A iniciativa de trazer
outro gato pro Simba conhecer não foi a primeira ideia de jerico que tivemos
com relação ao nosso filhote felídeo. Logo que o adotamos entramos numa de que deveria
ser legal o levar para passear de vez em quando. - Pô, nada a ver o gato ficar
trancado o tempo todo dentro de casa. - Fomos ao Petshop procurar uma coleira style
para gato e descobrimos que isso - meio que, tipo assim - não existia ou
estava em falta permanente. Os donos da loja nos olhavam incrédulos e
divertidos, porque ninguém passeia com gatos, depois de adaptados os bichanos não gostam de sair de seu
território.
A pessoa do Petshop –
que não era mão boba nem nada – estava ali pra vender, então achou uma coleira
de pequinês ou pinscher e disse que provavelmente se adaptaria ao tamanho do
bichando, o que de fato aconteceu. Depois - enquanto passava o cartão e embalava
a parada - comentou, mas muito assim, como quem não quer nada:
- É débito, né?
Então... Vocês só têm que ter cuidado se aparecer algum cachorro... - Pois eu
não tinha pensado nessa possibilidade... Só de ouvir os inúmeros latidos da
cachorrada de nossa vizinhança o Simba entrou em pânico. Sinceramente, nunca
tinha me dado conta de que havia tantos cachorros em tudo quanto é lugar.
Realmente um mundo cão, cujo (cujo?) cardápio - na paranoia do Simba - seria "definitivamente" felino. Resumindo:
o passeio, foi uma experiência única, inclusive no sentido de que não se repetiu
até agora.
A vida moderna dos
humanos é uma correria louca, especialmente quando vai chegando o final do ano.
Parece que surge um funil, um moedor de carne, que vai estreitando, vai
apertando, empurrando para dentro e para fora até que saímos em janeiro, moídos
que nem boi ralado. Foi nesse meio tempo que apareceu a Letícia pedindo para interceder
na adoção de um gato. Quando será que foi isso? Setembro, talvez outubro. De
novembro em diante não foi que aí a gente já estava dentro do funil.
Como dito no post passado, eu me encantei com as
fotos de um casal de gatinhos no Facebook e compartilhei na minha página. Tudo
parte da empolgação com o Simba, para mim todo mundo deveria adotar um bichinho
também. Nessa onda me comprometi a levar o filhote para a filha de meu primo Everaldo. Vem daqui e vai pra lá, combinamos de pegar o gato em Vila Velha, no sábado depois do almoço. Daí – planejamos – o bicho ficaria lá em casa “brincando”
com o Simba até a manhã do domingão, quando, bem cedinho, pegaríamos a estrada e
seguiríamos ao seu destino final, sua nova família em Fundão.
O gatinho era pequeno
e branquinho, devia ter uns três meses. Como é comum acontecer nos foi contada sua
saga enquanto Alice acomodava o bichinho dentro de um desses negócios para
transportar gatos. Partimos, e dali para frente o bicho miou, miou e miou. Miou
toda a terceira ponte, miou para o pedágio, miou até para o semáforo. Miou com
o carro andando, miou com ele parado, miou dentro do elevador, miou, miou
desesperado. Só parou quando entramos em casa e, ainda na cozinha, o
apresentamos ao Simba.
A antipatia felina foi
mútua, visceral e imediata!
Só agora me dou conta
de como é difícil descrever aquele negócio que o gato faz quando quer assustar
outro bicho. Mostrando os dentes e fazendo gatice a la American Vampire. Hissszzz! Todo mundo já deve ter visto um
gato no auge da puteza, o problema é que a gente não imaginava que o Simba
ficaria tanto! Se deixasse o barco correr solto ele teria destroçado o
branquinho! Bom, talvez não, porque também não imaginávamos o virulento instinto
de sobrevivência do pequeno filhote.
Durante todo o dia que
ficou lá em casa o “branquinho” mostrou-se um antissocial apavorado, ao tentar
o acalmar tomei uma unhada desesperada na perna, daquelas de arrancar sangue.
Lembrei a velha máxima de Chico Anísio: “uma das sete maravilhas do mundo é o
gato que nasce com unhas e dentes e não arranha o cú da mãe”. O jeito foi trancar
o novato na sala e tentar acalmar o Simba que perambulava indócil pelo resto da
casa. Isso quando tivemos tempo, porque rolou um ensaio de três horas do
Algazarra Arte Coral e outros compromissos.
Assim como Simba se
identificou comigo - diz um amigo que ele me escolheu para dono - o mesmo o
branquinho fez com Alice, com quem Simba ficou depois mais de uma semana sem
falar direito. No dia seguinte ela conseguiu fazer o bichano apavorado comer um
pouco de ração. Comecei a ficar preocupado com a adaptação do bicho na casa de
meu primo, com duas crianças, mas confiamos na sorte e fomos a Fundão completar
a missão. O gato foi acolhido em festa, teve até um almoço de recepção. Letícia
e Matheus ficaram encantados e o batizaram de “Zeus” que, para minha surpresa,
longe de outras ameaças felinas, virou Rei lá no pedaço.
De
volta para casa encontramos o Simba sentindo-se traído e mal pago, nem um pouco
a fim de papo, nos olhava rosnando grosso como quem matuta uma vingança. Dias
depois o bicho ainda estava revoltado e danou a mijar meus tênis e sapatos, fazendo
a chamada demarcação territorial. Perguntei intrigado aos conhecedores do
assunto: mas por que ele “demarcou” só os meus sapatos? Uns disseram que por
causa de eu ser o macho (alfa) da casa, outros porque ele me escolheu para
dono.
Para mim o Simba quis
mandar uma mensagem, de maneira que quando algum outro gato aparecesse ficasse logo
sabendo: Escuta aqui mermão! Tu trata de ralar o peito porque quem manda aqui no
pedaço não é esse humano grandão aí não, tá sabendo? Aqui quem manda sou eu!
P.S. * Sempre tive dificuldade de entender as letras da banda Paralamas do Sucesso. A frase entre aspas na legenda da foto de Letícia e Zeus, vem da canção "Vital e Sua Moto" e na verdade é: "mas que união feliz"...
Miau, miôu e tenho dito! |