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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PRA NÃO DIZER OUTRA COISA...

Uma vez eu estava almoçando na casa de minha querida madrinha e de repente rolou a maior discussão se a carreira do cantor Roberto Carlos estava acabada ou não. Imediatamente a mesa toda entrou no debate, cada um com um palpite mais veemente e apaixonado contra ou a favor da música do nosso “conterrâneo”. Lá pelas tantas me enfiaram na confusão, afinal eu era o único presente a ser ligeiramente denominado como representante da música, meu comentário foi o seguinte:


- Acho que a carreira de Roberto Carlos só vai estar acabada quando ele não for mais assunto para uma discussão acalorada como essa...


Falo isso tudo por conta de um convite que acabo de receber da Biblioteca Estadual com relação ao quarto seminário sobre o autor capixaba que vai acontecer lá agora no final do mês e que tem realização do mestrado em estudos literários da UFES e da própria Biblioteca Estadual. A mensagem começa assim, com letras capitais:


SIM, HÁ LITERATURA (E MUITO BOA) NO ESPÍRITO SANTO!


Quando li essa frase me bateu a mesma sensação da discussão que falei acima, só que ao contrário, e se fosse perguntado sobre o assunto emitiria comentário semelhante, na hora lembrei de outra iniciativa do Governo Estadual que foi a recente comemoração de três anos da Biblioteca Transcol, um projeto muito bacana e bem realizado, eu gostaria de ter tido essa idéia. Mas aí que a mídia já anunciou a festa assim: autores famosos participam! Mesmo sem querer, deixou claro que não eram os rastaqüeras daqui - com a ressalva da participação do queridão Zé Roberto, representando o ramo de escritores da família Santos Neves - mas sabe quem é que veio? Helio de La Pena da Casseta - mostrando que a produção teve senso de humor - e Zuenir Ventura, que não se pode trocar por uma dúzia de bons autores locais.


Cara, fiquei até receoso de criticar essas coisas e as pessoas acharem que eu estou falando porque escrevo também, tenho livro recém lançado e que estou com alguma dor de corno por não ter sido convidado pra participar etc. Mas sabe o que mais? Aquela frase lá de cima e a maneira como foi divulgado o aniversário da Biblioteca Transcol falam por si só, porque quando é preciso afirmar que nossa literatura existe, automaticamente a excluímos como coisa aceita e respeitada e ao invés de valorizá-la apenas destacamos sua infeliz invisibilidade como algo comum e evidente para todos.

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