- Pô, que velha otária! – É Mané, quem mandou folgar pra cima da garota? Mas o cara era assim, tirado a maluco. E quem é doido periga levar bofete na cara. As velhas caretas esbofeteiam quem elas acham que deveria estar de careta também. A galera se reunia do lado de fora da escola, era uma enrolação só. Conhecia o porteiro pelo nome, mas nem por decreto e reza braba que eu conseguiria lembrar agora.
E a garota morena que sentava na minha frente? Essa eu lembro o nome. E olha que era bastante esquisito, mas como esquecer? Não é da conta de ninguém, mas tomei um baita “toco” dela uma vez. Gostava de provocar, seduzir e deixar o cara na mão. Era como uma peculiar variante sádica que se especializara em infligir o Suplício de Tântalo em suas paqueras: gozava com o desejo frustrado do alheio.
Eu detestava qualquer tipo de matéria exata, para mim não tinha nada de exato no mundo e mesmo que tivesse eu não queria tomar conhecimento. Era prova de química, então sentei na última carteira da classe para poder desenhar tranqüilo e talvez escrever, sou bom em passar o tempo e também muito educado: não queria entregar a prova sem fazer de conta que tinha tentado resolver alguns dos exercícios.
Apesar da matéria enjoada até que eu gostava daquele professor: era pançudo e gozado, bigodudo e histriônico. A peste morena estava sentada bem na minha frente, provavelmente enrolando também, quando levantou para entregar a prova deixou cair todas suas coisas no chão e se abaixou inclinando o corpo para onde eu chafurdava em tédio.
Baita surpresa naquela manhã profundamente chata: a garota vestia uma camisetinha de malha folgada sem nada por baixo. Foi quando eu descobri que ela tinha acordado endemoniada e estava pagando peitinho desde cedo, por isso o professor fanfarrão já tinha vindo verificar “as coisas” pro nosso lado várias e várias vezes. E eu muito besta achando que ele estava de perseguição preu não colar...
Ainda abismado, do lado de fora da escola, contei a história pro Zueira que fumava um cigarro, vestia uma calça rasgada e uma camiseta do Black Sabath. Nisso passou uma garota bonitinha, Zueira puxou a cabeleira dela, cheirou e resmungou alguma sacanagem. Alguns passos firmes depois vinha uma megera magrinha com cara de xerife de campo de concentração nazista e sentou uma bofetada na cara do metaleiro!
Até Zueira reagir do tabefe a velha e a gatinha já tinham desaparecido na multidão, enquanto isso eu e o resto da galera estrebuchávamos de rir. Sua única reação foi comentar massageando o rosto:
- Pô, que velha otária! – E pensar que Zueira hoje é Doutor em Comunicação...
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