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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Contos de Terror da Letra Elektrônica - Parte II: Let The Sunshine In...


Tem gente que se pergunta se existe coisa mais irritante do que um poema que não tem rimas? Mas é claro que tem! Ora, muita coisa é mais irritante do que isso. Mas todos têm o direito de perguntar: se não tem rimas, então porque chamar de poema? É como a música sem tonalidade ou a pintura abstrata. Mas o pior é que existem coisas por aí esbanjando poética e que estão longe de serem denominadas poesias.


Experimentamos um sentimento de iluminação quando nos deparamos com um evento poético: pode ser o som do vento balançando a copa das árvores lá no alto, muitas vezes pode ser também o som do silêncio. Mas Edgard não era um sujeito que perdia tempo filosofando a beleza poética de um belo por do sol, ou o gemido involuntário que invadiu seus ouvidos ao conhecer o prazer no corpo de uma mulher estranha. Sua vida era racional e aquela ode ao desespero não tinha rimas, talvez por isso o incomodasse ainda mais. Eram apenas frases e o desenho de um rio seguindo em direção ao mar no horizonte sem fim.


Um rio de dor seguindo tortuosamente para o infinito oceano.

A vida vivida em face da tristeza de perder as pessoas queridas

A sensação de desaparecer do mundo, morrer ainda em vida!

E passar pelas pessoas sem que elas percebam que você está lá.


Como se fosse mergulhar na própria fossa daquela casa amaldiçoada, Edgar, respirou bem fundo e caminhou decidido de volta. Entrou de supetão deixando a porta escancarada e falando bem alto para si mesmo, mas é também como se dissesse para os entes invisíveis que o incomodavam: deixe o sol entrar! Na hora se lembrou do filme Hair, veio à sua mente a música e enquanto andava pela casa escancarando portas e janelas:


Let the sunshine

Let the sunshine in...


Foi até a escada, com um só gesto decidido passou a mão na caveira e falou: Você ouviu seu careca Zé Mané? Deixa o sol entrar... Depositou a estátua de gesso em cima de uma mesinha e rumou para a sala afastando as cortinas e arreganhando as janelas, o sol invadiu tudo revelando um ambiente muito mais empoeirado do que Edgard havia percebido anteriormente, abismava-o o fato de não ter sido acometido ainda por uma de suas crises de alergias.


Agora menos intimidado pela atmosfera de cemitério abandonado, Edgard subiu num sofá e atou a placa anunciando o aluguel pelo lado de fora da janela, amarrou suas pontas na grade suja de pó e teias de aranha. Quando terminou sentiu-se vitorioso, subjugara as forças estranhas que pairavam sobre a casa mal assombrada. O grande derrotado naquela refrega imaginária era seu medo do incompreensível, porque não havia nada ali que o assustasse realmente. Não sabia, nem desconfiava, mas precisava vencer suas nóias de menino que acorda no meio da noite com vontade de urinar, mas tem medo de transitar pela casa às escuras. O pavor incompreensível que às vezes temos de nos deparar com as sombras da noite mesmo quando em pleno dia.


Fechou novamente as janelas e cortinas, saiu fechando tudo que abrira, sua missão estava cumprida com louvor, começou até a sentir fome, seu relógio biológico estivera um tanto quanto ocupado com outras manifestações e nem se dera conta que já passara da hora de ir pra casa almoçar. Voltou para o vestíbulo caminhando distraidamente, procurava as chaves no bolso da calça, achou o telefone celular que, curiosamente, andava quieto naquele final de manhã. Quando já ia fechando a porta de entrada para ir embora foi que se deu conta:


A maldita caveira estava outra vez no terceiro degrau da escada!


Conclui na próxima aparição...


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