Como todo bom cinéfilo
sem carteirinha, costumo assistir a esforços cinematográficos que sei de
antemão que não vou gostar. É o caso da Branca de Neve que fizeram recentemente.
Faço isso buscando as gratas surpresas e também para poder avaliar melhor as razões
de minha aversão, afinal assim me conheço melhor. É como diziam Glenn Goudl (pianista)
e Yehudi Menuhin (Violino) discutindo o fato da expressão de uma opinião artística
não poder seguir critérios subjetivos, sob pena de incorrer no erro do cidadão
leigo que ama criticar aquilo que não entende tendo apenas por base o seu gosto.
Talvez uma das grandes
questões do filme Branca de Neve seja a bruxa malvada – sem pleonasmo nem nada –
interpretada sem muita pegada por Julia Roberts. Essa coisa da mulher puramente
má me intriga, assim como os grandes vilões: pessoas que se percebem
fantásticas e dignas de idolatria a troco de um poder que exercem com esmerada perversidade e nem sequer se dão conta do vazio ao redor. Cultivar inimizades é
passatempo, adorar uma boa briga faz parte do pacote, viram referência de coisa
ruim enquanto se cercam de puxa-sacos que as manipulam louvando suas pseudo-qualidades.
Seriam aquelas pessoas -
que se aproximam de maus poderosos para se valer de seu favor - mais
inteligentes do que as que divergem e os confrontam? Quando o risco de se
prejudicar seriamente é real, talvez o sejam; afinal, é preciso preservar a
espécie e contrariar pessoas que sofrem de distúrbios psíquicos e -
sabe-se-lá como - alcançam algum poder pode não passar de suicídio altruísta ou
mania de ser do contra buscando aparecer também. Não existe jogo sem parceiro e
muitas vezes temos que jogar o jogo, mesmo que seja nos calando e engolindo
sapos.
No fundo tenho pena dos
líderes completamente auto-ignorantes, porque me lembram pessoas que aprendi a
gostar do jeito que eram, mesmo não concordando com noventa por cento do que
faziam ou da maneira escrota como me tratavam e às outras pessoas. Porém, os
seres embriagados de si mesmos também me enchem de tristeza; porque estão no rumo de
colisão com o sol, não sabem que precisam mudar e, por isso mesmo, ninguém tem o poder de convencê-los. Após
várias derrotas escamoteadas e vitórias bobas contra oponentes pueris, qual o lugar
na história imaginam ocupar?
No fim só nos resta a
aceitação: aceitar que até pessoas boas fazem coisas ruins e depois não há
muito mais o que fazer. São os acidentes, as fatalidades: são coisas da vida. Não devemos ter a petulância de nos imaginarmos bons, li em algum lugar que ninguém é. Talvez o grande desafio seja fazermos a coisa certa quando confrontados
com o mal e saber que o desejo de reagir à altura nos envolve e nos
envenena. Um pouco de sabedoria seria de bom uso para quem tem a pretensão de trazer verdades ao mundo, porque sua revolta apenas confere importância e volume às pirações daqueles ogros que querem derrotar.
Um comentário:
Olá meu caro, Juca...
Muito boa essa crítica. Não poderia deixar de pontuar esse trecho: "Talvez o grande desafio seja fazermos a coisa certa quando confrontados com o mal e saber que o desejo de reagir à altura nos envolve e nos envenena. Um pouco de sabedoria seria de bom uso para quem tem a pretensão de trazer verdades ao mundo [...]"
Faz muito sentido...
Abraços,
Rico
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