Ontem era a tarde de primeiro de janeiro, a cidade estava em polvorosa. Tinha muitas razões para aquele vuco-vuco, além, obviamente, da festa de passagem do ano. Que horas será que eu acordei? Não sei, nem faço idéia. Fato é que estava no lugar certo, na hora em que tinha que estar. De terno e gravata, embrulhado pra presente de grego, pelo menos não usava colete à prova de balas, acreditem, teve quem precisasse.
Teve também quem nem imaginava de precisar, mas tombou baleado, antes de assumir seu cargo como vereador. Não sei se por causa das flores, mas sempre achei atmosfera de velório uma coisa sufocante, talvez eu tenha ido a muitos enterros de gente conhecida... Bem fazia calor naquele final de tarde e isso conta muito também, quando falamos em clima sufocante me vêm à memória lembranças daquele dia.
A viúva aparentava tranqüilidade e auto-controle, o que gerou comentários maldosos, nessas horas as multidões querem ver familiares se desgrenhando desesperados, gritos de revolta, crises de choro, interpretaram seu torpor como torpeza. A pessoa não tem nem o direito de ficar chocada e no final das contas: não reagir é também uma forma de reação. No livro O Estrangeiro, Camus coloca o personagem principal numa situação dessas, testemunhas da tranqüilidade perante a morte de sua mãe interpretam-no como um homem sem sentimentos.
Coisa parecida acontece com a música e com as artes em geral, o povo adora istrionismos e exibições esgueladas de trincar cristal, quem já foi num encontro de seresteiros amadores sabe bem do que estou falando. Até no teatro, quem exagera aparece mais e o pessoal acha mais fera. Nossa sociedade hedonista valoriza a grandiloqüência e a histeria em detrimento da naturalidade e muitas vezes da realidade também, é como a “Paz do Senhor” dos assembleianos sobre a qual já até escrevi.
A posse dos novos vereadores transformou-se num tumulto, não bastasse a solenidade em si ainda havia a comoção popular. Não, é claro que aquele assassinato não iria dar em nada nunca, esse tipo de coisa já se tornou uma rotina no Espírito Santo. Como o ambiente da Câmara Municipal onde acontecia a posse dos vereadores e do prefeito era muito pequeno, armou-se um grande palco do lado de fora para o discurso das principais autoridades.
Acreditem ou não, depois de toda a confusão acontecida até aquele momento, na hora de começar o evento principal acabou, sumiu, faltou energia elétrica! Não, não foi sabotagem de algum mau perdedor, foi um baita de um blecaute, um apagão que deixou a região sudeste inteira sem luz. De cima do palco de uns dois metros e meio de altura resolveu-se fazer a cerimônia no gogó mesmo, lá embaixo espremiam-se umas duas centenas de pessoas que só aquietaram para poder ouvir os discursos.
Não lembro quase nada do que se falou naquele início de noite sufocantemente quente, discurso é recitação de um repertório, se você assistir sua banda favorita tocar cinco vezes toda semana, depois da terceira vez já não vai escutar mais nada. Mas teve a gafe cometida pelo Vice-Prefeito que, vindo de um mandato na câmara municipal, na hora de falar se enrolou e disse que tomava posse como “Vice-Vereador”. Maurício Gorza era useiro e vezeiro dessas emboladas, o povo de Vila Velha tem o apelido de Canela Verde e em uma de suas falas ele ainda se dirigiria ao povo o chamando de Canela-velha.
Teve também quem nem imaginava de precisar, mas tombou baleado, antes de assumir seu cargo como vereador. Não sei se por causa das flores, mas sempre achei atmosfera de velório uma coisa sufocante, talvez eu tenha ido a muitos enterros de gente conhecida... Bem fazia calor naquele final de tarde e isso conta muito também, quando falamos em clima sufocante me vêm à memória lembranças daquele dia.
A viúva aparentava tranqüilidade e auto-controle, o que gerou comentários maldosos, nessas horas as multidões querem ver familiares se desgrenhando desesperados, gritos de revolta, crises de choro, interpretaram seu torpor como torpeza. A pessoa não tem nem o direito de ficar chocada e no final das contas: não reagir é também uma forma de reação. No livro O Estrangeiro, Camus coloca o personagem principal numa situação dessas, testemunhas da tranqüilidade perante a morte de sua mãe interpretam-no como um homem sem sentimentos.
Coisa parecida acontece com a música e com as artes em geral, o povo adora istrionismos e exibições esgueladas de trincar cristal, quem já foi num encontro de seresteiros amadores sabe bem do que estou falando. Até no teatro, quem exagera aparece mais e o pessoal acha mais fera. Nossa sociedade hedonista valoriza a grandiloqüência e a histeria em detrimento da naturalidade e muitas vezes da realidade também, é como a “Paz do Senhor” dos assembleianos sobre a qual já até escrevi.
A posse dos novos vereadores transformou-se num tumulto, não bastasse a solenidade em si ainda havia a comoção popular. Não, é claro que aquele assassinato não iria dar em nada nunca, esse tipo de coisa já se tornou uma rotina no Espírito Santo. Como o ambiente da Câmara Municipal onde acontecia a posse dos vereadores e do prefeito era muito pequeno, armou-se um grande palco do lado de fora para o discurso das principais autoridades.
Acreditem ou não, depois de toda a confusão acontecida até aquele momento, na hora de começar o evento principal acabou, sumiu, faltou energia elétrica! Não, não foi sabotagem de algum mau perdedor, foi um baita de um blecaute, um apagão que deixou a região sudeste inteira sem luz. De cima do palco de uns dois metros e meio de altura resolveu-se fazer a cerimônia no gogó mesmo, lá embaixo espremiam-se umas duas centenas de pessoas que só aquietaram para poder ouvir os discursos.
Não lembro quase nada do que se falou naquele início de noite sufocantemente quente, discurso é recitação de um repertório, se você assistir sua banda favorita tocar cinco vezes toda semana, depois da terceira vez já não vai escutar mais nada. Mas teve a gafe cometida pelo Vice-Prefeito que, vindo de um mandato na câmara municipal, na hora de falar se enrolou e disse que tomava posse como “Vice-Vereador”. Maurício Gorza era useiro e vezeiro dessas emboladas, o povo de Vila Velha tem o apelido de Canela Verde e em uma de suas falas ele ainda se dirigiria ao povo o chamando de Canela-velha.
Foram quatro anos velozes e curiosos, parecia tão distante esse 2009 e agora está ali na outra esquina. Imagine desenvolver um trabalho por tantos e tantos meses, montar uma equipe, aprender com erros e acertos, seus e de outras pessoas e quando está tudo azeitado e funcionando perfeitamente o seu tempo acaba! É de deixar qualquer um doido. Sem falar que lugar de trabalho é uma coisa que encroa na gente, você se apega às pessoas, à sua mesa que não é sua, o computador que é muito menos e tem que aceitar e entender numa boa que o prazo de validade é esse mesmo.
Quantos eventos foram feitos ao longo desses anos? Os que acusavam Max Filho de não trabalhar – como o curioso personagem Jardel dos Idosos – só falavam isso porque não trabalhavam com ele. Lembrando dessa figura esquizóide da política Canela Verde, de cara me vem à mente a ocasião em que ele invadiu o evento de entrega das obras de reforma da Rodovia Darly Santos a fim de “protestar”. Lembro bem do momento em que a música do trio elétrico foi se aproximando e atrapalhando a cerimônia, então o vi sentado na carona já de microfone em punho lançando ameaçadores olhares de "fera ferida" a todos.
Por ser um evento do Governo Estadual eu não estava envolvido diretamente na cerimônia, mas os responsáveis pela organização – meus queridos amigos Lucia Nascimento, Eduardo Santos e outros - me pediram para ajudar a reconhecer as autoridades locais, então fiquei bem na cena do crime. Tenho uma foto em que aparece o pau quebrando embaixo logo à frente da mesa, alguns dos principais políticos do estado com expressões espantadas e eu, lá atrás, rachando o bico. Na época até tive medo de ser advertido por minha “falta de decoro” perante tamanha fuzarca.
Mas Jardel conseguiu chamar atenção, nessa arte ele é um mestre. Com essas suas extravagâncias conseguiu até se eleger deputado, é o que eu já falava mais acima, nesse culto ao escândalo ao invés de se queimar o cara cresce. Quando cheguei em casa sua figura debutava nos principais canais de televisão, dizendo que tinha apanhado até de mulher. Devo acrescentar que muitas delas estavam bem acima dos sessenta anos, o que foi uma espécie de forra dos idosos, uma coisa kármica. O mais engraçado de tudo é que, caído no chão tomando bordoada de tudo quanto era lado, o cara xingava suas agressoras de “viadas” (Suas viadas, suas viadas!) Isso lá é xingamento que se faça? É como querer ofender um cara qualquer chamando de “sapatão” (?) Ou não, enfim, nem sei.
Mas então, o tempo passou, a barriga de Isabel cresceu... Rarararara! Queria poder dizer tudo, mas como resumir tantos anos em poucos parágrafos? Sei que o Brasileiro é mais esperto do que Nietzche, quando cunhou a expressão: o que não mata engorda. Sim, porque aquilo que não nos mata nos torna mais fortes. Com essa minha experiência no serviço público aprendi que o mais importante permanece sendo a fidelidade e os laços afetivos. Estranhei muito o jeito de condução das coisas, tão diferente do mercado em que eu atuava antes. Na política muitos têm a tendência a dizer sim, mas esse sinal verde tem a força de um amarelo. Interpretar essas variantes entre solo firme ou areia movediça é uma arte também, mas quem disse que no resto do universo existencial não é diferente?
Tome por exemplo as estéreis lutas de poder dentro de insignificantes grupos religiosos, muitas vezes são brigas infernais apenas pra mostrar quem é que manda, não têm nada de real valor em jogo. O mundo é político. Outra coisa que aprendi é que se não aceitarmos a responsabilidade pela gestão de nossos interesses, abriremos espaço para os que têm muito interesse em decidir as coisas por nós. Confesso, entrementes, que ainda não consegui me tornar politicamente responsável, estou até trabalhando isso com minha analista, a Dona Bohemia – aqui me tens de regresso - mas ainda não consegui tomar parte nem das reuniões do condomínio onde moro.
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