Com relação ao meu último texto, rolou um comentário muito legal do Marcos Valério que me despertou a lembrança e então quero compartilhar com todos...
“Rapaz,
Você falando de roqueiros e tal, e eu abro sua mensagem justo na hora em que o drive do computador roda um cd do Rory Gallagher....
...Beleza de texto (Há Muitos Cabelos Atrás) e daqueles tempos também. Não sou tão antigo, mas ouvi falar muito e de vez em quando rodo uns disquinhos... Rárárá....
...Mas conte mais histórias de roqueiros. Acho que vale um filme, com os antigos roqueiros antigos falando, dedilhando guitarras, colocando discos, um papo no Golias, um luau, um encontro de canjas de vários músicos e "músicos", cenas de praias, garotas, muitas garotas...
Vamos preparar um projeto para as leis de incentivo? Acho que esse assunto merece um filminho dos bons, se é que já não cometeram algum. Saudosista, quero dizer. Sei que tem uns sobre bandas atuais, cenas atuais, mas um que junte você e o Sergio Bonaventura (É assim o nome dele?) (Benevenuto, talvez?) e outros roqueiros e essas histórias... Podemos fazer um encontro naquela boate que você lançou o Livro do Pó (Teatcher’s Pub) etc...
... Viajei ...................
Abraços
Marcos Valério”
....
Caro Marcos Valério,
Lembro de ter dado entrevista sobre rock para um vídeo/documentário que fizeram faz muito tempo, uns quinze anos. Lembro também de ter ido assistir à primeira exibição da coisa no Cine Metrópolis, salvo engano, com medo de passar vergonha com algum comentário babaca da platéia e nada disso rolou, passei batido, cinco ou dez anos depois do “estrelato” ninguém nem lembrava mais de mim. Não achei ruim, mas me deu um estranhamento por dentro. Na verdade, a única hora em que a platéia fez bagunça e vaiou, foi quando o Edu Henning falou. Talvez vítima da exposição, na época, de seu programa diário na tevê. Como era mesmo o nome dessa porra de video? Catzo, ainda vou lembrar, antes de chegar ao final eu lembro.
O Zé Roberto Santos Neves está trabalhando um texto sobre o rock daquelas épocas, acho que ele vai escrever mais sobre o movimento heavy daqui, que foi interessante e até hoje ribomba nos ouvidos dos mais desavisados. Perguntei pro Zé se ele já tinha ouvido falar de um sabá de bruxas que rolou na UFES, lá nas grimpas dos anos oitenta e que envolveu a nata e a fina flor do metalerismo da época... Nunca soube se essa história era verdadeira, eu já não comungava mais das roupas de couro nem das tachinhas, então não fui testemunha dos negros fatos de arrepiar.
Curioso pensar que isso tudo está intimamente interligado com a Vila Rubim, aliás reduto de boemia e samba e não do heavy metal. Mas falando, pensando e escrevendo sobre magia, esoterismo e aliando isso às lojas de couros e tachinhas acabamos chegando lá. Não tem jeito, nossa "linha espiritual" de feitiçaria e magia negra não está ligada à tradição nem ao imaginário do vodoo, nem de Aleister Crowley, ou coisa que o valha. No final das contas a coisa acaba em samba, terreiro, candomblé e por aí vai.
Não lembrei o nome do filme ainda... Mas vou lembrar, ou então ligar pra Paulinha Portella que eu sei que ela lembra.
Mas então - não sei se você reparou, mas isso já virou um novo texto pra Letra Eletrônica - a lenda diz o seguinte: Em uma terra distante, num lugar muito bem perto da Rua da Lama, os metaleiros ficaram sabendo que ia haver um legítimo "sabath de bruxas" na UFES. Convenhamos, um lugar assaz inesperado para esse tipo de celebração. Porém, talvez pensando que a idéia partira da cabeça de algum irresponsável do curso de artes, a rapaziada do metal, black metal, dark pra caralho à beça, resolveram ir lá mostrar e comprovar que eles sim é que eram os fiéis e legítimos representantes da estética do demo por essas bandas. Ou como diria Macunaíma: falaram mal, preparar o pau!
Fábio Boi, o papa do heavy aqui, chegou mais embriagado que a banda Alcoolhólica inteira, acompanhado de um modesto séqüito de bebuns que incluía figuras como o temível Esmaga Ossos, Churrasco, Batatinha e sei lá mais quem. Logo reivindicou para si a direção dos trabalhos e para provar sua primazia berrou uma música do Black Sabath, deixando boquiabertas as bruxas negras, em nome de Ozzy deu por aberta a sessão. Rapaz... Bem, pra começar as figuras eram feiticeiras do mal mesmo e estavam acompanhadas de noviços rebeldes e musculosos, responsáveis pela segurança do perímetro mágico e obviamente muito úteis também na hora do intróito penetrativo da celebração maligna, se é que vocês vão me entendendo...
Acho que o nome do vídeo era “Vitória Ilha do Rock”, deve até ter no Youtube... (Não achei, acabei de pesquisar, se alguém tiver compartilhe)...
Dizem os mais bem lembrados que a coisa descambou em porradaria com a mesma facilidade de um passe de mágica, no caso um feitiço maligno, com desvantagem numérica, física e alcoólica por parte dos metaleiros locais que, pegos pelo elemento surpresa, levaram uma esfrega daqueles evadindo-se do local em estrepita debandada inglória. Lembro de alguém ter me contado essa história no Adega às gargalhadas – mesmo porque se for verdade é realmente engraçado – só que suspeito que o pessoal da época vá negar o ocorrido ou então dizer que não foi bem assim. Sei que esse foi um texto meio Chacrinha, confunde mais do que esclarece, mas acho que estou numa semana de lembranças e divagações. Talvez o prazer de escrever seja disso: Soltar o dedo e ver o tempo passar.
7 comentários:
Bicho,
agora virou desafio... vamos nos encontrar uma hora dessas para fazer um rock...ou um filme, sei lá....
E esta sua mesnagem, veja só, me encontrou ouvindo Chico Buarque cantando seu disco italiano, de 40 anos atrás. Também outros tempos, outros rock's....
abraços
Marcos
Já tem um bom tempo que o Zé Roberto tá juntando essas histórias pro livro. Isso tudo precisa ser registrado de qualquer jeito, rs.
Sim, Ilha do Rock! Assisti na FAFI, quando tinha uns 16, acho. Lembro que logo depois, rolou um video do Alexandre Lima, que foi vaiado (inclusive por mim, rs) e todo mundo dispersou. Aquele doc me causou um impacto enorme; logo depois foi lançado o NoiseCore... Tempo mágico de shows na UFES...
Curioso saber que a galera odiava o Edu Henning desde aquela época, antes das famigeradas mãos de papelão.
Sempre que leio algo sobre a "cena metálica capixaba" dos 80 e 90, fico pensando no que se perdeu nisso tudo. Os guerreiros deixaram o front sem sucessores? O metal se expandiu pra outros terrenos e Vitória tornou-se uma terra bunda mole? Porque o que vejo hoje é uma caretice e bundamolice que não via 20 anos atrás...
Abçs!
Juca,
Seus textos estão cada dia melhores. Gostei da idéia de Marcos Valério...esse é um cara de boas idéias também!
Abração e que 2011 seja de muito som...
Meu abraço em Alice.
Joel Rangel
Olá, meu caro Juca...
Heheheheee...
Gostei muito do texto. Legal relembrar essas fases do rock capixaba. Pelo menos até onde eu lembro (1994 ano em que vim morar no ES).
Lembro desse vídeo sim. Passava na TVE... Procuerei na Internet, mas também não achei.
Creio que aqui precisava-se resgatar a história "noise" musical capixaba... Porrada!!!, Pride, Skelter, Shadow, The Rain entre outras... a FM 94 Guarapari - Maldita (Batmam lendário do metal com seu programa "Noise". Onde estará ele hj? rsrs). Foi uma perda muito grande para o cenário musical capixaba quando essa rádio foi vendida para os evangélicos. Foi uma etnocentria tremenda quando rédios, cinemas, etc foram fechados e prol das promessas celestiais... rsrsrsrss...
Sempre bom recordar....
Muito boa a idéia de Marcos Valério... fazer esse resgate histórico de um cenário que nem eu mesmo vivenciei dos anos 80 em terras capixa.
Mas é issooo....
Abraços e até mais, camarada...
Rico
Ô Demorô, sei lá se o pessoal de hoje é bunda mole. Acho que não. Você já ouviu a banda Ócio? E a Solana? E o Silence Means Death que até nos representou na alemanha? Temos guerreiros ainda e é como eu sempre digo parodiando Rimbaud: "quem faz roquenrou aos vinte anos é porque tem vinte anos. Quem faz aos sessenta é porque é roqueiro." Não é fácil trilhar essa estrada, permanecer nela é quase impossível e viver disso... Tô para quem. Pelo menos por aqui.
Juca
Adorei o texto, e só uma observação: espero que o fato de o Santos Neves estar fazendo um livro sobre Heavy não o impeça de falar também sobre (você já falou muito bem, inclusive).
Beijos
Carla
Tardei mas não falhei!
Ilha do Rock, sim, esse era o nome do documentário!
E até onde eu sei, o livro de Zé Roberto nao será só sobre heavy...a ideia é praticamente um Ilha do Rock em livro...já estivemos juntos escolhendo fotos, inclusive...Nao vejo a hora desse livro sair!
Bjs
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