Páginas

Mostrando postagens com marcador Smartphone. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Smartphone. Mostrar todas as postagens

sábado, 24 de janeiro de 2015

UM CONSUMIDOR SEXY QUE NEM O WANDO


Dizem as más línguas que o Cerveró, em suas andanças multinacionais, inspirou o pessoal da Disney na criação do Quasímodo de O Corcunda de Notre Dame.


Daí que a tampa de meu Ultrabook da Samsung começou a descolar, essa marca anda pisando na bola ultimamente. Estava até pensando em comprar um smartphone da linha Galaxy, mesma do meu tablet, mas depois de uma pesquisa mudei de ideia. Optei pela nova sensação do momento cujo (cujo?) nome me pareceu divertido e contraditório para um telefone: Zenfone. Já me imagino cedendo às tentações “Zenvergonhas” do Zap-Zap com o qual nunca simpatizei, fiquei uns dois anos esperando a moda passar, mas se você não pode vencê-los jogue uma praga...

Era uma e tanto da tarde – traduzindo pro horário de verão capixaba: sol de meio dia a pino, do mais estorricante verão de todos os tempos - caminhei debaixo daquela lua pela Praia do Suá, até uma oficina na Cezar Hilal, pra ver se algum infeliz colava a repimbela da parafuseta do computer. Bicho, não deu tempo nem de sentar. De lá veio um sujeito corpulento e suarento – o que atualmente é até desculpável – com um computador igual ao meu na mão e distraído me jogou o orçamento de R$588,00 (!) Agradeci educado e falei que por um pouco mais comprava outro.

No Boulevard da Praia achei duas “oficinas” do gênero: na primeira o técnico tinha ido almoçar, embora saibamos e convenhamos o quanto é difícil arrumar um self-service às duas da tarde aqui em Vitória, então fui pra outra. Não lembro mais a grosseria que a moça da recepção me fez, mas dei-lhe uma patada sagitariana daquelas que depois fico pensando “porra hoje eu não tô bom!” Fui socorrido por um rapaz muito mais educado chamado Surrean, ou algo assim. Até pensei em perguntar se o pai dele era destaque de escola de samba, mas o menino investigou o Ultrabook, sugeriu um conserto que custaria noventa paus e disse que eu poderia passar para pegar no fim da tarde. Que legal, problema resolvido. “Hashtag, só que não!”.

- O senhor tem cadastro aqui na loja? – Ora, era a primeira vez que entrava ali. Daí Surrean começou a perguntar meu CFP, telefone, endereço, email e – como diz o ex-presidente Lula - o diabo aquático.

- Peralá gente, eu só quero consertar o computador. Pra que é preciso esse monte de informações pessoais? – A recepcionista, que devia estar babando pra devolver a grosseria, correu pra se meter onde não fora chamada:

- Tem que fazer cadastro, senão não pode fazer o serviço!

- Ah não? Então fala pra mãe de vocês que eu achei ela bonita, tá? - Peguei o computador, meti de volta na mochila e antes de sair ainda perguntei pros dois: - Vocês têm certeza? - Tiveram.
Volto eu pra ver se o outro cara já tinha quebrado a cara no almoço. Dito e feito. Só que esse também não ia me ajudar e ainda sugeriu a outra lá do cabresto, quer dizer, do cadastro. Contei a história, comentando que com a quantidade de golpes na praça, uma loja de informática não era o lugar mais indicado para se deixar todas as informações pessoais, né? O cara apenas sorriu aparentemente satisfeito com a lambança da concorrência.

Como quem clama sozinho no deserto, retomei a peregrinação ensolarada, me recuperando de uma bronquite o perigo era desidratar. Parei pra tomar uma água de coco, pedi uma garrafa logo. O cara perguntou: é piquê ou grã?

- Hein? – Retirei o fone, estava ouvindo a sinfonia Titã, a primeira de Mahler e até lembrei que o maestro Helder comentou que esse ano nossa sinfônica vai a apresentar. Escolhi a grande imaginando que seria aquela garrafinha branca fosca. Vem o cara com uma garrafa pet de todo tamanho. Saio pela rua carregando minha enorme garrafa pet, assombrado pela inefável sensação de imbecilidade e o canudinho não chegava nem na metade.

Voltei pra casa pensando em consultar o Procon e acabei esquecendo. De noite postei o assunto no Facebook, mas de maneira geral, porque de uns tempos para cá mesmo em compras à vista os lojistas têm insistido em tentar arrancar nossas informações pessoais. Detesto telemarketing, portanto, da mesma maneira não costumo passar meu telefone pras lojas. Fico imaginando que esse cadastro pode ser depois revendido ou usado em falcatruas, todos os dias os telejornais alertam para golpes desse naipe. O post não abalou muita gente, mas depois de um comentário de minha prima Bernadete lembrei dum causo pra contar que bombou com mais de cento e tantos likes e comentários...

Vinha pela rua quando o meu celular tocou. Era uma moça da Vivo querendo me falar de uma “promoção” e antes de dizer o que era perguntou se eu trabalhava como autônomo ou “de carteira assinada”. Primeiro que eu não tinha pedido pra ninguém me ligar, segundo que o que eu faço não é da conta da Vivo, daí respondi mal criado: “nem uma coisa nem outra”. A boboca, ao invés de me pedir para explicar, perguntou surpresa: “O senhor não trabalha?” Num surto de presença de espírito confessei, sexy que nem o Wando: “Sabe qual é querida? Tem aí uma loira que me sustenta em troca de favores sexuais”. Ora, sabe-se-lá-por-que, nunca mais me ligaram.

P.S. Só a título de final feliz. Acabei consertando o computador ainda naquele dia, num lugar chamado Intervip, ali da Praia do Suá. Pasmem, por apenas R$60,00... Sinceramente espero que a pessoa que colocou o dela pra consertar na outra por quase 600 contos não esteja me lendo neste instante...