terça-feira, 23 de abril de 2013
domingo, 21 de abril de 2013
NOS BRAÇOS DE MORFEU E COM A IDADE DE CRISTO QUANDO MORREU!
A minha
felicidade está sonhando
Nos olhos da
minha namorada
Outro dia acordei com
uma frase na cabeça que achei genial para iniciar um livro. A frase era grande,
praticamente um parágrafo, cheia de voltas e retóricas. Daí o despertador tocou,
minha mulher desligou e voltou a dormir. Era domingo, mas eu sabia que ela
tinha um compromisso logo cedo, daí perguntei da forma mais carinhosa que
consegui:
- Você não está com
medo de perder a hora não? – Ela me respondeu de olhos fechados como se
estivesse hipnotizada, ou envolta em grossas e misteriosas brumas.
- Eu já coloquei o
despertador para tocar. – Esperei um pouco e raciocinei embaixo das cobertas
atrás de uma nova estratégia. Aqui em casa, por precaução e carinho, eu levo a
sério aquela coisa do Vinícius de Moraes pedir para falarem baixo, por favor,
pra que ela acorde alegre como o dia oferecendo beijos de amor...
Mas enquanto isso o diabo
do tempo estava passando...
- Você sabe que o
despertador já tocou não é?
- Humn? – Ursinhos, grandes
pirulitos coloridos, meninas loiras de Maria Chiquinha correndo atrás de
coelhinhos saltitando e um grande cogumelo pavarótico cantando “amazing grace”...
O resto era o vento nas árvores e o silêncio.
- Foi você mesma quem
desligou ele meu bem. – Nesse momento, de repente, seus olhos se abriram
assustados e o leve sorriso de bonança desapareceu de seu rosto.
- Eu desliguei? Eu nem
ouvi ele tocar... – Comecei a rir enquanto ela se debruçava novamente para ver
se eu estava falando a verdade... Voltou e colocou a mão na testa.
- Putz! – Sorri solidário,
beijei seu rosto e falei:
- Feliz aniversário
meu amor!
... E nunca, nunca
mais vou saber novamente qual era, ou como era, a tal frase genial para iniciar
um livro.
Para Alice Nascimento
no dia de seu aniversário. Essa crônica é um presentinho de pobre,
como diria meu muito querido poeta Manuel Bandeira em suas flautas de papel. Aquela
canção que para você eu nunca escrevi. LOVE!
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Juca Magalhaes
quarta-feira, 17 de abril de 2013
CORAL ARCELORMITTAL TUBARÃO É ATRAÇÃO EM CONCERTO DE PÁSCOA
Numa
promoção do Instituto Todos os Cantos, o Coral ArcelorMittal Tubarão
vai realizar sua primeira grande apresentação do calendário 2013. Um
Concerto de Páscoa que acontecerá dia 26 de abril, no Teatro do Sesi,
com entrada gratuita. O repertório privilegia, naturalmente, a música
sacra mostrando várias facetas da expressão espiritual ao redor do
planeta, serão apresentadas peças de Tchaikovsky (Russia), Verdi
(Itália), Liszt (Hungria), Camargo Gaurnieri (Brasil), entre outros, e
até um “Pai Nosso” composto pelo regente Adolfo Alves.
A apresentação conta ainda com a participação de vários cantores solistas e instrumentistas entre os coristas que integram esse grupo que é um dos mais antigos e tradicionais do Espírito Santo, fundado em 1986. A regência do coro e direção geral deste espetáculo é do maestro Adolfo Alves - que ininterruptamente dirige corais há mais de cinquenta anos - é também conhecedor profundo de música clássica e explica a importância da arte musical na celebração da Páscoa:
O
calendário litúrgico cristão tem várias datas em que são celebrados ou
relembrados momentos da vida de Cristo ou de seus ensinamentos. Duas
dessas datas têm mais evidência em todo o mundo não apenas pelo que se
celebra, mas por causa de tradições e costumes paralelos que foram se
formando em torno delas: O Natal e a Páscoa. Durante séculos foi criada
muita música especial para essas celebrações, de maneira que hoje temos
um grande repertório coral de cantos natalinos e pascoais.
Essas
ocasiões são também ricas em poemas clássicos que foram usados por
grandes compositores em obras que se tornaram célebres. Destaca-se a
festa de Corpus Christi, cuja sequentia e outros textos são de autoria
de S. Tomas de Aquino, de onde vêm o Pange Lingua, Ave Verum Corpus,
Panis Angelicus, Jubilate Deo e outros. Alguns desses textos serão
cantados na língua original – geralmente o latim - ou em inglês,
português, italiano, etc.
O
Coral ArcelorMittal Tubarão mostra, assim, algumas dessas páginas
sacras, não exatamente como mensagem religiosa, mas com o intuito de
resgatar obras artísticas que já se vão perdendo na bruma do tempo. Mas
não podemos desprezar ou esquecer o lado religioso especialmente para
contrapor ao momento de violência, falta de solidariedade e materialismo
que ora vivemos e que nos trazem tanta insegurança e tristeza.
Continuamos a acreditar que a MÚSICA EDUCA PARA A PAZ e assim seguimos A
CANTAR EM TODA PARTE COM ALEGRIA, AMOR E ARTE.
FICHA TÉCNICA
Concerto de Páscoa
Coral ArcelorMittal Tubarão
Dia 26 de abril de 2013. 20 horas.
Local: Teatro do SESI.
Rua Tupinambas, 240. Jardim da Penha.
Informações ITC: 27 3033 9010.
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SESI
quarta-feira, 10 de abril de 2013
ANTIGAS MESSALINAS - PROIBIDAS E INCOFESSÁVEIS
Afonso era filho de
uma família tradicional de imigrantes portugueses, donos de propriedades em
áreas nobres da cidade e estabelecimentos comerciais importantes. Gostava de
enfatizar um traço espanhol qualquer que havia em seu sangue, nunca entendi
muito bem porque, parecia uma implicância qualquer com sua gente da terrinha,
mas não tinha nada a ver com o estereotipo brasileiro de português não ser
muito inteligente ou coisa que o valha.
Afonso era um cara que
mascou, apesar da fortuna e de ser “bem nascido” não deu pra nada das coisas
práticas da vida e, não sei se por isso, virou uma fruta às vezes azeda, às
vezes amarga. Também não sei se estudara a ponto de ser formado em alguma coisa
ou professar uma profissão, nem que fosse de professor. Por conta da fortuna da
família nunca precisou trabalhar e muito menos o quis. Casar também não casou,
aliás, sua orientação sexual, digamos assim, era muito temerária em sua
juventude e maturidade, passível até de punição com cadeia.
Atravessou a vida
ligeiramente bêbado - muitas vezes completamente - mas seu auge foi nos anos
setenta, quando usava os cabelos castanhos um pouco compridos e grossas
costeletas de Mi Buenos Aires Querida.
Ora, não só pela fortuna que herdara, algumas mocinhas casadoiras o achavam
atraente e passível de um flerte. Não, nunca foram e nem seriam correspondidas.
Afonso viveu foi uma paixão alucinada com um rapaz bastante humilde que
trabalhava em uma peixaria. E pensaria com desgosto seu pai se fosse vivo: mas
esse bosta nem sequer é o proprietário do estabelecimento?
Vestia camisas de
cetim estampadas, mas de cores sóbrias e grossos cordões de prata, nunca seria
visto de calça jeans e tênis, quando muito um chinelo de Franciscano. Muito
menos daria a doida de se vestir de Cinderela, mas no fundo esperava o príncipe
encantado chegar para resgatá-lo daquela miséria toda e serem felizes para
sempre.
Por saber que seus
sonhos nunca se realizariam, era cínico e sarcástico para com as pretensões do
alheio, parecia supor e até desejar que todo mundo fosse dar em nada exatamente
como sua vida dera. Esse seu aspecto era bastante detestável, mas fora moldado
à custa de muito sofrimento, sozinho desde pequeno em instituições de ensino
onde foi sumária e reiteradamente surrado e seviciado. Em seu sono falava e
soltava gritos sonâmbulos, não se sabe se de terror ou de prazer. Talvez os
dois.
Gostava de ler e de se
deixar ver enfiado e compenetrado em livros; obviamente, ele mesmo nunca
escreveu nada, nem mesmo memórias, porque acreditava realmente e por toda a
vida que fosse o que fizesse jamais iria resolver coisa alguma. Para ele o
mundo não tinha jeito. Era condenado a dar o desprezo porque entendia que aí
residia sua verdadeira herança, no abandono e na desilusão. Aliás, sofreu muito
quando seu peixeiro o trocou por um funcionário público federal, um rapaz mais
jovem que acabaria um dia assassinado de maneira tenebrosa em um daqueles
encontros amorosos “proibidos e inconfessáveis”.
Não era um cara muito
falante, era reservado, mas depois de umas biritas - e quando se sentia seguro -
gostava de contar histórias picantes de seu universo homossexual. Falava
especialmente de um amigo que, muito diferente dele, resolvera contrair o
matrimônio e até gerara filhos “cada um mais lindo do que o outro”, comentava
com espanto e talvez despeito. O amigo casou, mas, disse ele, nunca se vira no
mundo pessoa mais sexualmente degenerada. Passou quase toda a festa das bodas
dentro do banheiro dos homens servindo aos convivas, sim, e ainda rebatia com
uísque. Era, como lembrava divertido em suas recordações, “uma Messalina
desvairada”.
Um dia Afonso morreu -
incógnito como atravessara toda a vida - sem deixar herdeiros para seus
vencimentos que devem ter ido parar nas mãos daqueles que mais desprezava e que
aqui não fazem nenhuma diferença. O encontrei por acaso pouco tempo antes disso,
suponho, porque também nem sei direito quando se deu a libertação de seu longo cativeiro. Eu estava olhando
um disco de Chabrier numa loja do Centro da Praia e mostrei para Afonso que deu
a entender que já conhecia, talvez por não admitir alguma pequenez em seu saber
enciclopédico, ainda mais perante um guri como eu.
Conversamos depois
sobre os velhos tempos e que muitas senhoras falavam de uma pessoa em comum com
saudades. De seu jeito amargo que aparentemente se acentuara ao ver o ocaso à
menor distância, Afonso me respondeu quase às lágrimas:
- Elas mentem Juca, as
mulheres mentem...
O tempo voava, então
voltei para o escritório onde trabalhava e peguei o carro; indo para casa
passei pelo mesmo lugar onde nos encontráramos que ficava bem perto e o vi,
indo embora também. Era o início da noite num dia de semana qualquer. Afonso
tentava a travessar a rua, agora mais acentuadamente bêbado que um gambá. Soltava
palavrões trôpegos e discutia com os carros velozes na penumbra da noite,
parecia um maluco enquanto ajeitava a camisa de seda que devia ter se
enganchado por acidente na bicicleta de um passante qualquer.
Depois Afonso sumiu, eu
sei lá, deve ter virado fel...
domingo, 7 de abril de 2013
O ESTRANHO OFÍCIO DE ESCREVER
Li faz pouco tempo que
a falta de assunto é um dos melhores temas para escrever e foi drama ou solução
para meus heróis de antigamente - ultimamente mais presentes - Rubem Braga e
Fernando Sabino. Gostaria mais de ler os outros de quem eles falam muito (como
Paulo Mendes Campos, Helio Pelegrino e o nosso Carlinhos Oliveira), mas, curiosamente,
não é nada fácil encontrar livros nas livrarias, especialmente quando estamos querendo
e quando estamos precisando é que não achamos mesmo.
Tanto Rubem Braga
quanto Fernando Sabino escreveram crônicas sobre as necessidades e as
dificuldades de se parar de fumar o danado do cigarro. Falam do vício como uma
antiga paixão, uma loucura obsessiva cheia de esses e não como um vício para o
qual hoje muita gente torce o nariz. Acho que ambas as crônicas foram escritas
em meados dos anos oitenta e, salvo engano a do Rubem vem do livro “Recado de
Primavera” e a do Sabino vem de “A Falta que Ela me Faz”.
É muito fácil criticar
um vício quando a pessoa nunca teve necessidade dele, é como padre fazendo
sermão sobre o amor conjugal, aconselha, analisa, mas não entende bem do
assunto... E, como diz o Góis, se entende não deveria. Reproduzo-lhos então uma
croniqueta de Fernando Sabino sobre esse miserê estranho e solidário do ofício
de escrever, só para emprestar uma dimensão da dor e da delícia que se
equilibravam diariamente os nossos cronistas.
ÉRAMOS três condenados
à crônica diária: Rubem no “Diário de Notícias”, Paulo (Mendes Campos) no “Diário
Carioca” e eu no “O Jornal”. Não raro um caso ou uma ideia, surgidos na mesa do
bar, servia de tema para mais de um de nós, às vezes para os três. Quando caiu
um edifício no Bairro Peixoto, por exemplo, três crônicas foram por coincidência
publicadas no dia seguinte, intituladas respectivamente: “Mas não cai?”, “Vai
Cair” e “Caiu”.
Até que um dia, numa
hora de aperto, Rubem perdeu a cerimônia:
- Será que você teria
aí uma crônica pequenininha para me emprestar?
Procurei nos meus
guardados e encontrei uma que talvez servisse: sobre um menino que me pediu um
cruzeiro para tomar uma sopa, foi seguido por mim até uma miserável casa de
pasto na Lapa: a sopa existia mesmo, e por aquele preço. Chamava-se “O Preço da
Sopa”. Rubem deu uma melhorada na história, trocou “casa de pasto” por “restaurante”,
elevou o preço para cinco cruzeiros, pôs o título mais simples de “A Sopa”.
Tempos mais tarde
chegou a minha vez – nada como se valer de um amigo nas horas difíceis:
- Uma crônica usada,
de que você não precisa mais, qualquer uma serve.
- Vou ver o que posso
fazer – prometeu ele.
Acabou me dando de
volta a da sopa.
- Logo esta? –
Protestei.
- As outras estão
muito gastas.
Sou pobre mas não sou
soberbo. Ajeitei a crônica como pude, toquei-lhe uns remendos, atualizei o
preço para dez cruzeiros e liquidei de um vez com ela, sob o título: “Esta Sopa
Vai Acabar”.
Fernando Sabino
Crônica "O Estranho Ofício de Escrever"
Livro "A Falta Que Ela Me Faz", Editora Record, 1980.
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