Cheguei à adolescência em plenos anos oitenta, a chamada década perdida. Fomos tachados de “geração coca-cola” e o termo “alienado” era frequentemente usado para definir a direção em que vagava o gosto da época, especialmente nossos ingênuos esforços de roqueiros botocudos. O cenário social mudou tanto de lá pra cá que hoje, como tantas outras coisas, nem a própria alienação pode mais ser vista com preconceito. Pelo contrário, os temas que exaltam bobagens bombam pela internet, os outros, bem, são os outros tanto perdidos pelos mares cibernéticos.
Hoje podemos saber de quase tudo que encafifou a humanidade por séculos, por exemplo: a Atlântida nunca existiu mesmo, muito menos os discos voadores e o famoso triângulo das bermudas é apenas um conjunto de botecos em Vitória. Se alguma dessas coisas existisse as provas já estariam online há muito tempo, inclusive para baixar de graça no Pirate Bay. James Cameron mostrou que Jesus foi enterrado onde existe um condomínio classe média de Jerusalém, mas a Rede Globo, compreensivelmente, achou mais importante cobrir o show de Roberto Carlos.
Preste atenção nos tópicos colocados no Facebook, por exemplo. As tentativas de levantar discussões sérias são geralmente ignoradas, enquanto frases sem sentido e fotografias exóticas bombam com incentivos de deslumbre e prazer. Talvez eu é que esteja ficando velho, sabe? A própria iniciativa de reclamar dessas coisas em público é já um sinal. Um amigo meu disse que está apaixonado por uma garota Argentina, uma garota de prata, que por ela iria até o inferno. Daí falei solidário que acho que é por lá mesmo que esse negócio fica.
Outra coisa que dá popularidade é mulher com pouca roupa, de preferência sem nada, na cabeça, exclusive. Não sei por que é que ainda não criei a Garota da Letra Elektrônica. Um dia desses assisti trechos – foi curiosidade mórbida, mas sei que vocês também vão ficar – de uma paródia pornográfica do filme Spiderman. Olha: já dizia aquele cara, naquele filme sobre música: o segredo de nossa arte reside na surpresa. E podem ter certeza que as surpresas da referida película são muitas. Aliás, vi esse negócio depois que achei um comentário assim: and I laugh, and I laugh, and I laugh...
Ontem a Jaqueline me convidou para escrever um texto sobre o aniversário de Vitória, então comentei: pois é: a gente fala tanto mal de nossa cidade não é? É praticamente uma coisa cultural do capixaba. Pena que estou sem tempo pra escrever, to pendurado com um monte de textos e nunca fiz uma declaração de amor à nossa “cidade sol com o céu sempre azul...” Então ela falou animada: pois é Juca, agora é a hora!
Não, eu acho que não...