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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

BIZARRICES DA "THE RAÇA HUMANA"


Sou um antigo frequentador de sebos, adoro descobrir aquelas pérolas escondidas em meio aos campeões de venda do passado. Misturado com um Morris West, um Sidney Sheldon sempre aparece algum livro interessante, como foi na minha última pescaria. Achei uma edição comemorativa do 50° aniversário da semana de arte moderna do livro “Aspectos da Literatura Brasileira” de Mario de Andrade. Pra melhorar o negócio a banca estava fechando e o dono estava fazendo um queimão de estoque, levei comigo aquela preciosidade por apenas dez reais.


O livro tem momentos deliciosos e sacações muito pessoais do autor. Olha só essa trecho: “Devia ser proibido por lei indivíduo menor de idade, quero dizer, sem pelo menos vinte e cinco anos, publicar livros de versos. A poesia é um grande mal humano. Ela só tem direito de existir como fatalidade que é, mas esta fatalidade apenas se prova a si mesma depois de passadas as inconveniências da aurora.”


É uma afirmação de um homem maduro que vai ferir os brios de muitos jovens poetas por aí, por outro lado conheço autores que se envergonham de livros que publicaram na juventude, se pudessem recolhiam tudo. Outro exemplo, embora não tenha muito a ver, é o caso da apresentadora Xuxa Meneghel e sua participação no filme “Amor Estranho Amor”, da qual ela se arrepende e tenta furiosamente aniquilar vestígios. A ambição de ser alguém, o desejo de se firmar pode resultar nesses constrangimentos quando a carreira já está plenamente estabelecida. Por outro lado, digo no caso da Xuxa, existe a pressão de um meio em que a sacanagem rende muita grana.


Ontem assisti a uma entrevista muito boa do ator Pedro Cardoso para a jornalista Leda Nagle no programa Sem Censura da TVE. Sem papas na língua o ator disse o diabo contra os paparazzi, disse também que a televisão é dirigida por um bando de pessoas medíocres que tentam o tempo todo enfiar pornografia em tudo, que várias boas atrizes deixaram a profissão para não se sujeitar a constrangimentos e que várias outras sofrem horrores por aceitar a exposição desnecessária e gratuita de seu corpo de sua intimidade.


Uma atriz amiga minha passou por uma situação ridícula destas, foi fazer um teste para entrar em uma peça de teatro aqui na Região da Grande Vitória e a primeira coisa que falaram pra ela foi: tira a roupa toda agora. Surpresa e já assustada disse que não ia tirar, daí a mandaram beijar um cara. “Mas que porra de teste é esse? Vocês não vão me dar nada pra ler?” Deram foi um pé na bunda dela, que hoje segue a carreira de atriz no Rio, onde, Pedro Cardoso mesmo disse, a situação não é em nada diferente.


Pra finalizar retomando o assunto do início vai aí uma das pérolas que encontrei no famigerado “Cebo do Golias”, querido amigo que faz aniversário no mesmo dia que eu. Quando vi a capa do disco dessa banda não me agüentei, tive que comprar. Hoje ela fica aqui em casa aberta à exposição. Atentem para o perfil do trio: mezzo-pipoqueiro, mezzo entregador de pizza; os cabelos estilosos, a combinação das cores das camisas. Mas nada, nada mesmo, suplanta o nome da banda “The Raça Humana” é, como diria Délio: Phoooddaaaaa. (Foda com “PH” de Pharmácia, três “Ós” de “Hollywood”, dois “Dês” de Toddy e cinco “As” de Maracangalha!)



terça-feira, 7 de abril de 2009

BOA NOITE SEU JUCA

Lembro direitinho da primeira que vez que alguém me chamou de “rapaz”. Eu devia ter treze pra quatorze anos e era um moleque espichado, estava comprando um refrigerante numa lanchonete qualquer no centro de Vitória, daí a mulher que me atendeu virou-se para um menino que trabalhava com ela e falou:

- Pega lá o refrigerante pro rapaz. – Me deu um orgulho danado por dentro, era a primeira vez que não me tratavam sumariamente como criança. Minha mãe sabia dessa minha vontade de ser adulto logo e sempre me recitava seus poemas prediletos, especialmente um que falava em prolongar ao máximo o tempo de criança e coisa e tal, não lembro direito como era...

Agora me surpreende por dentro, em razão inversa e proporcional - ando matemático ultimamente - a quantidade de vezes que tenho sido tratado de “O Senhor”, e ainda mais do que isto: me assusta a naturalidade com que isso tem acontecido. Nunca me quis, nem me imaginei, um “senhor” respeitável, mas cara: não é que aconteceu? Entro no elevador segurando o riso - especialmente se estou acompanhado - quando o porteiro me deseja uma “boa noite Seu Juca”.

Como assim “Seu Juca”? Esse “Juca” é o meu apelido queridíssimo de infância, grudou - como diria Alzinete - “ni mim” e antes que eu entrasse na adolescência já tinha ocupado o lugar do meu sonoro nome, não poderia jamais vir precedido por esse “Seu”. É como encontrar os Trapalhões e chamar o Renato Aragão de “Seu Didi”. Esse apelido pressupõe familiaridade, conhecimento, intimidade... Mas a culpa é minha mesmo, talvez devesse ter continuado usando o Juarez que herdei de meu pai. Jucarez = Juca.

A idade mesmo não me incomoda. O que assusta é sentir esse deslocamento sutil para um outro grupo de pessoas, aquele tão distante faz, parece, tão pouco tempo. Sinto-me como se fosse de uma tribo de doidões e de repente tivesse entrado pra polícia. Não sou mais um como todos, sinto-me impuro e respeitável como uma bomba atômica, objeto de reverência e alienação de todo o resto, totem cravado no pátio da aldeia. Presença distante.

Muito desse processo social de envelhecimento incomoda as pessoas pelo viés da vaidade, o que não é certamente o meu caso. Sinto esse movimento como um fenômeno do inconsciente coletivo mais do que físico, porque não tenho idade para ser classificado como velho... Ainda não. O que me acontece é o estupor de entrar com tudo nessa fase madura da vida e me dar conta disso através dos olhos e da voz das pessoas do mundo, descobrir que me mudaram de categoria sem ao menos me consultar.

Pronto Seu Juca, agora o senhor é “sênior”, bem vindo ao maravilhoso mundo das perguntas sádicas e indiscretas: o senhor já sabe que na sua idade é preciso fazer exame da próstata não é? Tem certeza que o senhor não tem problemas de ereção e ejaculação precoce? - e falando amigavelmente de minha mulher - Essa aí é sua filha?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A SOLIDÃO VERSUS O PODER AQUISITIVO – PARTE 2

Uma amiga que mora no exterior me escreve pedindo notícias da saudosa Livraria Don Quixote - que ficava na Praia do Canto no início da Aleixo Neto – um dos principais pontos de encontro dos intelectuais locais, mas que há muito encerrou suas atividades. O Antonio Carlos, antigo proprietário, é meu amigo do Orkut e, se não me engano, tem até uma comunidade da livraria. No espaço rolava sarau, lançamento de livros e outros breguetes, mais que um estabelecimento comercial, era um ponto de divulgação de literatura, cultura e arte.

Na Grande Vitória somos mais de um milhão de habitantes, e não temos uma só Livraria de grande porte, uma megastore nos moldes que vemos no Rio e São Paulo. Tempos atrás tentei achar um exemplar de A Tempestade de Shakespeare pra comprar e não consegui, acabei baixando da net e imprimindo. Vivo procurando livros antigos sem sucesso, acabo fazendo uma listinha e comprando em viagens a outras cidades, ou pedindo pela internet mesmo.

A Infovia tem influência nesse processo de enfraquecimento nas vendas, sobretudo de discos e na locação de filmes, mas os comerciantes locais têm lá sua parcela de culpa, porque as coisas acabam chegando às prateleiras com preço mais que salgado. Só pra dar um exemplo: uns meses atrás eu estava procurando um cabo midi/usb pra ligar meu teclado (instrumento musical) no computador e achei alguns por aqui que custavam mais de R$200,00. Procurei no Mercado Livre e acabei comprando por R$60,00 (!) com frete incluso e tudo mais.

Outro comentário que recebi sobre o último texto me lembrou de uma experiência recente. Um amigo me convidou para assistir ao show de sua banda numa conceituada casa noturna local, seriam três apresentações de grupos semi-novos lá dos brumosos anos oitenta. Como a pendenga começava pelas dez, dez e meia, fui jantar com a patroa, tomar uns birinights (Eita Edízio Tatu!) e chegamos na cena do crime por volta de onze e meia.

Pra começar acho constrangedoramente cafona essas baias por onde temos que passar que nem gado para entrar em casas noturnas que se consideram modernas e bacanas, depois tem que dar o nome, não entendo pra quê – hãn? É pra colocar na comanda! Ah tá... Mas que saco hein? – Bom aí vem um cara me revistar, vestindo um terno de oxford tão mal enjambrado que parecia um travesti de segurança. Será que alguém pode realmente estar armado aí dentro? Um lugar seguro mesmo não precisa desses expedientes.

E lá dentro rolava um festival de semi-novos em exposição, todos muito animados e sacolejantes ao som de uma banda que – a bem da verdade - não fazia muita justiça aos clássicos jurássicos da década perdida. Enquanto isso, o tempo – esse menino sacana - foi passando arrastado e nada das atrações principais darem o ar de suas panças protuberantes. Quando o relógio bateu uma e meia começou a me incomodar a idéia de que em pouco tempo eu teria que estar de pé pra trabalhar, resolvi ir embora sem ver nem metade da programação, afinal, esse negócio de “pro dia nascer feliz” é coisa de quando eu podia me dar ao luxo de... E você?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A SOLIDÃO VERSUS O PODER AQUISITIVO

Uma amiga sugere falar sobre a falta de opção de lazer e diversão na Grande Vitória para as pessoas de idade intermediária - aquela turma pra lá dos trinta e tantos e abaixo dos cinqüenta e pouco. O mercado para os “adultos jovens” é realmente muito restrito: estamos fora do circuito dos grandes shows (sobretudo internacionais), peças de teatro, lançamentos literários, filmes (Cadê “Linha de Passe”, o novo de Walter Salles e Daniela Thomas, lançado no último 05 de setembro?) etc. Sem falar que não temos aqui nenhuma casa de shows em que se pague um preço razoável para assistir a uma apresentação com conforto e tranqüilidade.

Vivemos hoje uma situação injusta: temos os principais problemas das grandes cidades com mais de um milhão de habitantes: engarrafamentos constantes, violência urbana, muita poluição; sem a contrapartida cultural que vemos nos grandes centros que nos circundam. Até quando o principal palco local (Ginásio Álvares Cabral) vai ter aquela acústica embolada? Não existe por aqui um teatro que acomode mais duas mil pessoas, o que inviabiliza as grandes produções, falando nisso: quem foi que classificou aquele auditório da UFES como Teatro?
Mas uma das principais queixas dos adultos jovens é que na noite local não se tem lugares de referência, bares de happy hour e coisas do gênero. Sair pros “Embalos de Sábado a Noite” é cair no domínio dessa linda juventude que classifica como “Tio” qualquer um acima de trinta e poucos anos. Se o cara for gastador e boa companhia, será tachado de “coroa gente boa”, mas se resolver “paquerar” as menininhas achando (e como tem cara que acredita) que elas adoram os homens mais velhos ganha logo a alcunha de “Tio Sukita”, “Velho Babão”, ou coisa pior. Os adultos que vemos pela noite geralmente estão trabalhando.
Outro dia ouvi uma definição engraçada pro pessoal da “meia idade”: eles (nós?) seriam os “semi-novos”... Tem coisa pior que um eufemismo? Ser comparado com um cacareco enferrujado que fica mais caro consertar do que mandar pro desmonte? Se é assim com os adultos jovens, imagina o que passa a galera que já desceu a ladeira mesmo. Mas é aí que eu quero entrar no assunto:
Como os ditos “idosos do agito” - esses delinqüentes senis - os semi-novos descasados que se aventuram à caça nas noitadas não representam uma parte significativa da sociedade. Mas, diferente dos primeiros, estes ainda não conseguiram se organizar em associações e clubes de seresta dançante para alavancar suas paqueras. Talvez pela falta do tempo para se articular que a aposentadoria proporciona à coroada, o jovem adulto tem que amargar a desorientação das noitadas em meio à gurizada e com razão reclama. Mas ai é que retorno ao ponto inicial da questão:
Os semi-novos são os principais representantes da força de trabalho em nossa comunidade, eles é que pegam no batente logo cedo, arcam com as responsabilidades no trabalho e no lar e não podem - e se puderem não agüentam -, ficar virando noite atrás de ilusões que se dissiparam quinze anos atrás. Como é o mercado que regula suas prosopopéias de oferta e procura, os grupos restritos têm que agüentar o preconceito, a indiferença e, o que é pior, gastam lá a sua grana sem ter o retorno desejado. E esse é um detalhe interessante:
O nosso país é injusto com a espremida classe trabalhadora, tanto que nem preciso ficar falando aqui. Então uma pessoa destas, que sabe muito bem o quanto é difícil ganhar dinheiro, sai pra noite e se depara com ingressos caros, filas para entrar, para comprar uma bebida, para ir ao banheiro e, especialmente, para conseguir sair. E se reclamar a culpa vai ser de sua dureza e incompetência pra se freqüentar. Afinal, a diversão dos esnobes e endinheirados é pagar mil dólares numa garrafa de vinho que em muito pouco tempo vai virar xixi! E pensar que são essas as pessoas que sabem ganhar e investir dinheiro...
Mas isso é o mercado de consumo obrigando as pessoas a comprar coisas que elas não precisam, para aparentar ser algo que não são e no final ficarem sem poder ter o que realmente querem (citação livre do filme “Clube da Luta”). Sim, porque no final quase tudo passa pela solidão versus poder aquisitivo. Não tem clima romântico que resista a um programa a bordo de Transcol lotado e cineminha em Laranjeiras. Pior é o caso das mulheres que tem a manutenção alta e gastam horrores com roupas, maquiagens, perfumes, cremes, salão de beleza, o diabo a quatro, se endividam, se enrolam e no final caem nas mãos de um cara que pensou que estava pegando uma grãnfina e dá no pé assim que descobre que ali tem muito mais problema do que solução.
Fico então me perguntando se toda essa situação acontece porque, apesar de todo o desenvolvimento aparente, a sociedade capixaba ainda não tem um conjunto de pessoas com poder aquisitivo significativo o suficiente para fomentar investimentos nas principais áreas culturais ou se os anos de estagnação local ainda não proporcionaram surgir uma nova mentalidade entre os promotores de evento para que apareçam opções alternativas de diversão e entretenimento. Porque do jeito que está vale repetir a pergunta do escritor Aldous Huxley: quem é que realmente se diverte hoje em dia nos lugares de diversão?