Logo que me deparei com a notícia dessa tragédia em Realengo lembrei de um filme muito contundente que vi no ano passado. O nome é “Polytechnique” do cineasta canadense Denis Villeneuve, o mesmo que concorreu esse ano ao Oscar de melhor filme estrangeiro com a obra “Incêndios”. A tendência da mídia tem sido comparar a tragédia do Rio com casos similares nos Estados Unidos, porém, o triste episódio que ficaria conhecido como “O Massacre de Montreal”, tem uma mórbida semelhança com o de Realengo: a misoginia.
A misoginia é um movimento de aversão ao feminino e dez das doze vítimas de Realengo eram meninas, o que dificilmente pode se tratar de uma coincidência. Talvez porque esse é um momento de não se falar besteiras, a grande mídia até agora não mencionou o assunto, não que eu visse. Já o caso de Montreal foi tratado pela imprensa internacional como “Gendercide” ou um assassinato em massa selecionado a partir do gênero sexual. Apesar de ter feito duas ou mais vítimas do sexo masculino é bem provável que o assassino de Realengo tivesse motivações misóginas. As histórias são, infelizmente, muito semelhantes:
“Em 6 de dezembro de 1989, Marc Lepine, de 25 anos de idade, invadiu a Escola Politécnica de Montreal, atirou em 28 pessoas e depois cometeu suicídio. O incidente resultou na morte de 14 mulheres. Em sua carta, Marc justificou motivos políticos e culpou as feministas por arruinarem sua vida. Grupos femininos caracterizaram o ataque como anti-feminista, outros dizem que Marc foi vítima de abuso infantil e o ataque foi apenas ato de um homem enlouquecido, sem uma razão social. Outros culpam a violência na mídia e o aumento da pobreza no país.”
Retirado do site Oi Toronto.
Villeneuve é um cineasta que parece ter predileção por estórias contundentes, a trama de “Incêndios” poderia facilmente ter ido parar num programa pastelão/sensacionalista como o do Ratinho, embora enquanto narrativa esteja mais próximo da tragédia grega de um Sófocles e não descambe em nenhum momento para o piegas. O problema é que acontecimentos tão incrivelmente cruéis são muito difíceis de racionalizar, não tem explicação, parece humor negro de alguma divindade furiosa.
Seguem algumas curiosidades sobre o filme Polytecnique feitas por Bianca e Fred e retiradas do site Legendas TV:
- Uma das condições impostas pelas famílias para a realização do filme foi o nome do autor da chacina não ser mencionado em momento algum, disseram que não tolerariam qualquer tipo de publicidade a seu favor.
- Foi filmado em preto e branco, a fim de evitar a presença de sangue na tela.
- Polytecnique foi exibido aos familiares das vítimas, antes de ser comercialmente distribuído. O filme foi lançado com suas bênçãos.
- O diretor Dennis Villeneuve é sobrinho do falecido piloto de Formula 1, Gilles Villeneuve e, na época do Massacre de Montreal, foi enviado para cobrir o evento pelo jornal de Quebec onde ainda era estagiário de jornalismo.
- O filme teve financiamento de diversas entidades de direitos humanos e ONGs feministas do Canadá, para que o massacre fosse lembrado no seu aniversário de 20 anos.
Um comentário:
Quando estava escutando na CBN a repórter dizendo que até aquele momento a contagem dos mortos era de 10 meninas e 1 menino...pensei logo a mesma coisa que vc.
E, curiosamente, ontem na Globo o psicanalista forense Guido Palomba nada falou sobre este detalhe...enquanto fazia a análise da mente do indivíduo...
Coisas da vida...
Marcos Rivero
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