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terça-feira, 30 de março de 2010

ELES QUEREM VER O CÍRCULO PEGAR FOGO!


Nas minhas aulas na UFES tenho instigado os alunos a escrever, faço de conta que estou enrolando, conto piadas e no final saco da cartola alguns argumentos escrivinhatórios capazes de fazer até GPS perder o rumo de casa. Mas a rapaziada também me surpreende e socializa informação, trazem comentários inteligentes sobre coisas que escrevi e até sugerem filmes que não vi. Uma destas veio da Danúbia e se chama O Closet (Le Placard). Comédia francesa abordando de maneira muito divertida o preconceito homossexual.


Daí que hoje de manhã vi logo uma twittada sobre o Rick Martin ter assumido a homossexualidade publicamente, no final a moça falava assim: “quando o Dourado assumir me acordem”. Ontem à noite durante a exibição do Big Brother a Globo teve que veicular um anúncio, ou algo assim, do Ministério da Saúde explicando por A + B como se pega AIDS. Tudo por conta das tiradas homofóbicas daquele “bad boy dos pampas” que se tornou o preferido do público e que, por essas e outras, deve sair campeão do programa.


Alguns cronistas já vinham chamando atenção para o comportamento preconceituoso do povão brasileiro, destacando inúmeras comunidades criadas para celebrar a grosseria e as tiradas machistas do “hômi com agá” do BBB10. Tom Jobim já dizia que “O Brasil não é para principiantes” e algum conterrâneo completou dizendo que “O Espírito Santo é o Brasil do Brasil”. O público escolheu a versão caricata do macho, mesmo que politicamente incorreto. Poderiam muito bem ter optado pelo dócil Michel ou mesmo o Kadu, mas Dourado jogou com o personagem da moralidade grosseira e se deu bem.


Se dependesse dos roteiristas Franceses – não sei se lá tem BBB e nem se a mesma discussão já aconteceu para testar o público – um mané como Dourado não teria durado nem um fim de semana. No filme “O Closet” vemos um contador, por todos classificado como um tremendo chato, que vê sua vida se transformar para melhor depois que inventa ser gay para não ser demitido. Separado da esposa, desprezado pelo filho, a principal personagem vê tudo mudar para melhor e a vida se resolver como num passe de mágica. É um conto de fadas que debate o preconceito homossexual pelo viés do humor e não do sofrimento, é preciso ter uma comunidade muito madura para encarar as coisas com tanta felicidade.


E é desse humor que falava sobre o Brasileiro, capaz de rir de tantas coisas ruins –lembra das piadas sobre a morte do Senna? – não deu conta de aceitar a exuberância dos gays como uma coisa normal e julgar a partir do caráter das pessoas que agem dentro de uma certa lógica e outras que são equivocadas, preferindo bater na tecla do falso moralismo e do preconceito. Ponto para o Dourado que espertamente capitalizou essa “temndêeencia”, mas a sociedade ficou devendo. E nem adianta vir dizer que o BBB é programa de gente alienada não, porque conheço inúmeros intelectuais que o assistem, adotando ou não os velhos discursos antropológicos de estudo do fenômeno.


A única chance que os gays da casa teriam seria jogar com outros preconceitos do imaginário social, como o uso de drogas, a falta de religiosidade ou coisas assim. Clodovil teria logo taxado Dourado de maconheiro pra baixo, vagabundo tatuado filho de satã, rapidinho teria a audiência a seu favor. Moralismo se combate com moralismo, esperar que o público fosse o censurar por ser preconceituoso... Tsc, tsc, tsc! Santa ingenuidade, hein? Bunita!


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