Uma vez o Sunda - sem sacanagem, esse era o apelido dele mesmo - perguntou por que é que eu gostava tanto de ir pra São Paulo se eu não curtia frequentar boates e bares chiques, para ele a única coisa interessante que poderia haver por lá. O que sempre me encantou na terra da garoa foi a cultura, o povo de um nível bem melhor do que o da roça em que nos ilhávamos. Gente que você pergunta sobre um livro e vai te saber dizer quem é o autor, se bobear tem até uma dica boa qualquer.
A verdade é que eu não odeio essas “casas noturnas”, digamos assim; mas, obviamente, faça o favor de nunca me chamar para uma. Eu até freqüentava discotecas, boates e danceterias quando era um rapazinho tirado a pegador, daqueles que gostam de usar perfumes com nome esquisito (Eternity e Fahrenheiht, por exemplo) e camisetas apertadas para estufar os músculos, o máximo que uma camiseta me estufa hoje é a pança. Claro que não ia lá pra ficar ouvindo Danna Summers, era apenas um esforço em prol da vida sexual, afinal era nesses buracos que as fêmeas mais apetecíveis abriam suas asas e soltavam suas feras.
Minha estratégia nessas ocasiões era muito simples: enchia a lata em algum boteco honesto, como dizem hoje em dia, - nas boates corre tarifa de aeroporto e inviabiliza financeiramente um porre mais encorpado – entrava trocando as pernas, perturbava o disc jockey (Eita!) pra colocar rock e partia pra cima da primeira garota que me olhasse por mais de dois compassos no estilo allegro furiozo. Nas vezes em que não deu pra calibrar e entrei de careta em qualquer uma dessas paradas, acabei saindo sozinho. Dizem que o álcool desabilita o órgão repressor e aí as coisas acontecem ao inverso.
Sunda não sabe, nem sequer pressente, mas o que me atrai especialmente em São Paulo são os sebos, livrarias que vendem livros usados. Geralmente volto carregado. Em minha última viagem trouxe uns quatro novos títulos, curiosamente havia alguma relação de mesgueio entre três deles: achei uma edição do primeiro volume da série “Operação Cavalo de Tróia” do autor espanhol J. J. Benitez. Era um livro que tinha vontade de reler, porque lembro pouca coisa. Os restantes foram um curioso e espetacular livro intitulado “O Babuíno de Madame Blavatsky”, devorado em sumárias duas semanas, e O Anticristo de Nietzche que venho degustando lentamente.
Cada um à sua maneira os três livros tratam do impulso religioso humano, sendo que no primeiro o Benitez teve a sacada de recontar a paixão de Cristo através de uma minuciosa pesquisa sobre hábitos da época, informações da cultura judaica, textos de historiadores como Flávio Josefo e por aí vai. Neste aspecto o livro é muito interessante, o resto é tanta bobagem e desejo de ser um novo Julio Verne que dá até vergonha pelo autor. O momento mais espetaculoso – e portanto patético - é quando o jornalista consegue realizar o sonho de qualquer profissional da imprensa ocidental: uma entrevista exclusiva com Jesus O Cristo.
Imagino que a maioria dos leitores da Lektra ainda não teve a oportunidade de ler essa obra, então transcrevo aqui a entrevista, pena que o vídeo não caiu ainda no youtube:
A verdade é que eu não odeio essas “casas noturnas”, digamos assim; mas, obviamente, faça o favor de nunca me chamar para uma. Eu até freqüentava discotecas, boates e danceterias quando era um rapazinho tirado a pegador, daqueles que gostam de usar perfumes com nome esquisito (Eternity e Fahrenheiht, por exemplo) e camisetas apertadas para estufar os músculos, o máximo que uma camiseta me estufa hoje é a pança. Claro que não ia lá pra ficar ouvindo Danna Summers, era apenas um esforço em prol da vida sexual, afinal era nesses buracos que as fêmeas mais apetecíveis abriam suas asas e soltavam suas feras.
Minha estratégia nessas ocasiões era muito simples: enchia a lata em algum boteco honesto, como dizem hoje em dia, - nas boates corre tarifa de aeroporto e inviabiliza financeiramente um porre mais encorpado – entrava trocando as pernas, perturbava o disc jockey (Eita!) pra colocar rock e partia pra cima da primeira garota que me olhasse por mais de dois compassos no estilo allegro furiozo. Nas vezes em que não deu pra calibrar e entrei de careta em qualquer uma dessas paradas, acabei saindo sozinho. Dizem que o álcool desabilita o órgão repressor e aí as coisas acontecem ao inverso.
Sunda não sabe, nem sequer pressente, mas o que me atrai especialmente em São Paulo são os sebos, livrarias que vendem livros usados. Geralmente volto carregado. Em minha última viagem trouxe uns quatro novos títulos, curiosamente havia alguma relação de mesgueio entre três deles: achei uma edição do primeiro volume da série “Operação Cavalo de Tróia” do autor espanhol J. J. Benitez. Era um livro que tinha vontade de reler, porque lembro pouca coisa. Os restantes foram um curioso e espetacular livro intitulado “O Babuíno de Madame Blavatsky”, devorado em sumárias duas semanas, e O Anticristo de Nietzche que venho degustando lentamente.
Cada um à sua maneira os três livros tratam do impulso religioso humano, sendo que no primeiro o Benitez teve a sacada de recontar a paixão de Cristo através de uma minuciosa pesquisa sobre hábitos da época, informações da cultura judaica, textos de historiadores como Flávio Josefo e por aí vai. Neste aspecto o livro é muito interessante, o resto é tanta bobagem e desejo de ser um novo Julio Verne que dá até vergonha pelo autor. O momento mais espetaculoso – e portanto patético - é quando o jornalista consegue realizar o sonho de qualquer profissional da imprensa ocidental: uma entrevista exclusiva com Jesus O Cristo.
Imagino que a maioria dos leitores da Lektra ainda não teve a oportunidade de ler essa obra, então transcrevo aqui a entrevista, pena que o vídeo não caiu ainda no youtube:
***
Ao notar que Jesus se oferecia prazeirosamente ao diálogo, aproveitei a ocasião e perguntei-lhe sua opinião sobre o que sucedera naquela tarde.
- Encontrei-os todos embriagados. Nenhum eu encontrei sedento. Minha alma sofre pelos filhos dos homens porque estão cegos de coração; não vêem que chegaram vazios ao mundo e tencionam sair vazios do mundo. Agora estão bêbados. Quando vomitarem seu vinho se arrependerão...
- O mundo do qual venho - tratei de pressioná-lo – distingue-se precisamente pela confusão e pela injustiça. A Bebida tem sido um problema também...
- Teu mundo não é nem melhor nem pior do que este. A ambos só lhes falta o princípio que rege o Universo: o Amor...
Aquela incisiva frase do Nazareno trouxe-me à memória muitas das crenças sobre um Deus justiceiro que condena ao fogo do inferno o que morre em pecado. E foi o que lhe disse. Cristo sorriu meneando a cabeça negativamente.
- Os homens são hábeis manipuladores da Verdade. Um pai pode sentir-se aflito com as loucuras do filho, mas nunca condenaria os seus a um mal permanente. O inferno, como crêem em teu mundo, significaria que uma parte da Criação haveria escapado das mãos do Pai... E posso assegurar que crer nisso é não conhecer o Pai.
- Porque então falaste em certa ocasião de fogo eterno e ranger de dentes?
- Se falando por parábolas não me compreendes, como então posso ensinar-te os mistérios do Reino? Aquele que aposte forte, e se equivoque, sentirá como lhe rangem os dentes.
- A vida é uma aposta?
- Uma aposta pelo Amor. É o único bem em jogo desde que se nasce.
- A ser assim, que podemos pensar dos que nunca amaram?
- Não há tais.
- Que me dizes dos sanguinários, dos tiranos?
- Também esses amam à sua maneira. Quando passarem para o outro lado levarão um bom susto...
- Não entendo.
- Eles se darão conta, ao deixar esse mundo, de que ninguém lhes perguntará por seus crimes, riquezas, poder ou beleza. Eles mesmos se convencerão de que a única medida válida no “outro lado” é a do Amor. Se não amaste aqui, em teu tempo, somente tu te sentirás responsável.
- E que ocorrerá com os que não tiverem sabido amar?
- Quererás dizer: com os que não tiverem querido amar... - Novamente me senti confuso. -... Esses serão os grandes burlados e os últimos no Reino do meu Pai.
- Então teu Deus é um Deus de amor... - Jesus pareceu agastar-se.
- Tu és Deus!
- Eu, Senhor?!
- Todos os nascidos levam o selo da Divindade.
- Mas não respondeste à minha pergunta. É Deus um Deus de amor?
- Não o fosse e não seria Deus.
- Começo a intuir, Mestre, que tua missão é muito simples. Será que me engano se te digo que teu trabalho consiste em deixar uma mensagem? - O Nazareno sorriu satisfeito. Pôs sua mão sobre meu ombro e replicou:
- Não podias resumi-lo melhor. Diz a teu mundo que o Filho do Homem só veio para transmitir a vontade do Pai: que todos são seus filhos!
- Isso já sabemos...
Tem certeza? O que significa para ti ser filho de Deus? - Sinceramente, não tinha uma resposta válida. Nem mesmo estava seguro da existência desse Deus. - Eu to direi. Haver sido criado pelo Pai supõe a máxima manifestação de amor. Ele dá tudo sem pedir nada em troca. Eu recebi o encargo de recordar isso. Essa é a minha mensagem.
- Então, façamos o que façamos, estaremos condenados a ser felizes?
- É questão de tempo. É necessário que o mundo entenda e ponha em prática que o único meio para ele é o Amor.
- Se tua presença no mundo obedece a uma razão tão elementar, não crês que “tua igreja” é demais?
- Minha igreja? Não tive nem tenho a menor intenção de fundar uma igreja tal como tu pareces entendê-la.
- Não foi você quem falou que a palavra do Pai deveria ser estendida até os confins da Terra?
- E ela será, mas isso não implica em condicionar ou dobrar a minha mensagem à vontade de poder ou das leis humanas. Minha mensagem só necessita de corações puros que a transmitam; não de palácios ou deputados que a cubram.
- Tu sabes que não será assim. Tem o Papa, tem os evangélicos, tem o Silas Malacacheta (ouro de tolo?). Sei lá...
- Ai dos que antepuserem sua estabilidade à minha vontade! Tu necessitas de igreja para chegar ao teu coração? O amor não necessita de templos ou legiões urbanas.
- Por que é tão importante o Amor?
- É a vela do navio. O Amor é dar. Desde um olhar até a sua vida.
- E o que dizes de teus inimigos? Também deve amá-los?
- Sobretudo a esses... O que ama aos que o amam já recebeu a recompensa.
- Encontrei-os todos embriagados. Nenhum eu encontrei sedento. Minha alma sofre pelos filhos dos homens porque estão cegos de coração; não vêem que chegaram vazios ao mundo e tencionam sair vazios do mundo. Agora estão bêbados. Quando vomitarem seu vinho se arrependerão...
- O mundo do qual venho - tratei de pressioná-lo – distingue-se precisamente pela confusão e pela injustiça. A Bebida tem sido um problema também...
- Teu mundo não é nem melhor nem pior do que este. A ambos só lhes falta o princípio que rege o Universo: o Amor...
Aquela incisiva frase do Nazareno trouxe-me à memória muitas das crenças sobre um Deus justiceiro que condena ao fogo do inferno o que morre em pecado. E foi o que lhe disse. Cristo sorriu meneando a cabeça negativamente.
- Os homens são hábeis manipuladores da Verdade. Um pai pode sentir-se aflito com as loucuras do filho, mas nunca condenaria os seus a um mal permanente. O inferno, como crêem em teu mundo, significaria que uma parte da Criação haveria escapado das mãos do Pai... E posso assegurar que crer nisso é não conhecer o Pai.
- Porque então falaste em certa ocasião de fogo eterno e ranger de dentes?
- Se falando por parábolas não me compreendes, como então posso ensinar-te os mistérios do Reino? Aquele que aposte forte, e se equivoque, sentirá como lhe rangem os dentes.
- A vida é uma aposta?
- Uma aposta pelo Amor. É o único bem em jogo desde que se nasce.
- A ser assim, que podemos pensar dos que nunca amaram?
- Não há tais.
- Que me dizes dos sanguinários, dos tiranos?
- Também esses amam à sua maneira. Quando passarem para o outro lado levarão um bom susto...
- Não entendo.
- Eles se darão conta, ao deixar esse mundo, de que ninguém lhes perguntará por seus crimes, riquezas, poder ou beleza. Eles mesmos se convencerão de que a única medida válida no “outro lado” é a do Amor. Se não amaste aqui, em teu tempo, somente tu te sentirás responsável.
- E que ocorrerá com os que não tiverem sabido amar?
- Quererás dizer: com os que não tiverem querido amar... - Novamente me senti confuso. -... Esses serão os grandes burlados e os últimos no Reino do meu Pai.
- Então teu Deus é um Deus de amor... - Jesus pareceu agastar-se.
- Tu és Deus!
- Eu, Senhor?!
- Todos os nascidos levam o selo da Divindade.
- Mas não respondeste à minha pergunta. É Deus um Deus de amor?
- Não o fosse e não seria Deus.
- Começo a intuir, Mestre, que tua missão é muito simples. Será que me engano se te digo que teu trabalho consiste em deixar uma mensagem? - O Nazareno sorriu satisfeito. Pôs sua mão sobre meu ombro e replicou:
- Não podias resumi-lo melhor. Diz a teu mundo que o Filho do Homem só veio para transmitir a vontade do Pai: que todos são seus filhos!
- Isso já sabemos...
Tem certeza? O que significa para ti ser filho de Deus? - Sinceramente, não tinha uma resposta válida. Nem mesmo estava seguro da existência desse Deus. - Eu to direi. Haver sido criado pelo Pai supõe a máxima manifestação de amor. Ele dá tudo sem pedir nada em troca. Eu recebi o encargo de recordar isso. Essa é a minha mensagem.
- Então, façamos o que façamos, estaremos condenados a ser felizes?
- É questão de tempo. É necessário que o mundo entenda e ponha em prática que o único meio para ele é o Amor.
- Se tua presença no mundo obedece a uma razão tão elementar, não crês que “tua igreja” é demais?
- Minha igreja? Não tive nem tenho a menor intenção de fundar uma igreja tal como tu pareces entendê-la.
- Não foi você quem falou que a palavra do Pai deveria ser estendida até os confins da Terra?
- E ela será, mas isso não implica em condicionar ou dobrar a minha mensagem à vontade de poder ou das leis humanas. Minha mensagem só necessita de corações puros que a transmitam; não de palácios ou deputados que a cubram.
- Tu sabes que não será assim. Tem o Papa, tem os evangélicos, tem o Silas Malacacheta (ouro de tolo?). Sei lá...
- Ai dos que antepuserem sua estabilidade à minha vontade! Tu necessitas de igreja para chegar ao teu coração? O amor não necessita de templos ou legiões urbanas.
- Por que é tão importante o Amor?
- É a vela do navio. O Amor é dar. Desde um olhar até a sua vida.
- E o que dizes de teus inimigos? Também deve amá-los?
- Sobretudo a esses... O que ama aos que o amam já recebeu a recompensa.
J.J. Benitez - Operação Cavalo de Tróia - Livro 1 "Jerusalém".
Um comentário:
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