Dizem as más línguas que o Cerveró, em suas andanças multinacionais, inspirou o pessoal da Disney na criação do Quasímodo de O Corcunda de Notre Dame. |
Daí que a tampa de meu
Ultrabook da Samsung começou a descolar, essa marca anda pisando na bola
ultimamente. Estava até pensando em comprar um smartphone da linha Galaxy,
mesma do meu tablet, mas depois de uma pesquisa mudei de ideia. Optei pela nova
sensação do momento cujo (cujo?) nome me pareceu divertido e contraditório para
um telefone: Zenfone. Já me imagino cedendo às tentações “Zenvergonhas” do
Zap-Zap com o qual nunca simpatizei, fiquei uns dois anos esperando a moda
passar, mas se você não pode vencê-los jogue uma praga...
Era uma e tanto da
tarde – traduzindo pro horário de verão capixaba: sol de meio dia a pino, do
mais estorricante verão de todos os tempos - caminhei debaixo daquela lua pela
Praia do Suá, até uma oficina na Cezar Hilal, pra ver se algum infeliz colava a
repimbela da parafuseta do computer. Bicho, não deu tempo nem de sentar. De lá veio
um sujeito corpulento e suarento – o que atualmente é até desculpável – com um computador
igual ao meu na mão e distraído me jogou o orçamento de R$588,00 (!) Agradeci
educado e falei que por um pouco mais comprava outro.
No Boulevard da Praia achei
duas “oficinas” do gênero: na primeira o técnico tinha ido almoçar, embora
saibamos e convenhamos o quanto é difícil arrumar um self-service às duas da
tarde aqui em Vitória, então fui pra outra. Não lembro mais a grosseria que a
moça da recepção me fez, mas dei-lhe uma patada sagitariana daquelas que depois
fico pensando “porra hoje eu não tô bom!” Fui socorrido por um rapaz muito mais
educado chamado Surrean, ou algo assim. Até pensei em perguntar se o pai dele era
destaque de escola de samba, mas o menino investigou o Ultrabook, sugeriu um
conserto que custaria noventa paus e disse que eu poderia passar para pegar no
fim da tarde. Que legal, problema resolvido. “Hashtag, só que não!”.
- O senhor tem
cadastro aqui na loja? – Ora, era a primeira vez que entrava ali. Daí Surrean começou
a perguntar meu CFP, telefone, endereço, email e – como diz o ex-presidente
Lula - o diabo aquático.
- Peralá gente, eu só
quero consertar o computador. Pra que é preciso esse monte de informações
pessoais? – A recepcionista, que devia estar babando pra devolver a grosseria,
correu pra se meter onde não fora chamada:
- Tem que fazer
cadastro, senão não pode fazer o serviço!
- Ah não? Então fala
pra mãe de vocês que eu achei ela bonita, tá? - Peguei o computador, meti de
volta na mochila e antes de sair ainda perguntei pros dois: - Vocês têm certeza?
- Tiveram.
Volto eu pra ver se o
outro cara já tinha quebrado a cara no almoço. Dito e feito. Só que esse também
não ia me ajudar e ainda sugeriu a outra lá do cabresto, quer dizer, do cadastro.
Contei a história, comentando que com a quantidade de golpes na praça, uma loja
de informática não era o lugar mais indicado para se deixar todas as
informações pessoais, né? O cara apenas sorriu aparentemente satisfeito com a
lambança da concorrência.
Como quem clama
sozinho no deserto, retomei a peregrinação ensolarada, me recuperando de uma
bronquite o perigo era desidratar. Parei pra tomar uma água de coco, pedi uma
garrafa logo. O cara perguntou: é piquê ou grã?
- Hein? – Retirei o
fone, estava ouvindo a sinfonia Titã, a primeira de Mahler e até lembrei que o
maestro Helder comentou que esse ano nossa sinfônica vai a apresentar. Escolhi
a grande imaginando que seria aquela garrafinha branca fosca. Vem o cara com
uma garrafa pet de todo tamanho. Saio pela rua carregando minha enorme garrafa pet,
assombrado pela inefável sensação de imbecilidade e o canudinho não chegava nem
na metade.
Voltei pra casa
pensando em consultar o Procon e acabei esquecendo. De noite postei o assunto
no Facebook, mas de maneira geral, porque de uns tempos para cá mesmo em
compras à vista os lojistas têm insistido em tentar arrancar nossas informações
pessoais. Detesto telemarketing, portanto, da mesma maneira não costumo passar
meu telefone pras lojas. Fico imaginando que esse cadastro pode ser depois
revendido ou usado em falcatruas, todos os dias os telejornais alertam para
golpes desse naipe. O post não abalou muita gente, mas depois de um comentário
de minha prima Bernadete lembrei dum causo pra contar que bombou com mais de cento
e tantos likes e comentários...
Vinha pela rua quando
o meu celular tocou. Era uma moça da Vivo querendo me falar de uma “promoção” e
antes de dizer o que era perguntou se eu trabalhava como autônomo ou “de
carteira assinada”. Primeiro que eu não tinha pedido pra ninguém me ligar,
segundo que o que eu faço não é da conta da Vivo, daí respondi mal criado: “nem
uma coisa nem outra”. A boboca, ao invés de me pedir para explicar, perguntou
surpresa: “O senhor não trabalha?” Num surto de presença de espírito confessei,
sexy que nem o Wando: “Sabe qual é querida? Tem aí uma loira que me sustenta em
troca de favores sexuais”. Ora, sabe-se-lá-por-que, nunca mais me ligaram.
P.S. Só a título de
final feliz. Acabei consertando o computador ainda naquele dia, num lugar
chamado Intervip, ali da Praia do Suá. Pasmem, por apenas R$60,00...
Sinceramente espero que a pessoa que colocou o dela pra consertar na outra por
quase 600 contos não esteja me lendo neste instante...