Pode ler tranquilo que este texto não contém estraga prazeres (spoilers) |
Fui assistir ao sétimo
Guerra nas Estrelas, o subtitulado “Despertar da Força”. É bem difícil ignorar
esse “campeão de bilheterias” – eu não consigo - um pouco por causa do
marketing avassalador, outro tanto porque é uma boa série mesmo e seu sucesso
estrondoso ficou marcado com sabre de luz no imaginário de minha geração.
Foi no saudoso – pero no mucho – Cine Paz onde travei
conhecimento com essa saga estelar, seus heróis e vilões, o lado negro da força
e a implícita brancura saxônica do bem, anterior à moda, portanto, equivocada
em tempos politicamente corretos. A trilha sonora espetacular, os colecionáveis
coadjuvantes robóticos, o peludo Shewbacca e seus uivos dolorosos e engraçados.
Chegam os anos da
adolescência madura e a trilogia deságua na televisão aberta, agora rola a onda
de ignorar porque é coisa do tempo de infância; mas vem um domingo de tarde, o
Guerra nas Estrelas está sendo repetido pela milésima vez e a força te captura
de novo: caraca, que legal! A vontade de ter um sabre de luz é grande, mas
agora a moda são as espadas ninja.
Na virada do milênio o
George Lucas resolve contar o início da saga e bate a desconfiança: “évem esse
gringo de novo atrás do meu dinheiro”, mas é impossível escapar ao misto de
convívio social e campanha publicitária. Enquanto isso, algumas lojas “geek”
vendem réplicas bacanas do Millennium Falcon
e do R2D2 que custam tão caro que o mais justo e viável é guardar apenas a lembrança.
Virado no modo
cinéfilo experiente, certos momentos da nova trilogia precedente decepcionam o
adulto em que me tornei. São inúmeros os clichês desgastados e as expressões de
lobo mau do Anakin Skaywalker (Hayden Christensen) – muito criticadas até hoje -
acusam um ator mal escolhido; mas muitas outras coisas além dos penteados da senadora
Padmé (Natalie Portman) são legais. Nessa altura da vida Guerra nas Estrelas
faz parte da família, com seus defeitos e qualidades.
NOVAMENTE UMA NOVA ESPERANÇA
Quase quarenta anos
depois é anunciada mais uma leva da velha saga estelar. Com um bocado de gente
comentando comecei a me preparar para a ida ao cinema, aproveitei o feriado de
Natal e revi os seis episódios anteriores. A oferta abundante de filmes em casa
me deixa preguiçoso, porém, a aventura dentro dos conformes cinéfilos proporciona
contato com o público que é sempre divertido, mesmo quando aborrecido.
Na fila do MacDonalds –
prefiro sanduba e fritas que pipoca – bem na minha frente há duas mocinhas com
o pai, um cara mais ou menos de minha idade. Distraído vejo mensagens no WhatsApp
e Facebook, penso em fazer uma selfie e postar, mas a ideia soa boboca. Nem vi
quando o pai das meninas se afastou e lá pelas tantas, naquele burburinho
infernal, entreouvi a que parecia mais velha - regulavam pelos quinze anos - confidenciar:
- ... E quando eu resolvi deixar ele não fez
nada.
O pai voltou, as
garotas mudaram de assunto, nada mais ouvi nem me foi permitido assuntar. Fosse
eu Carlinhos de Oliveira teceria uma teia enorme de comentários a partir da
maneira como as meninas movimentavam inconscientemente os braços e as pernas. Contidas
entre a infância e a puberdade, entre
a proteção e a liberdade, entre o tédio comportado e o desejo do prazer.
Na livraria encontro
uma edição capa dura enorme da obra From
Hell do Alan Moore, penso até em comprar, mas custava uma baba e a história
de Jack o Estripador não me interessa tanto assim. Aparece Caê Guimarães, que
agora deve estar como eu escrevinhando sua experiência intergaláctica, trocamos
ideia e desejamos sorrindo que nem crianças e crianços: “a força esteja
conosco”.
Somente no cinema tive
certeza de que aquele é o lugar certo para assistir esse tipo de filme, porque
é como ver um jogo no estádio. A plateia era formada por muitos fãns antigos,
uma torcida fervorosa que fez da exibição uma espécie de conferência Jedi. As
expressões de deleite e surpresa, os aplausos no auge dramático amplificaram a
minha fruição da trama, transformaram uma simples ida ao cinema num momento
mágico, como fora no passado e para o qual é sempre bom retornar.
Então não me pergunte
se o filme é bom, se eu gostei ou se é mais do mesmo. Aliás, não me pergunte
por que certas coisas são indispensáveis nessa vida complicada da gente. Vá lá
e descubra, não quero estragar a surpresa de nenhum padawan à procura de um mestre Jedi que lhe desperte força
suficiente para sair do conforto de sua galáxia distante. Considere o desejo
frustrado daquela bela menina moça e seu namoradinho que conheceu na pele a
velha máxima de Rabelais:
“A oportunidade é um
cavalo sem rabo”.
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