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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

UM AMOR DE PRACINHA - Carta Aberta ao Grilo Falante Nº1

Texto originalmente publicado no Blog “A Vingança de Prometeu” em 20/02/2005

Caro amigo Grilo Falante, essa é uma estória dos tempos em que Manuel Walldaiss era ainda um jovem pracinha e gostava de tocar violão cantando estridentes boleros que embalaram os sonhos dourados da sua geração. Seu point preferido era a zona de boemia e prostituição do Rio de Janeiro, o problema era a falta de dinheiro para bancar as aventuras, mas dava pra tomar uma cerveja com os amigos e, de vez em quando, até arrastar uma morena pro beco escuro.

Nos dias de folga da dura rotina militar, os pracinhas saíam em disparada, ávidos por respirar os ares de liberdade do lado de fora do quartel. Muito bem arrumados, fardados e de banho tomado; exalavam vigor e juventude. E não é que se podia notar à espreita alguns senhores amaneirados rondando a Praça da Liberdade, discretamente assediando os meninos e propondo todo tipo de sacanagem a troco de grana?

Menino criado no interior, Manuel ficou indignado com aquelas abordagens indecentes, reagiu, como muitos, desdenhando, fazendo piadas de mau gosto, posteriormente chegou a bater boca com colegas de visão menos “ortodoxa”. Porém, com o passar do tempo, viu que os praças saíam ilesos da aventura e ainda faturavam uma graninha pra curtir na zona, concluiu que besta era ele de não aproveitar a oportunidade.

Passado um tempo se tornou um especialista no assunto, divertido contava que desenvolvera um estilo próprio de fazer “a coisa”. Muito orgulhoso de sua criatividade contava, por exemplo, que depois de gozar costumava dar um violento cutucão na altura dos rins de seus parceiros. Com o susto e a dor os caras retraíam as partes baixas e a “arma” do soldado saía, lá mesmo de onde vocês estão pensando, limpinha e reluzente.

Um belo dia, um senhor distinto e circunspeto o abordou sem muitas reservas e, depois de uma rasteira negociação, combinaram como pagamento uma certa quantia, cinqüenta contos vamos dizer, e lá se foram ao apartamento do coroa a fim de “quitar logo a fatura”. Diferente de outras vezes, o negócio acabou sendo um pouco mais animado e demorado, de maneira que o jovem guerreiro acabou dormindo a noite toda na casa do cliente.

Nem bem o sol raiou e o rapaz já se paramentara todo, envergando outra vez a distinta e gloriosa farda verde oliva. Tomaram café juntos até que, já na porta da rua, foram acertar as contas e o cara jogou em sua mão uma quantidade de dinheiro menor do que fora combinado. Timidamente, o rapaz ensaiou um protesto encabulado olhando para aquelas notas gastas na própria mão, parecia um menino que os pais tinham prometido uma bicicleta e ganhara um estilingue:

- Poxa doutor... Mas só vinte mangos? - O cliente retribuiu seu, não muito convincente, protesto com uma boa olhada desdenhosa e retrucou carinhosamente, lânguido poderia se dizer.

- Qual é Manuelito, querido... Você sabe muito bem que fez por amor...

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