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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A CULTURA NOS TORNA IMORTAIS

O capixaba lê pouco, não tem costume de comprar livros e acredita pouco no investimento em seu próprio repertório cultural. Falo por mim mesmo que sou um tarado devorador de livros e extremamente pão duro na hora de os comprar. Acabei me deparando com vários estudos sobre o mercado editorial brasileiro no período – um ano e pouco atrás - em que dei aula no curso de biblioteconomia da Ufes e vi os números: o Espírito Santo representa apenas três por cento do bolo nacional. (!)

Um fato comprovado é que a maioria patropi só compra livros ou os lê por obrigação: porque vai fazer uma prova ou concurso, porque o livro consta obrigatoriamente do currículo de um curso e “xerocar” ou imprimir fica mais caro, porque é um profissional que precisa se atualizar com relação a um assunto; é basicamente assim. Traduzindo livremente: as pessoas compram livros e os leem quando acreditam estar fazendo um bom investimento. É por aí também que o mercado de auto-ajuda bomba.

Compare com o investimento feito na imagem pessoal: roupas, tratamentos disso e daquilo, academia, cosméticos, enfim, a lista é enorme e nem quero entrar nos itens mais caros como carro, moradia e viagens internacionais (que não deveria ser bem imagem pessoal, mas “Ô!” como é). A valorização da fachada e o descaso com o conteúdo é uma das principais características de uma sociedade subdesenvolvida, assim o é também com relação ao indivíduo.

Já ouviu aquela frase “político não gosta de fazer obra de infra-estrutura porque fica enterrada e o povo não vê”? Em nossa sociedade é assim que percebo o investimento no enriquecimento interior - na cultura se você preferir - que diferença faz ter vasta cultura se teu amigo demente tem um carrão e você não? É exatamente nessa mesma praia que as pessoas pagam trezentos paus num “abada” e não dão dez para ver um show de artista local. Investem tudo o que têm numa imagem que imaginam passar para aqueles que conhecem ou querem conhecer.

Li uma frase, não lembro mais onde, talvez num livro de Cocteau, que “ficar rico é fácil, basta se dedicar a isso”. E se pensarmos que a maioria dos “ricos e famosos” são pessoas que não ostentam cultura - muito pelo contrário - e sim corpões e fachadas deslumbrantes, fica fácil entender porque a ignorância grassa. Inteligência e cultura são coisas muito diferentes, para ficar rico basta ter a primeira e às vezes nem isso - tem golpe, herança, loteria - para o quê serve a segunda então?

No último Festival de Inverno de Domingos Martins alguém atribuiu ao Prefeito local a seguinte frase: “Cultura não enche a barriga de ninguém!” Quero não acreditar que o indivíduo em questão tenha dito isso, mas é o que pensa a maioria das pessoas. Agora te pergunto: E se na Grécia tivesse sido assim? Não teríamos a filosofia. No Rio não teríamos o samba. Não quero nem pensar em quantas barrigas a cultura já encheu, inclusive de políticos. Basta dizer que – nem sei se é verdade, mas vá lá – a maior indústria americana hoje é a do entretenimento, especialmente o cinema.Um ator de cinema foi eleito presidente lá...

A sociedade se constrói a partir da cultura e não o contrário. Transferindo essa afirmação contundente para o campo pessoal: uma bela mulher pode ser só uma bela mulher, case com ela e você vai descobrir. O que nos diferencia dos macacos é que eles aprendem coisas, mas não conseguem ensinar e para estes dão-se bananas. Enquanto investirmos tudo o que temos em belas fachadas em detrimento do conteúdo seremos mais um na multidão devorada pelas areias do tempo. Pergunte a Hermes, Sócrates e Platão, eles estão por aí até hoje...

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