Então ela começou a beijar meu peito timidamente dando a entender com um discreto ou tímido gesto de mão que aquele era o momento em que eu deveria me livrar das calças, nem acreditei quando a vi descer em direção ao bifurcamento de minhas pernas. Era a primeira vez que a gente saía, não imaginava que fosse rolar nada além de alguns amassos. Pois ali, e só por lá, fomos felizes até o final. Curiosamente nunca passamos daquele ponto inicialmente estabelecido, o sexo oral era o limite. Visitei sua cidade algumas vezes e aquela meia transa tornou-se um programa obrigatório, uma espécie de turismo sexual, no bom sentido, se é que isso existe...
Nos conhecemos dentro de uma sapataria que era passagem de um restaurante onde eu tinha almoçado, quando a vi pensei que já a conhecia de algum lugar, curioso como a maioria das paixões acontece assim, como se já esperássemos o aparecimento daquela pessoa estranha que em pouco tempo deixaria de o ser. A surpresa e a certeza apenas em um mero olhar. Tem quem enxergue isso de maneira mais prática, Renato Gaúcho, o meu filósofo do sexo favorito, costumava dizer: “Você sabe quando uma mulher quer te dar, só pela maneira como ela te olha”. Pode existir sabedoria na baixaria? Paquerei uma garota míope que tinha vergonha de usar óculos e isso atrasou o início de uma relação que também não haveria de durar.
A surpresa é sempre lembrada como uma das coisas básicas na arte: valorizamos aquilo que nos surpreende, como um presente desejado e inesperado, quando menos achamos quê temos em nossas mãos – ou coisa que o valha – nosso obscuro objeto do desejo.
Vivemos nessa gangorra: desejo irreal e busca por sua satisfação que quando acontece nos pega de surpresa e, quando a temos como certa e não rola, nos decepciona, às vezes, profundamente.
Vaidades das vaidades: possuir algo reconhecidamente belo em seu meio e só através desse objeto poder se tornar alguém e se valorizar. A necessidade de consumo de convívio, alguns começam coleções: eu já peguei aquela e aquela, aquela ali também...
Depois a reencontrei, muitos anos depois, uma jovem mulher madura, casada e feliz. Disse na lata que eu estava diferente e, ora, muito diferente ela estava também! O tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém.
Lembrei de uma famosa atriz que costumava ser fotografada pelo mesmo profissional. Já bem mais para lá do que para cá, verificando o resultado de suas tradicionais sessões ela comentou: nossa fulano - não lembro o nome dos dois - por que é que você não tira mais fotografias minhas como antigamente? Daí ele sábio e muito elegante, mas muito mesmo, respondeu: deve ser porque eu estou ficando velho e já não fotografo mais como antigamente...