a placa? O poema do Drummond me lembrou que o apresentador José Luiz
Datena prometeu apresentar seu programinha só de cuecas se o Brasil perdesse a Copa. Depois do acachapante sete a zero que levamos é a gota que falta, porque,
como dizia Maria Nilce antigamente: desgraça pouca é bobagem...