Durante muito tempo relutei em ter um blog, saca? Achava um modismo internetóide, coisa de gente “muderna” e, apesar de as vezes escrever até mais do que posto na Letra Elektrônica, rolava uma preguiça danada desse compromisso com forma e regularidade que os blogueiros têm. Vai daí que de vez em quando me aconteciam uns textos pequenos, retratinhos revolts do cotidiano que eu compartilhava com amigos e alcançaram uma certa popularidade, começou a rolar a cobrança pra não parar ou para organizar melhor essa minha coisação escrivinhatória.
Nessa onda preguiçosa de não ter um blog comecei postando alguns desses meus textos no do meu querido amigo o “Grilo Falante”, que tinha o nome de A Vingança de Prometeu. Era um desses ditos “espaços literários” com contos mirabolantes e complexos. Esse cara acabou fazendo uma série de amizades internauticas pelo Brasil e outros escritores afins, uns nem tanto, o visitavam e comentavam seus textos, daí ele ia no blog do amigo e comentava também e ficavam assim naquela rasgação de seda que os iludia com uma espécie sutil de popularidade. Minha participação melou o barato e em pouco tempo Prometeu deu fim à sua Vingança.
Acho que o Grilo ficou grilado porque os comentários feitos aos meus textos eram diferentes dos que faziam aos dele, que minhas histórias suscitavam debates enquanto as suas recebiam os tradicionais “muito bom o seu texto” e “bacana isso que você escreveu”. Nunca ninguém tinha o xingado ou comentado um texto seu com putaria, os meus... Logo entrou numa de que aquilo tudo não passava de um teatrinho de egos e abandonou a empreitada. Eu achei muito divertida a experiência e, como todo amigo sacana, ainda falei: num te disse que essa parada não tinha nada a ver?
Lembro muito bem até hoje de um tiro desses que levei no ego, o primeiro talvez. Foi no primário. Eu desenhava por diversão e passatempo, porque sempre achei a escola um porre. Adorava revistas de super-heróis, ainda adoro, então tentava reproduzir o Super-homem, o Batman e um dia minha professora ficou encantada com um desenho que eu tinha feito do Popeye, indicou meu desenho para participar de uma exposição e anunciou para toda a classe. Cheguei em casa me sentindo uma espécie de Monet, Rembrandt ou Massena, para ser mais regional.
A exposição estava marcada para o domingo lá no falecido Clube Vitória, point bacana da sociedade anos setenta capixabesca, de frente pro Parque Moscoso. Toda a família se arrumou para assistir ao meu debut no mundo das artes, eu estava feliz como criança quando fica doente: no centro das atenções. Circulando pelo local da exposição é que me foi cair a ficha: tinha tantos e tantos desenhos expostos que nem consegui encontrar o meu. Fiquei como o Pequeno Príncipe quando descobriu na Terra um campo enorme com inúmeras flores como a que ele tanto amava e que pensava ser única. Descobri que eu também não era.
Mas, enfim, por que estou contando essa historinha? Porque no próximo dia 07 de julho A Letra Elektrônica comemora um ano de atividade blogueira e bateu a onda de agradecer a vocês que têm me lido e incentivado desde o início. Nunca quis fazer um blog agressivo ou ficar bancando o dono da verdade, arbitrando o que é bom e o que é ruim em nossa sociedade botocuda conservadora e hipócrita. Tem muita coisa legal no mundo pra se dizer e o próprio ato de escrever é uma delas, compartilhar isso com vocês obtendo comentários e críticas é mais legal ainda, é fundamental.
Graças a vocês meus textos hoje estão republicados em sites como o do Professor Roberto Belling, sem falar nas participações especiais no Moquecada e em outros blogs amigos -, mantendo a gente em contato enquanto ainda estamos aqui. Ontem recebi um convite, que muito me envaideceu, para participar de uma mesa redonda em um encontro nacional de blogueiros. Entre tanta gente boa escrevendo é muito legal ser lembrado assim, mas isso não é o mais importante: o mais importante é manter nossas idéias circulando, porque pedra que não rola cria limo. I'm like a rolling stone...
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