Marcio foi arrancado
do sono com o barulho no meio da madrugada, pensou assustado que tinha ido
dormir e esquecera a televisão ligada na sala, pior ainda, com o volume lá nas
alturas. “Rapaz, meus vizinhos vão me matar!”
Alice, Amanda, Monika,
Érika Sabino, Rosiane Caldas, Claudia Beatriz, Suélly Brandão, Andrea Castro e
mais uma galera sequer conseguiram dormiram direito, tinham algo em comum naquela madrugada: um
trio elétrico invadiu a sua casa!
Ainda era noite do dia
18 de junho, véspera do feriado de Corpus Christi, quando fui me deitar. Estava
meio resfriado, culpava o vento sul – eufemismo para o inverno dos capixabas –
que, aliás, ajudaria a propagar a tal da zoeira para dentro do bairro, do
quarto e da minha cabeça. Passei boa parte da noite sem conseguir respirar
direito, acordei duas e pouco com as paredes do prédio tremendo. Levantei
cambaleando: “O mundo tá acabando?” Ganhei o corredor e encontrei Alice jogando
paciência no computador. “Que diabos está acontecendo?”
Mandei um pedido de
socorro pela Internet: “Tem uma banda baiana apavorando Bento Ferreira!” Depois
dizem que baiano é preguiçoso, olha aí essa galera queimando o óleo da meia
noite. Era 3:16 da madrugada quando postei a frase indignada na “timeline” do “Livro das Caras”, pegando
emprestado um termo de Jace Theodoro. Logo descobri que os vizinhos do prédio e
das redondezas também experimentavam a mesma insônia compulsória.
Márcio, mora duas ou
três quadras para dentro do bairro, quando foi na sala ver a televisão desligada
é que percebeu os fachos de luz sobre o Clube Álvares Cabral.
Alice tentava ligar
para o serviço de Disque Silêncio, soltava impropérios toda vez que dava
ocupado. O bairro inteiro devia estar ligando ao mesmo tempo.
Os primeiros a comentar
minha postagem (foram mais de cinqüenta) eram músicos profissionais
aproveitando para se queixar da perseguição que sofrem ao fazer um som na conservadora
noite capixaba. Por que esses caras podem fazer pior? Boa pergunta. Nesse meio
tempo atendeu no Disque Silêncio um rapaz que oscilava entre impotente e pasmado.
Disse que já haviam feito medições em dois apartamentos, a primeira (uma da
manhã) deu dez pontos acima do limite de decibéis tolerado; a segunda (três da
manhã!) cravou mais de dez pontos acima da primeira!
A fuzarca tinha nome
de “Carnafacul”, e em seu site é apresentada como “O maior evento universitário
do Brasil”. Grande mesmo o negócio, grande e barulhento. O rapaz do Disque
Silêncio explicou que, após a primeira verificação, a empresa organizadora fora
alertada da possibilidade de multa e prometera diminuir o som. Duas da matina decolava o
trio elétrico (de verdade mesmo) de um tal Bell Marques (sei-lá-quem-é), rasgando impunemente o que
já não era um absoluto silêncio com seus Ôooôs, Êeeês, Iáiaiás.
Perder uma bela noite de sono? Há suspeitas... |
Esse episódio é muito
sério, porque mostra como a
falta de bom senso de uns gera a intolerância de outros. Quando pequenos grupos
cometem esses atos de vandalismo sonoro a reação do grupo maior prejudicado é geralmente
radical, como um pai exasperado que fala
para os filhos “eu não quero ouvir nem mais um pio!”. Ou seja: depois que uma
pessoa já perdeu o sono e se aborreceu, não adianta mais “pedir pra abaixar o
som”, qualquer volume incomoda. E também é besteira achar que um cara que já está de "saco cheio", vai aceitar depois ser um pouco menos atormentado.
Graças ao Deus dos
católicos era feriado no dia seguinte, só conseguimos dormir de novo lá pelas
cinco da matina, acordamos era já quase meio-dia. Foi aí que Alice deu a idéia:
“Bora descobrir onde os caras estão hospedados e vamos lá fazer um buzinaço?” A ideia era boa, ainda mais que
eu estava "doidin" pra descobrir quem organizara a festa e poder manifestar minha opinião
sincera quanto ao comportamento social de sua genitora.
Deixei um recado até educado no Facebook da empresa (i)responsável pela festa, ao invés de desculpas fui respondido com evasivas profissionais, disseram que estava tudo dentro dos conformes. É uma pena, porque desse jeito a área verde do Álvares vai acabar interditada. Desejei sucesso (só que não) aos empreendedores do barulho em seu próximo evento, mas que – pelamordedeus! - fosse bem longe de minha casa.
Aliás, esse negócio de carnaval baiano deve ser muito bom lá em Salvador (1182 km)... Só que eu acho ainda muito perto!
Deixei um recado até educado no Facebook da empresa (i)responsável pela festa, ao invés de desculpas fui respondido com evasivas profissionais, disseram que estava tudo dentro dos conformes. É uma pena, porque desse jeito a área verde do Álvares vai acabar interditada. Desejei sucesso (só que não) aos empreendedores do barulho em seu próximo evento, mas que – pelamordedeus! - fosse bem longe de minha casa.
Aliás, esse negócio de carnaval baiano deve ser muito bom lá em Salvador (1182 km)... Só que eu acho ainda muito perto!