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sábado, 12 de setembro de 2009

TODOS CONTRA O TEMPO AGORA!

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Eu poderia pensar em música, mas um dente me dói e a orelha direita coça (...) Tive que parar de escrever, não posso coçar a orelha direita com a mão esquerda, não sem parecer um macaco pateta. Levo a mão esquerda até a orelha direita e não me sinto imbecil, inclino um pouco a cabeça para o lado e pronto. Foi só um teste, a orelha não coça mais.


Penso em passar no buteco do Danilo e tomar umas três cervejas no caminho de casa, é um “copo sujo” na mais completa acepção da palavra, praticamente freqüentado por homens, parece um club inglês, ou um “pub”. Lembro que ali perto tinha um treco desses, com jogo de dardo e outras paradas. Namorei uma garota assaz apetecível e certa vez, bebendo lá com a irmã dela e o namorado, nos bolinamos frenética e discretamente por debaixo da mesa. Fazer sacanagem já é bom, debaixo do nariz da irmã mais velha é puro êxtase!


Penso em ir embora caminhando, penso que preciso caminhar. Penso, penso, penso que estou pensando. Por que será que de vez em quando tenho essa impressão de que somos mergulhadores dentro de um escafandro? Cruzes, minha prosa está virando poesia! Hey man help a guy out. Hey man help me, outch!


(...) Tem quatro coroas no bar do Danilo, freqüentadores assíduos, tenho a impressão de que vir aqui é o principal lazer em pleno ocaso. Um disse que acertou o despertador para não perder a hora de vir pro boteco. Eles não jogam dominó, apenas olham o trânsito da Avenida Beira Mar - que neste trecho não o tem – como se fosse o oceano. Um lê um livro, outro fala ao celular: todos estanques, dissociados, é como se esperassem alguma coisa. Os carros passam rugindo ensurdecedoramente, estremecendo o chão. Conversar como? Para quê?


Agora sou só eu, agora é todos contra o tempo! Alegre, Caparaó, Guaçuí é mais frio, Laranja da Terra. Iúna melhorou muito, não é mais violenta não. Conheci duas irmãs gêmeas de lá, garotas bonitas, brincavam com a fama de matadores da própria terra. Berghof, Hans Castorp. O bar do Danilo é a minha montanha mágica.


A cerveja soltou a língua dos presentes, conversam animadamente sobre suas experiências no exército, lembro do Coronel Guerra... Um dos cinco maiores especialistas em combate na selva de todo o mundo, sua maior frustração era o Brasil nunca ter entrado num conflito armado que oportunizasse demonstrar sua arte. Era como uma especialista em sexo tântrico sozinha em uma ilha dos mares do sul. Guerra era assim, frustrado com a paz.


Uma vez estava treinando equipes especiais do exército americano lá na gringolândia mesmo e foi convidado para entrar num grupo mercenário. O ordenado era astronômico (acho esse termo, ordenado, muito peculiar; especialmente, quando comparado com salário e vencimentos), a condição era abandonar tudo, que nem morrer em vida: deixar pra trás o país, a cidadania, a própria família, tudo. Muito mais do que o dinheiro o Coronel estava ávido por lutar. Chegou em casa depois de três doses de uísque a mais e deu a notícia pra patroa, tomou uma surra daquelas e desistiu da empreitada.


Bom guerreiro o Coronel Guerra, só que, sei lá, na vida já existem tantas outras batalhas...

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