O terceiro filme do Homem de Ferro é um bom entretenimento, como os
outros foram, mas parece que dessa vez ficou faltando alguma coisa. Desde a investida
inicial a grande qualidade desse que é o mais divertido da franquia Marvel foi ter conseguido equilibrar ação
com humor e fazer a escolha de atores na medida certa. A “Pepper”
de Gwyneth Poltrow deu novo gás a sua carreira e é um bom exemplo de que ao
fazer menos a moça apareceu mais.
Mas nem quero ficar
falando muito do Homem de Ferro III não, quero usar o vilão pra chegar num
causo lá do passado, porque o grande lance desse filme é disparado a atuação,
de novo, do genial Ben Kingsley. Não posso explicar porque o Mandarim é o
melhor do filme pra mó de não estragar a diversão alheia, mesmo porque todo
mundo sabe que em filme de ação quem rouba a cena é o vilão.
Kingsley debutou
para o mundo com sua interpretação fabulosa de Gandhi. O
filme foi lançado em 1983 e eu estava lá na pré-estreia (ou estreia, sei lá)
que aconteceu no (eternamente em reforma) Teatro Glória que na época funcionava
como cinema. Vi vários filmes legais lá, inclusive, numa dessas dei meu
primeiro beijo, com uma colega de escola chamada... Cristina? Cristiane? Enfim,
não lembro, mas acho que o filme era “Hair”. Depois tem gente que diz que eu tenho memória boa.
Gandhi foi a produção
que bombou naquele ano, portanto, os mil lugares do Glória estavam ocupados.
Fui assistir ao filme junto com minha querida e saudosa amiga Ingrid Vervloet, precocemente
falecida ainda lá nos anos oitenta. Aquela era uma época em que a gente lia
crítica de cinema no jornal, porque tinha o Amylton de Almeida - noves fora seu
peculiar costume de elogiar os filmes do Van Dame – o saudoso autor de
documentários premiados como “Os Pomeranos” e “Lugar de Toda a Pobreza” era um
gênio, e como todos, ir atrás de seus conselhos era um perigo.
Como lembro agora com
saudade daquela entrada do Glória! A bomboniere do foyer que parecia um guichê
de estação de trem, cheia de bombons serenata e pastilha forte, a grossa
cortina vermelha que dava para a sala de exibição, o piso de madeira, o cheiro
do cinema! Quando conseguimos entrar a plateia estava já lotada, daí fomos nos
aboletar no balcão, uma espécie de camarote lá em cima, de onde cuspiram na
minha cabeça, salvo engano, no mesmo dia em que rolou aquele primeiro beijo.
Não me pergunte quem
era o mestre de cerimônias daquela peculiar “Opening
night” do Gandhi no Cine Glória, mas o cara convidou Amylton, como cineasta
e entendido da coisa, para trazer um breve speach
aos presentes. Eu-sei-lá quem teve a brilhante ideia de colocar discursos antes
da plateia encarar um filme de três horas de duração. Obviamente, o jornalista
foi recebido por um sonoro e gélido silêncio, se rolasse aplauso perigava um
monte de gente resolver falar. Aquele suspense soou como um aviso, sinal
amarelo, mas teve quem ousasse avançar.
A cena foi a seguinte:
Amylton caminhou para o palco com um blazer colocado sobre os ombros, o que era
uma espécie de moda entre os descolados da época, se é que vocês vão me entendendo.
Duas pessoas então ousaram romper o constrangedor silêncio: um rapaz que aplaudiu
- animado e solitário que nem ele só - e um garoto sem noção que se estrebuchou
de rir da cena...
Esse garoto, como
diria o Baleia, era eu!
Minha gargalhada
ribombou, Ingrid me estapeou, Amylton falou e a vida seguiu. Quer dizer, o
filme finalmente começou e se revelou interminável. Imagine só, depois de tanto
entrevero, acabei dormindo e acordei com o tremendo barulho do motor à hélice
de um hidroavião. Tomei um baita susto danado, quase caí da poltrona.
De repente estava eu aqui e só agora me dei conta: era já trinta anos depois!
De repente estava eu aqui e só agora me dei conta: era já trinta anos depois!
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