Esta décima nona edição do Festival de Inverno de Domingos Martins levou o conceito de "choque cultural" ao extremo. O exemplo mais explícito aconteceu no início da noite de domingo quando rolou um encontro de violeiros com o som mais raiz que o sertanejao já concebeu e na sequencia entrou uma orquestra de cordas polonesa tocando Mozart, Respighi e o melhor do repertório clássico. Taí um clique da Orquestra Capela Bydgostiensis que é regida pelo brasileiro José Maria Florêncio.
O Capela tinha já se apresentado no Festival do ano passado e enquanto eu conversava com o regente comentei da peça Orawa do compositor Wojcieck Kliar que eu tinha gostado muito. Daí ele disse que ia apresentar a peça outra vez porque era a mais moderna do repertório e sabia que o público não ia lembrar. Só que na hora da apresentação Florêncio explicou que o grupo ia reprisar a peça a pedido de uma pessoa do lugar, pensando que eu fosse local. Bom, certamente estávamos distante demais da Polônia...
Um dos momentos mais tocantes - em vários sentidos - do Festival de Inverno de Domingos Martins foi o da apresentação da Fames Jazz Band. As participações especiais de Antonio Paulo Filho e de Dalila Gusmão foram de dar um nó na garganta. O Toninho, como é conhecido o maestro, se fora nascido do lado de cima (levando-se em conta o mapa mundi tradicional) seria reconhecidamente uma lenda do jazz. Na foto vemos Dalila, nervosa com a estréia, assumindo os teclados da Jazz Band. Para quem não está entendo, a moça é deficiente visual e figura queridíssima na Faculdade de Música. Pura emoção!
Os pequeninos integrantes da Orquestra Jovem do Festival de Inverno encantaram o público. A coordenadora da oficina de prática de orquestra, Mozineide Schultz, estava impressionada com a seriedade e o profissionalismo dos meninos e meninas. Na foto tem a Manu, a menorzinha, esperando a hora de entrar em ação sob regência do professor e maestro Ademar Rocha.
A penúltima atração do Festival de Inverno de Domingos Martins foi a dupla sertaneja Edson Mineiro e Goiano - que curiosamente é de Vila Velha - e o líder da banda tem aquele jeitão despachado e brincalhão das pessoas do interior. Como o público demorou um pouco pra se achegar do palco ele disparou o comentário: "Vem pra cá minha gente, num deixa nóis passá vergonha sozinho não!"
No detalhe: Edson chamando "meu povo e minha pova" pra dançar |
Uma das participações mais surpreendentes e bonitas do Festival de Inverno de Domingos Martins foi de Jamie Machler (informação de Edilson Barboza diretor da Fames), uma norte americana de Seatle muito tímida que veio às terras tropico-capixabas para participar da oficina de sanfona e concertina - que aconteceu em Melgaço - e cantou uma canção de Luiz Gonzaga com um sotaque delicioso, mesmo porque a moça não entendia uma vírgula de nosso idioma.
Edilson disse que a moça chorou copiosamente na hora de voltar pra gringolândia, talvez porque tenha descoberto o sentido da máxima proferida pelo saudoso Tom Jobim:
"Viver nos EUA é maravilhoso, mas é uma merda; viver no Brasil é uma merda, mas é maravilhoso!"
"Viver nos EUA é maravilhoso, mas é uma merda; viver no Brasil é uma merda, mas é maravilhoso!"
CURIOSIDADE INÚTIL: Chamava atenção em Domingos Martins o triciclo "Ghost Ride" (SIC), como diria meu amigo Paulo Sardenberg, mais enfeitado que sela de burro de cigano...
O pessoal do mega famoso grupo Falamansa quando chegou ao Festival viu o grande painel com Luiz Gonzaga no palco e se intrigou com a outra figura, queriam saber quem era. Veio então um rapaz da produção descobrir e me pediram para explicar que aquele era Claude Debussy, compositor francês, o cara do impressionismo etc. Enquanto o salameléktrico rapaz agradecia, eu, que ia apresentar o show, aproveitei pra também tirar as minhas dúvidas: agora me fala um pouquinho quem é o Falamansa porque eu também não sei...
O maestro Helder Trefzger conversando com o público durante a linda apresentação da Orquestra Camerata SESI, atrás vemos o painel que intrigou o Falamansa... Falassério... |
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