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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

ANTOLOGIA ADVANCED: LUCIANTA'S FACTOR

Sobre o assunto do post passado taco-lhes uma colaboração muito da colaborativa do fotógrafo Eduardo Ribeiro, valente companheiro de folguedos e aventuras inomináveis pelas periferias de Vila Velha.

No programa da “Lucianta” Gimenez (com a licença do Zé Simão) também foi abordado o caso da modelo capixaba que morreu no hospital Dório Silva.

Lá pelas tantas a apresentadora interrompe o médico para dizer que entende de tudo e que se ela não fosse modelo (e ficado grávida de um certo astro do rock) seria médica. Aí solta algumas pérolas:

- Doutor, o que levou ele a ter que cortar os pés?

- Qualquer bactéria causa qualquer coisa?

- Por que os braços dela morreram?

...Isso com menos de dez minutos de programa. Ainda teve uma última que ouvi antes de desligar a TV:

- Doutor, se alguém pegar uma gripe pode acontecer isso?

(Constrangido) - Bom, na verdade a gripe é um vírus e não uma bactéria...

Não é legal fazer piada com um assunto trágico, mas a mulher estava falando sério mesmo. E ainda teve coragem de falar que era uma médica frustrada...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

MISTÉRIOS DA TAUTOLOGIA: O FATOR DATENA

Essa semana a beleza morena de duas moças botocudas chamaram a atenção pelo mundo afora, infelizmente por razões tristes, caminhos diferentes, mas igualmente lamentáveis. Primeiro foi o drama da modelo Mariana Bridi, que perdeu a luta contra uma infecção fulminante e foi enterrada no sábado passado. Depois a história de uma bela menina chamada Pollyana, envolvida perifericamente no brutal e sangrento assalto ao Shopping Vitória.

Na onda de mostrar uma reação veloz para a sociedade, a polícia grampeou os pequenos da trama divulgando na seqüência o nome dos cabeças que, aparentemente mais espertos, evaporaram no mundo. Daí fez-se um bafafá danado em cima da beleza dessa tal da Pollyana, afinal não basta ser gaiato: há que se ter um corpinho sarado também. Mas vem cá: e se ela fosse uma mocréia desgramada, tava tudo certo?

Enquanto isso no Gazeta Online (Ou GOL como denomina o Moquecada) tem um indignado reclamando o seguinte “O presidente do Tribunal de Justiça do ES pode responder em liberdade...... Essa menina não !” Eita José! Essa dor doeu mais forte... O engraçado, ou sem graça também, é que tem gente que reclama que o Espírito Santo só aparece em rede nacional por conta dessas coisas...

Muitos outros aproveitaram para parabenizar as autoridades por revelar rapidamente toda a trama. Como assim? Desculpe a insistência, mas eu acho pouco. Cadê o mentor do crime? E o doente que assassinou dois seres humanos como se estivesse jogando videogame? Tenho certeza que a polícia está doida pra por a mão nesses caras, mas fica a impressão de que o interesse em torno dessa moça tem ares de cortina de fumaça somado a um indefectível odor de Colônia Bode Expiatório...

Mas no mundo tem sempre os Datenas...

Ontem o programa dele deu destaque especial ao caso da modelo lá de Marechal Floriano (Saravá Elmo Old Eight!), dramatizaram hollywoodianamente a história toda da moça se aproveitando da simplicidade evidente de seus pais e conterrâneos.

A reportagem foi tão confusa que toda hora o apresentador trocava as bolas – o que não é raro acontecer - informações eram jogadas ao acaso sem nenhuma explicação, sem lógica. Trabalho feito nas coxas mesmo, rasteiro, sensacionalista (O Dadá não gosta de falar mal? Eu só quero saber do que pode dar certo).

Começaram mostrando a menina sendo eleita Miss Ítalo-germânica, ou algo que o valha, num daqueles eventos que rolam lá nas montanhas aqui do Espírito Santo. Passada a reportagem – talvez influenciado pelo clima Oktoberfest da matéria - Datena foi chamar um outro bloco e disse que logo voltariam a falar do triste caso da modelo de Santa Catarina.

Cortaram para um engavetamento em São Paulo e Datena falava exaltado: “Olha só que acidente horrível! Um ônibus subiu em cima (Ai!) dum Fiat Uno e arregaçou o carro todo!” – Daí completava. – “Eu acho incrível que alguém tenha saído vivo desse acidente!” – A Língua Portuguesa, inclusive foi parar na UTI... Só espero que ela tenha plano de saúde...

Voltaram pro caso da Mariana, agora a menina desfilava em um concurso que parecia o Miss Brasil, não explicavam o que era, assim como também não deram conta do porque da menina aqui do Espírito Santo estar desfilando pelo Estado do Sergipe. Será que ela nasceu lá ou era naturalizada Sergipana? Sei que a cabeça de qualquer um de fora da nação botocuda deve ter dado um nó...

Não vi a reportagem toda, “é tudo muito triste”, como diria o Grilo Falante. Mas acho muito curioso o surgimento quase simultâneo dessas duas beldades em exposição - ou execração, como le gusta – encobrindo verdades e sedando a visão. Esses colírios trágicos, intoxicantes, colírios alucinógenos do Zé Simão.

Talvez buscando se justificar, a todo instante o Datena afirmava que não estava mostrando aquele caso só porque a modelo era bonita e tinha morrido não. Então por que era? Isso ele também deixou de explicar. Aliás, essa morbidez, que nem é culpa dele, não tem tradução. Sinto apenas que essa menina Mariana estivesse viva, ou fosse um trubufú afastado de Deus, nem eu nem você saberíamos dela... Mas o problema é que mundo está cheio desses: E se?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

ADMIRAVEL MUNDO SEMI-NOVO - PARTE II

Conheço algumas pessoas, hoje estabelecidas e relativamente bem de vida, que sofreram dias de muita pobreza na infância e que me confessaram da raiva que sentiam quando viam um filhinho de papai com seus brinquedos novos e caros. Quase como em uma compulsão davam um jeito de arrumar uma forma de implicar e arrumar uma confusão com aquele “ovinho de granja”, com isso queriam tentar resgatar algo que o destino nunca lhes destinou. Em sua frustração passam a acreditar que precisam ter coisas, porque só assim conseguirão sentir que existem e que estão aptos a fazer parte daquele mesmo mundo. Muitos vão dar seu jeito, outros... Bem, outros não vão ter jeito nunca.

Mas por que haveria eu de perder o meu tempo e o de quem me lê com afirmações tão lugar comum? Nem eu sei. Talvez tenha a ver com o passeio que fizemos no domingo passado...

Estava calor pra burro e o trânsito um inferno, especialmente no litoral. Voltando de Nova Almeida, resolvemos cortar caminho para a Serra pela nova estrada que a Prefeitura tinha recém inaugurado e feito um belo anúncio na TV. Sem saber qual a entrada pegar (ou saída como queiram) vim dirigindo com atenção para não perder as placas indicativas. Mas que placas? Simplesmente não tinha nenhuma (!) Lá pelas tantas paramos num posto pra pedir informação, descobrimos que o acesso ficava apenas uma rua antes e que não era sinalizado mesmo.
Ou seja: cerveja. Tudo ruim, mas tudo bem...

Retornamos e pegamos a rua indicada e fomos adentrando o bairro, ainda em dúvida se a informação era correta, lá na frente, pintou um cruzamento, novamente nada de placas. Desta vez segui o bom senso de direção e peguei pra esquerda, afinal, à direita estaríamos voltando pra Nova Almeida. Lá embaixo, após uma pequena ponte havia outro cruzamento, agora sim sinalizado. Não fora assim, pra continuar, só pedindo informação pras vaquinhas pastando mais além.

Finalmente entramos na nova rodovia e... Adivinha o nome: Audifax Barcellos “não sei das quantas”. Já que resolvera nomear a estrada de maneira tão óbvia o agora ex-prefeito poderia pelo menos ter sinalizado decentemente os seus acessos. O pior de tudo é que a estrada principal que corta Jacaraípe está lá, uma bagunça e lotada de equipamentos de fiscalização eletrônica. Custava colocar umas plaquinhas de orientação também? Nas entrelinhas, o que se lê é o seguinte: você que se vire com suas paradas pra lá e se vacilar a gente tá multando.

Quando chegamos em Vitória já era quase quatro da tarde e o calor infernal não era mais o único problema no mundo. Passou por nós um Monza tão lotado que até no porta-malas tinha um adolescente enfiado, lá na frente vimos o mesmo carro se espatifar na traseira de um outro que estava parado no sinal. Com o impacto a tampa do porta-malas se abriu e vimos que não era um só, mas dois meninos sacolejando lá dentro! Devia ter umas duas dúzias de malucos naquele carro. E polícia? Eu não vi nenhuma...

Não tenho nada com isso e sei que é impossível dar conta de tudo quanto é maluco à solta em dia de domingo com 40 graus à sombra, mas fico pensando: não tem polícia pra catar playboyzinho doidão de madrugada na porta de buates e barzinhos? Então porque não dão uma meia trava nos motoristas que saem caindo de bêbados, por exemplo, da Curva da Jurema em pleno dia? Fica a impressão de que ações como a do “madrugada viva” têm muito mais de recalque de “ovinhos caipira” que chegaram a exercer alguma forma de poder do que vontade mesmo de implementar uma nova Lei e salvar vidas.

Enquanto isso, quem paga a conta?

Dentro desse raciocínio, recebo um email super peocupante que afirma que junto com a Lei Seca, foram aprovadas algumas outras coisinhas tenebrosas pra dificultar a nossa vida ainda mais. Ou você acha mesmo que as "boas biscas" que a massa elege estão lá queimando fosfato pra te dar moleza? A informação é a seguinte: fiquem ligados no prazo de vencimento de sua carteira de habilitação. Quem bobear trinta dias pra renovar vai ter a parada cancelada, será multado e ainda obrigado a fazer tudo de novo se quiser voltar a dirigir...

Num tô dizênum... Em rio que tem piranha jacaré nada de camisinha.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ADMIRÁVEL MUNDO SEMI-NOVO I

No início dos anos oitenta as empresas japonesas surpreenderam o mundo com uma série de produtos eletrônicos (reloginhos digitais, calculadoras e outras bugigangas) e estratégias de gerência inovadoras, era o boom do milagre japonês. Gigantes como a Sony, Honda, e Yamaha invadiram e conquistaram o mercado internacional, gerando uma série de piadas e ditos populares. Era comum ouvir coisas como: o alemão inventa, o japonês faz a miniatura, o paraguaio falsifica e brasileiro contrabandeia.

Naquela época também rolava a moda dos filmes de Karatê e Kung Fu, estrelados por Bruce Lee e seus cupinchas, destes o mais famoso seria o lendário Chuk Norris, alvo também de inúmeras piadas. Dizem, por exemplo, que o Chuk só dorme de luz acesa. Medo do escuro? Nada disso. É que a recíproca não é verdadeira...

No início da Avenida General Osório tinha o cinema “Vitorinha” que alternava sua programação com películas pornográficas e de artes marciais, dentro do costume capixaba de apelidar acabou ganhando a alcunha de Embaixada da China. Estrategicamente instalado bem em frente ao Vitorinha, ficava o ASCATÊ, uma academia de Karatê Shotokan comandada por um mestre baiano chamado Francisco.

No Ascatê conheci alguns amigos, hoje entre os mais antigos e fiquei tão viciado na parada que entrei numa de aprender a falar japonês. Arigatô no? Alguns amigos de meus pais, metidos a futurólogos da economia, viram em minha iniciativa um ato de inteligência, acreditavam que o mundo seria para sempre japonês... Hoje lamentam não terem estudado o mandarim...

A verdade é que o mundo muda e a gente nunca sabe pra onde.

Agora temos essa nóia dos concursos públicos. A maioria das pessoas que conheço não quer mais estudar pra fazer carreira em medicina, direito ou administração, porque tem que trabalhar feito um condenado pra ganhar a vida e competir num mercado infeliz que ainda se regula mais por relações de parentesco e conhecimento do que por competência. Sonham em ser funcionários públicos...

O problema é que com os concursos acontece uma coisa parecida com o vestibular para os cursos mais concorridos: só consegue passar quem pode parar tudo que está fazendo, pagar um bom cursinho e enfiar a cara no estudo. E quem está nessa situação no Brasil? Isso mesmo. Em nome da justiça e da democracia as mais cobiçadas vagas de emprego vão continuar sendo dos mesmos grupos, salvo, evidentemente, raras exceções.

Concurso virou sonho de carreira e de uma vida segura, especialmente na velhice. Quem seria capaz de afirmar isso há uns vinte anos atrás? Quem ia querer passar a vida enfurnado numa repartição pública? Virtualmente ninguém! O mundo muda a gente nunca sabe pra onde... Quem pode garantir que daqui há vinte anos o governo não dá um jeito de achatar esses salários e fazer um inferno a vida de quem hoje acha que está seguro e confortável?

Uma das principais razões para termos uma nação que sonha com cargos de funcionários públicos é que os gestores do país são lerdos, decretistas e estão pouco se lixando pra vida de quem quer começar o seu negócio. Nos anos oitenta era proibida a importação de instrumentos musicais, obrigando os músicos nacionais a se virarem com o que havia por aqui, ou cair no contrabando. Hoje acontece algo semelhante com as relações de mercado: a carga de impostos é tão elevada e a burrocracia tão irritante que é melhor sonhar em ficar quietinho ganhando seus cinco seis mil do governo mesmo do que ter que ter que aprender as práticas do suborno e da sonegação fiscal pra se manter no azul e conseguir dormir.

E eu vou aprender mandrim pra quê? O mundo todo já fala inglês. Next please!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

ATENÇÃO GALERA DO BEM E DO MAL TAMBÉM!


Não percam o show cover da banda Queen Trip. Vai ser hoje - 15 de janeiro - no Teatcher's Pub que fica num cantinho saudoso da Praia do Canto, carinhosamente apelidado de “Sovaco da Perua”. No Flyer tá nove horas, mas acho que dá pra chegar as dez, portanto, não precisa perder o penúltimo capítulo da abominável "A Favorita". Confesso que estou torcendo pela Flora, mas também pela fauna e pelo meio ambiente.

Falando nisso, tenho tanta pena daquela menina Mariana Ximenez... O autor pegou a moça pra loira da história e dá pra ela todas as falas mais imbecis. Primeiro foi aquela conversa do primeiro cavalo que tinha sido uma égua e ontem tava ela reclamando assim: “Poxa vida! Passei a vida inteira achando que minha mãe tinha assassinado o meu pai e agora descubro que, de fato, ela matou o meu pai” (?!) Rararara! Sabe o que eu achei pior? O “De fatis” que ela mandou, nem na época em que Muçum era vivo se falava dessa maneira.

Mas voltando a falar do show das queens, ops! Quer dizer do Queen Trip: eu nem devia estar brincando assim, afinal a galera que vai tocar é da pesada, inclusive nas panças, e vêem de uma época em que Freaddy comandava o cenário Pop mundial. Nem precisa dizer que Danny Boy (Baixo e vocal) foi o cara que me aplicou nos discos menos comerciais da banda, gravou pra mim uma fita cassete com canções que até hoje ouço saudoso dos tempos de pirralho sem responsabilidades.

Depois do Queen Strip, (Ops!) a animação vai ficar por conta da banda Urublues (não reparem no texto, eu estou o formatando pro locutor anunciar na peruinha que vai rodar as principais ruas da Praia do Canto). Essa última banda é um caso a parte, é formada por figuras de péssima reputação (o que no cenário rock é desejável) como Dodó, irmão do Mumú, e que na época do metal atendia pela alcunha de Abutre, Cauby nos vocais (felizmente não é o Peixoto), Toiô na guitarra e por aí vai... Enfim, o Urublues é uma banda que “Bebe bem!”

Então geração saúde! Sacode esse esqueleto abjeto de dentro do apartamento e cai no roquenrou pelo menos uma vez na vida, o que é bem melhor do que nunca e infinitamente mais saudável do que se esborrachar na Lama toda semana. Mesmo por que essas coisas desvalorizam o passe, fica figurinha fácil, chamando garçom pelo nome, é uma queimação de filme nada apetecível para pessoas que tem um nome a zerar...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A Estranha Docilidade dos Escravos sem Exigências

Recebo um email com ares de manifesto indignado, que circula pela Net desde o lançamento do filme “Cazuza, O Tempo Não Para”. Trata-se de um texto inacreditavelmente moralista, escrito por uma pessoa que se apresenta como Karla Christine – lembrei até da Daniele Aparecida da TV Pirata – e que se diz Psicóloga Clínica. A mensagem vinha com o provocativo e valente título de A Psicóloga X Cazuza... Briga injusta, já que o nosso poeta já não está mais aqui pra responder ofensas, quem sabe podemos refletir um pouco em seu favor?

Na contra mão da história a tal psi entrou numa de dar uma de polícia ideológica em pleno final da década do milênio seguinte e, dizendo-se preocupada com o nariz, o cabaço e sabe-se-lá-mais o quê de sua filhazinha, escangalhou Cazuza taxando o cara de menino mimado, traficante, o caralho à quatro e que pessoas como ele não poderiam jamais serem endeusadas nem tidas como heróis ou modelos de nossa sociedade. Bom, defeitos todos nós os temos e pagamos caro por eles, o jovem Agenor Miranda pagou a sua conta em praça pública como todos bem nos lembramos com tristeza e saudade.

Pelo que parece, Cazuza era mesmo mimado pelos pais que deixaram o filho viver da maneira que queria. Mas, amigos, não é isso o que todo mundo quer? Ver seus filhos curtirem a vida, cometer suas loucuras, viver sua arte e suas paixões? Só não vive assim quem não tem escolha e vira escravo do sistema, deixa seus sonhos de lado pra viver atado à infinita corrente produtiva. A grande maioria das pessoas que amamos pena dessa maneira, talvez porque ainda não conseguimos nos organizar em uma outra forma de sociedade e, evidentemente, os rebelados pagam bem mais caro por sua liberdade.

Pra piorar, algumas coisas ditas pela psicóloga não eram de todo verdade, especialmente quando ela fala que Cazuza “só começou a gravar porque o pai era diretor de uma grande gravadora”. Há que se admitir, pelo menos, que os meninos tinham talento não é? Não fosse assim, ela teria pelo menos que explicar como é que o Barão Vermelho até hoje faz sucesso e é respeitado e querido em todo o país. Sorte talvez? Coincidência? Caetano Veloso cantou a pedra quando disse que Cazuza era o maior poeta de sua geração, aliás, alguém tem um “flint anti-monotonia” pra espirrar nessa chata de galochas?

Depois é citado um tal juiz Ciro Darlan – nem sei quem é – que afirmou que “a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não”. Cara, não me lembro de ter ouvido nenhuma poesia desse traficante em lugar nenhum, então não entendo porque é que o fato de compartilharem uma ligação qualquer com o universo das drogas o transformam na mesma coisa. É como dizer que quem toma uma pinga é um cachaceiro quando este não a fabrica apenas consome.

Cazuza era jovem, bonito, talentoso, famoso e de família tradicional. Esses caras queriam mais o quê? Que ele fosse eunuco, abstêmio e cristão carismático? Não quero fazer apologia às drogas, coisa que também acho uma merda, mas Deus me Livre de um mundo musicado apenas por Sandys e Padres Marcelos!!! Prefiro ficar com Piaf (viciada em morfina), Ray Charles (mesma coisa), aquela galera toda da bossa nova - que vivia em clínicas de desintoxicação, enfim: a lista é imensa, envolve quase todo mundo da música que vale a pena ser ouvida e muita da que não vale também...

Procurando fundamentar a sua tese, lá no final, a doutora Karla Coisada sapeca a explicação para o que aconteceu: “a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido.” Eita! Quer dizer que a Aids agora se aprende na escola? Ou será o contrário? Que na escola se ensina e fomenta a produção de poesia, de canções e da livre expressão do amor entre os seres humanos? Ensina nada! Nesse instante nossas crianças estão fazendo curso de robozinho, aprendendo os valores dessa sociedade de consumo hipócrita pra ter como lutar por um lugar no grid de largada dessa corrida contra o tempo, que é dinheiro, e “o tempo não para”. Poetas não se fazem assim, nenhum gênio que caminhou pelo mundo se fez através de meios convencionais de educação, nem teve pai nem mãe que dessem conta de segurar a onda. Por essa via tradicional temos apenas “pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem exigências (ADORNO)”.

Por último quero evocar a figura doce e rebelde de John Winston Lennon, um grande missionário da paz mundial, considerado um mártir, mas que também tinha lá as suas “peculiaridades”: era declaradamente usuário de maconha, entre outras drogas, e em algumas ocasiões até andou sendo grampeado pela meganha internacional. Imagine o John um cara careta, é muito difícil tentar... Ou então um sujeito religioso, apoiando guerras, Imagine John Lennon um herói militar (!)

Imagine também um gênio prontinho pra consumir. Ah sim, ele viria novinho, empacotado e esterilizado, dentro da lâmpada encantada de Aladin. Então querida: esfrega, esfrega, senta e espera... Porque a verdade é a seguinte: Não se fazem poetas dizendo NÃO, nem dizendo SIM! Nesse mundo existe quando muito um TALVEZ. E só pra arrematar, já que a bruaca é da área da psicologia: é preciso ressaltar que algumas das obras geniais de Sigmund Freud surgiram no embalo de muita cocaína... E nem por isso os austríacos deixaram de o homenagear com parques e estátuas.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

FALTA DE PRESENÇA DE ESPÍRITO É FODA

Dia de chuva parece que a gente nem consegue pensar direito, embaça a mente, sei lá. Hoje tive a idéia de responder coisas para pessoas, mas a oportunidade já tinha passado, aquele negócio de depois você pensar: “Poxa eu poderia ter dito tal coisa”.

Estava almoçando no restaurante de Marcos Ortiz, na Gruta da Onça e fui ao banheiro que fica ao lado da porta que dá acesso à cozinha. Antes mesmo de chegar perto uma moça de touquinha branca na cabeça me barrou dizendo que o bicho estava ocupado. Então esperei e logo entendi a razão de sua preocupação...

De dentro do banheiro dos homens me sai uma moça bonita, alta, de cabelos encaracolados que, meio sem graça e divertida, falou: “Você sabia que banheiro de homem é bem mais limpinho que de mulher?” Respondi sua simpática abordagem com um encabulado “é mesmo?”, ou algo assim, enquanto fechava a porta.

Depois pensei com meus botões: “Pode até ser mais limpinho, mas certamente não é tão bem freqüentado”. Afastei as divagações da cabeça como quem espanta pernilongos, me consolei com a idéia de meu status civil não me permitir ficar por aí disparando galanteios baratos como um paquerador de quinta categoria.

Caminhei pelo centro da cidade de marquise em marquise até o Banco do Brasil, na verdade sem muito me importar em ficar encharcado. Precisava sacar algum dinheiro e, antes de voltar pra casa, ainda tinha que achar um lugar pra comprar um novo estojo para minhas lentes de contato.

E a chuva não cedia.

Já saí do banco tentando acessar meu GPS mental na esperança de lembrar qual a ótica mais próxima e o sinal estava fechado. Esquadrinhei o outro lado da rua e vi a antiga fachada para a qual eu nunca havia prestado atenção: Magazine e “Óticas” Primo. Não me recordo de já ter comprado alguma coisa naquele lugar cafona, mas era o mais à mão, então dane-se o gambá!

Fui atendido por um rapaz que me vendeu o estojinho por cinco reais e escreveu o pedido num grande bloco de notas, daqueles de três vias. Eu ri da situação e ele falou constrangido que estava gastando mais papel do que o valor da minha compra, “mentalidade gerencial das antigas”, comentei meio solidário e diplomático.

Para chegarmos ao caixa tivemos que atravessar uns três ambientes diferentes, pude então perceber que a clientela era formada por senhores e senhoras já bem idosos, para quem, provavelmente, aquela era a “loja de departamentos” que a geração deles conheceu...

Depois de pagar, a moça do caixa devolveu minha minúscula compra numa sacola de plástico azul escuro, vinte vezes maior do que o produto, ainda tinha dentro um desses calendários hiper-cafonas. Era rastaquera e engraçado, me preparei para reencarar a chuva com a sensação de ter passeado no túnel do tempo.

Na saída, já passando pela porta, um senhorzinho vestido elegantemente de terno e gravata me jogou essa: “Rapaz bonito não paga”. Me perguntei se ele realmente tinha dito aquilo pra mim, tô pra te dizer que me chamar de “rapaz” foi bem mais elogioso do que de “bonito”, afinal, pode ter velho bonito, enterro bonito, agora rapaz... Me senti renovado, quase uma vítima de pedofilia.

Imagine só a situação: um homem barbado e pançudo que nem eu, do alto de minhas quatro décadas de roquenrous bem administrados, ser abordado por um biba geriátrica, duas da tarde, como se fosse algum fedelho cagão, filho de pai assustado.

Fui parar do outro lado da rua matutando uma resposta à altura, ainda que tardia. Escondido embaixo de uma marquise de madeira da obra de reforma do antigo Cinema Glória, pensei que poderia ter dito com ingenuidade e elegância (termo usado com ironia, por favor): Agora saquei porque é que chamam isso aqui de “O Magazine Alegre da Cidade”...