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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para Odiar o Dia Dos Namorados


Um tempo atrás li uma crítica no Caderno Dois de A Gazeta que falava sobre um novo filme romântico recém lançado e o autor do texto – não me pergunte mais quem era – classificava o filme pejorativamente como “de menina”. Achei engraçada essa forma casual numa crítica formal, me pareceu tão – como direi? – ingênuo da parte do autor. Lembrou uma matéria que li na Veja em que uma colunista dizia que Olacyr de Moraes estava solteiro e que ele era um gato. Ora, como então classificar Brad Pitt e Gianecchini? Ou da vez que um outro colunista de A Gazeta disse que a música de Guilherme Arantes era brega. Pensei: e agora como é que vou classificar o Reginaldo Rossi?


O que o jornalista chamava de “filme de menina” (ou de mulherzinha, não me lembro mais) nada mais era do que a boa e velha comédia romântica, ou aquele romance rasgado mesmo. A mulherada adora esse tipo de produção, daí a pecha, parece que escolhem seus filmes apenas pelo título, aqueles que tem como “tag” as palavras: Coração, Paixão e, especialmente, Amor. Em uma segunda categoria viriam produções com os “referenciais” Namoro (Namorado, Namorada), Noivado, Casamento etc.


Alguém já parou pra reparar na jogada de marketing desses caras? Separei ao acaso o título de alguns desses filmes pra exemplificar melhor: Amor em Cinco Tempos, Banquete do Amor, Jogos de Amor, Loucos Por Amor, O Amor está no Ar, O Amor Não Tira Férias, O Amor Não Tem Regras, Amor ao Extremo, O Despertar de Uma Paixão, O Som do Coração, Palavras de Amor, Um Amor Jovem, Um Amor Para Recordar e por aí vai...


O iluminado indiano Krishnamurti bem dizia que o amor é uma palavra que precisava ser desinfetada e os marketeiros das distribuidoras de filmes no Brasil deveriam pelo menos tentar ser um pouco menos bandeirosos e mais respeitosos para com esse nobre sentimento. O pior é que a maioria destes filmes não tem títulos apelativos em sua língua original. O Amor Está no Ar, por exemplo, é Ma Vie En l’air, algo como Minha Vida No Ar; O Amor Não Tem Regras é Leatherheads, algo como Cabeças de Couro e O Som do Coração originalmente leva o nome do jovem geniozinho protagonista da história: August Rush.


Por que será que em tudo eles precisam enfiar a palavra amor no meio? Talvez por lembrar daquelas brigas de menino que um começa falar da mãe do outro e esse pra se vingar responde: não mete a minha mãe no meio não senão eu vou meter no meio da tua. Seguindo-se, evidentemente, as bordoadas e escoriações tradicionais. É o amor! Por pensar nisso: como eu adorava as casquinhas dos meus machucados! Vivia futucando a borda delas pra ver se já dava pra arrancar. Cheguei a sentir falta de futucar minhas feridas quando entrei na fase pré-adulta.


Então, para satisfazer a sanha romântica de minha companheira e, confesso, minha curiosidade, baixamos no Kinoplex – porque o Cinemark ninguém merece - pra ver o filme Eu Odeio O Dia dos Namorados. Vejam só que novidade, que coisa original: um filme romântico que ao invés da palavra “amor” tem a referência ao ódio no título! Deve ser menos pior do que a maioria, pensei... Além do mais eu estou no time que acha o Dia dos Namorados um saco, faço parte até de uma comunidade no Orkut sobre o assunto, taí o link pra quem quiser participar:


http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=80110


Dirigido, produzido, escrito e estrelado pela nariguda atriz (comediante?) canadense Nia Vardalos – a mesma que conseguiu algum sucesso com o filme Casamento Grego em 2002 - a história não poderia ser mais clichê e lugar comum, ficamos apenas com uma protagonista que não segura a onda, exibindo um eterno sorriso emoldurado por sua gigantesca nareba. Poucas coisas são mais irritantes do que uma pessoa “felizinha” não é? Depois de três ou quatro cenas já dá vontade de esganar a infeliz, imagine ao longo de um filme inteiro.


Mas se o personagem central é um desastre, os periféricos também não ajudam. Logo de cara aparece um par (casal?) de bichinhas de estimação cuja função na película é única e simplesmente dar um ar mais alegre, assim, mais festivo. O resultado ficou antinatural, lugar comum e, conseqüentemente, sem graça. Depois temos alguns draminhas paralelos que desde que surgem na trama já estão fadados a serem resolvidos com um sonoro final feliz. Não há espaço para surpresas nem bruscas mudanças de direção. O filme é tão caretinha que não conseguiu seduzir nem os corações mais ternos. É isso mesmo companheiro. Até minha mulher saiu do cinema reclamando, mesmo sabendo que estava abrindo um precedente perigoso!


A diretora perdeu a grande sacada dessa história quando mostra levemente o tormento que é para as pessoas solteiras, mas especialmente para os homens, o tal do Dia dos Namorados, nos dá a entender que os machos têm a obrigação de agradar suas companheiras e que sua missão é, portanto, bem mais difícil. Fica a encargo do cara tomar a frente de tudo: levar pra jantar, comprar flores, dizer eu te amo, contratar seresteiros, enfim, o pacote completo; conseqüentemente os homens odeiam esse dia. Seria genial se La Narebonda aproveitasse para falar do amor verdadeiro e de valores mais profundos do que um lindo buquê de rosas, mas aí ela estaria jogando contra o próprio patrimônio, afinal, tudo se resume a tentar seduzir uma certa fatia do mercado.


Pra encurtar a conversa amigos: não dá pra odiar, mas é um daqueles filmes pra se passar bem longe!


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