Sou um antigo frequentador de sebos, adoro descobrir aquelas pérolas escondidas em meio aos campeões de venda do passado. Misturado com um Morris West, um Sidney Sheldon sempre aparece algum livro interessante, como foi na minha última pescaria. Achei uma edição comemorativa do 50° aniversário da semana de arte moderna do livro “Aspectos da Literatura Brasileira” de Mario de Andrade. Pra melhorar o negócio a banca estava fechando e o dono estava fazendo um queimão de estoque, levei comigo aquela preciosidade por apenas dez reais.
O livro tem momentos deliciosos e sacações muito pessoais do autor. Olha só essa trecho: “Devia ser proibido por lei indivíduo menor de idade, quero dizer, sem pelo menos vinte e cinco anos, publicar livros de versos. A poesia é um grande mal humano. Ela só tem direito de existir como fatalidade que é, mas esta fatalidade apenas se prova a si mesma depois de passadas as inconveniências da aurora.”
É uma afirmação de um homem maduro que vai ferir os brios de muitos jovens poetas por aí, por outro lado conheço autores que se envergonham de livros que publicaram na juventude, se pudessem recolhiam tudo. Outro exemplo, embora não tenha muito a ver, é o caso da apresentadora Xuxa Meneghel e sua participação no filme “Amor Estranho Amor”, da qual ela se arrepende e tenta furiosamente aniquilar vestígios. A ambição de ser alguém, o desejo de se firmar pode resultar nesses constrangimentos quando a carreira já está plenamente estabelecida. Por outro lado, digo no caso da Xuxa, existe a pressão de um meio em que a sacanagem rende muita grana.
Ontem assisti a uma entrevista muito boa do ator Pedro Cardoso para a jornalista Leda Nagle no programa Sem Censura da TVE. Sem papas na língua o ator disse o diabo contra os paparazzi, disse também que a televisão é dirigida por um bando de pessoas medíocres que tentam o tempo todo enfiar pornografia em tudo, que várias boas atrizes deixaram a profissão para não se sujeitar a constrangimentos e que várias outras sofrem horrores por aceitar a exposição desnecessária e gratuita de seu corpo de sua intimidade.
Uma atriz amiga minha passou por uma situação ridícula destas, foi fazer um teste para entrar em uma peça de teatro aqui na Região da Grande Vitória e a primeira coisa que falaram pra ela foi: tira a roupa toda agora. Surpresa e já assustada disse que não ia tirar, daí a mandaram beijar um cara. “Mas que porra de teste é esse? Vocês não vão me dar nada pra ler?” Deram foi um pé na bunda dela, que hoje segue a carreira de atriz no Rio, onde, Pedro Cardoso mesmo disse, a situação não é em nada diferente.
Pra finalizar retomando o assunto do início vai aí uma das pérolas que encontrei no famigerado “Cebo do Golias”, querido amigo que faz aniversário no mesmo dia que eu. Quando vi a capa do disco dessa banda não me agüentei, tive que comprar. Hoje ela fica aqui em casa aberta à exposição. Atentem para o perfil do trio: mezzo-pipoqueiro, mezzo entregador de pizza; os cabelos estilosos, a combinação das cores das camisas. Mas nada, nada mesmo, suplanta o nome da banda “The Raça Humana” é, como diria Délio: Phoooddaaaaa. (Foda com “PH” de Pharmácia, três “Ós” de “Hollywood”, dois “Dês” de Toddy e cinco “As” de Maracangalha!)
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