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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ADMIRÁVEL MUNDO SEMI-NOVO I

No início dos anos oitenta as empresas japonesas surpreenderam o mundo com uma série de produtos eletrônicos (reloginhos digitais, calculadoras e outras bugigangas) e estratégias de gerência inovadoras, era o boom do milagre japonês. Gigantes como a Sony, Honda, e Yamaha invadiram e conquistaram o mercado internacional, gerando uma série de piadas e ditos populares. Era comum ouvir coisas como: o alemão inventa, o japonês faz a miniatura, o paraguaio falsifica e brasileiro contrabandeia.

Naquela época também rolava a moda dos filmes de Karatê e Kung Fu, estrelados por Bruce Lee e seus cupinchas, destes o mais famoso seria o lendário Chuk Norris, alvo também de inúmeras piadas. Dizem, por exemplo, que o Chuk só dorme de luz acesa. Medo do escuro? Nada disso. É que a recíproca não é verdadeira...

No início da Avenida General Osório tinha o cinema “Vitorinha” que alternava sua programação com películas pornográficas e de artes marciais, dentro do costume capixaba de apelidar acabou ganhando a alcunha de Embaixada da China. Estrategicamente instalado bem em frente ao Vitorinha, ficava o ASCATÊ, uma academia de Karatê Shotokan comandada por um mestre baiano chamado Francisco.

No Ascatê conheci alguns amigos, hoje entre os mais antigos e fiquei tão viciado na parada que entrei numa de aprender a falar japonês. Arigatô no? Alguns amigos de meus pais, metidos a futurólogos da economia, viram em minha iniciativa um ato de inteligência, acreditavam que o mundo seria para sempre japonês... Hoje lamentam não terem estudado o mandarim...

A verdade é que o mundo muda e a gente nunca sabe pra onde.

Agora temos essa nóia dos concursos públicos. A maioria das pessoas que conheço não quer mais estudar pra fazer carreira em medicina, direito ou administração, porque tem que trabalhar feito um condenado pra ganhar a vida e competir num mercado infeliz que ainda se regula mais por relações de parentesco e conhecimento do que por competência. Sonham em ser funcionários públicos...

O problema é que com os concursos acontece uma coisa parecida com o vestibular para os cursos mais concorridos: só consegue passar quem pode parar tudo que está fazendo, pagar um bom cursinho e enfiar a cara no estudo. E quem está nessa situação no Brasil? Isso mesmo. Em nome da justiça e da democracia as mais cobiçadas vagas de emprego vão continuar sendo dos mesmos grupos, salvo, evidentemente, raras exceções.

Concurso virou sonho de carreira e de uma vida segura, especialmente na velhice. Quem seria capaz de afirmar isso há uns vinte anos atrás? Quem ia querer passar a vida enfurnado numa repartição pública? Virtualmente ninguém! O mundo muda a gente nunca sabe pra onde... Quem pode garantir que daqui há vinte anos o governo não dá um jeito de achatar esses salários e fazer um inferno a vida de quem hoje acha que está seguro e confortável?

Uma das principais razões para termos uma nação que sonha com cargos de funcionários públicos é que os gestores do país são lerdos, decretistas e estão pouco se lixando pra vida de quem quer começar o seu negócio. Nos anos oitenta era proibida a importação de instrumentos musicais, obrigando os músicos nacionais a se virarem com o que havia por aqui, ou cair no contrabando. Hoje acontece algo semelhante com as relações de mercado: a carga de impostos é tão elevada e a burrocracia tão irritante que é melhor sonhar em ficar quietinho ganhando seus cinco seis mil do governo mesmo do que ter que ter que aprender as práticas do suborno e da sonegação fiscal pra se manter no azul e conseguir dormir.

E eu vou aprender mandrim pra quê? O mundo todo já fala inglês. Next please!

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