Sexta de noite, sai
pra jantar com minha garota e uma amiga. Mulheres bonitas, sorridentes e
relaxadas, felizes por poder sentar em algum lugar para atualizar as notícias e
jogar conversa fora. Enquanto caminhávamos pela rua, por duas vezes percebi uma
coisa que aconteceu de maneira bem semelhante. Dois caras sentados em barzinhos
por que passamos devoraram as duas com olhares que beiravam o atentado ao pudor.
Não jogaram nenhuma piadinha, talvez porque me viram junto, mas isso não os
impediu de lançar aqueles olhares furiosos.
Havia uma espécie de
ódio naquele olhar, mas não era a frustração que dá no leão quando a gazela
escapa. Era uma espécie de raiva pela evidente (e inconsciente) obrigação de
ser homem. Sobretudo, havia o outro. Aquele olhar guloso era mais para o parceiro
do que para as bonitas que desfilavam ante seus olhos impotentes, para mostrar
para o companheiro de copo que ele é um homem, depois que a presa passar vão
sorrir em cumplicidade despertando o sentimento de pertencimento à categoria
dos machos. É, na verdade, a única coisa que podem fazer com relação à sexualidade
reprimida da qual nem se dão conta.
Existe a ideia,
bastante difundida, de que as mulheres se arrumam e se esmeram em cabelos e
vestidos para impressionar as outras mulheres. “E tentem mim (sic) superar!” Frase
bastante comum em declarações espontâneas no “Livro das caras”. Já os homens
penam com a responsabilidade de conquistar essas mulheres, afinal, é uma coisa
muito chata e boboca a obrigação que o homem tem de provar que é homem. E não é
para as mulheres: é para os outros homens. Mesmo com o corpo recoberto de pelos
e a voz grave como a buzina de um navio, precisam mostrar mais o quê? Precisam
das mulheres.
“E disse o SENHOR Deus: Não é bom que
o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.”
Gênesis 2:18
O homem precisa da
mulher social, sem ela o cenário nunca está completo e as cobranças são várias.
Um homem só causa justamente aquela estranheza da qual muitos têm horror que é a
fragilidade de parecer feminino. Mesmo muitos homossexuais não aceitam, nem
tornam público seu afeto por outros homens. A possibilidade de amar ao outro assombra,
então alguns se caricaturam em machos, são o avesso dos travestis. Saem aos
bandos constrangendo garotas e arrumando pancadarias. Por que será? Aliás, é
como cantam nos aniversários: com quem será? Eis a questão que persegue a todos
desde a pequena infância...
E o que dizer da
ideologia no cancioneiro do nosso Brasil machista? “O homem de moral levanta,
sacode a poeira e dá a volta por cima”; “Homem que é homem não chora”; “Todo
homem que sabe o que quer pega o pau pra bater na mulher” (versão muito popular
de uma daquelas canções do Roberto).
Então toda a violência
se origina na repressão sexual? Certamente que não. Mas essa é uma verdade que ninguém
vai ver o Datena vociferar valentemente em seu programa na televisão. O ódio
existe não pela falta de amor, existe porque a sociedade obriga o amar, mesmo
que não se queira. E essa é uma forma de violência assumida como coisa natural.
Daí é possível inferir o tamanho do equívoco daqueles que ao invés de buscar a
compreensão, acham que o certo é endurecer a repressão. E ao pregar o amor,
incitam ainda mais a violência que dizem querer evitar.
Um comentário:
Juca concordo completamente com sua colocação ... parabens.. . abraços para vc meu querido
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