Estou um tempo sem
escrever e acho que acabei gostando dessa descontinuidade. Quando sou lembrado
do esquecimento (tem gente que lê as coisas que escrevo) costumo dar desculpa
que estou sem tempo. Isso não é bem a verdade verdadeira, mas também não é
nenhuma mentira. A vida muda e outras coisas paralelas mudam na banguela,
depois é que a gente se dá conta. Por exemplo, em 2012 eu mergulhei em um
projeto que me proporcionou as dores e delícias de trabalhar em
casa. Certas noites eu ficava doido para sair à rua e ver gente. Agora é o
contrário, os momentos que tenho para ficar em casa são mais raros e valiosos.
Na atual mudança de rotina
e de hábitos passei a escrever menos e agora me soa engraçado quando alguns
amigos falam que eu deveria escrever sobre esse ou aquele assunto. Não tenho
tempo, quer dizer, tenho, mas acabo o usando para fazer outras coisas,
inclusive visitar amigos. Numa dessas fui visitar Alexandre Lima. Saí muito
tocado com a situação de meu amigo, em coma vigil até este instante. Fiquei naquela
semana escrevendo um textinho sobre a experiência de ir ao hospital, de como
postergamos isso porque nos remete a lembranças dolorosas, de como é uma dura
provação para a família ter uma pessoa querida naquela situação...
Antes de divulgar um
texto eu o fico ruminando, não é fácil admitir, mas ando me preparando para completar
meio século no ano que vem, portanto, estou começando a me considerar um
escritor experiente, maduro se você preferir. Então peso com outras medidas aquelas
palavras na tela do computador: se são justas ou não, se terão efeitos
positivos ou, inadvertidamente, negativos. Frequentemente acontece de alguém
não gostar de algo que escrevi – não que eu esperasse obter unanimidade – mas
cabeças diferentes acalentam sonhos divergentes ou interpretam sentidos que não
tinham nada a ver com o que eu estava querendo dizer. Não posso deixar de escrever
por causa dessas pessoas, mas mesmo quando erro estou tentando acertar.
Enquanto ponderava o
texto sobre Alexandre tomei uma pernada da vida e agora imagino meu notebook transformado
em moeda de troca entre os traficantes de drogas. Vejam só vocês: fiquei mais algumas semanas sem querer escrever. Poderia até tentar
refazer o texto, lembro a maioria das coisas que coloquei nele, mas uma amargura
estranha me desanimou. Pensei em escrever como fora o roubo, como Vitória está
ficando uma cidade perigosa de verdade e que essa foi a primeira vez que algo
do gênero me aconteceu aqui. Corri pra casa e, ao invés das teclas do
computador, martelei o Mendelssohn no velho piano, uma peça difícil, mas que tem
crianças no youtube tocando velozes como notícias furiosas.
Hoje de manhã,
totalmente sem querer, descobri que a arte de escrever é parecida com a de
fazer música: quanto mais experientes e respeitados somos, quanto mais pessoas
nos dão ouvidos, mais difícil a coisa se torna.
E foi nessa hora que
me toquei da importância de voltar e continuar...
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