Outro dia li uma
entrevista de um cara que dizia não gostar da Presidente DilmA e, ao mesmo
tempo em que a criticava, defendia seu governo. Disse até que o povo não tinha
motivos para ir às ruas. Ora, tudo bem que o surto de manifestações que varreu
o país pegou meio mundo de calças curtas e que daqui pra frente tudo vai ser
diferente (ou não) e é evidente que muita gente ainda não entendeu a onda do
“gigante que acordou”. Motivos para revolta popular há de sobra e a relação
entre o Estado e a mídia de informação e propaganda teve um papel importante
nesse processo.
As grandes redes de
comunicação dizem ser independentes e prestar um serviço de qualidade à
população, baseado na “isenção” e no “politicamente correto”. Isso é verdade
somente em parte, afinal, a “informação” é um negócio como outro qualquer, tem
custo elevado e no Espírito Santo sempre se dependeu financeiramente (alguns
exclusivamente) da verba Estatal. Essa dependência, aliás, se estende a
diversas áreas de atuação e é bastante notada por pessoas que vêm de fora. Um
palestrante carioca me contou a título de piada que tinha perguntado a alguém
da produção de um evento se o organizador era amigo do Governador e o rapaz
respondeu: “muuuito!”
Falando
especificamente de propaganda e não de jornalismo, o mais irônico nessa
história toda é que os marketeiros políticos no afã de mostrar “as grandes
realizações” de seu cliente, ao contrário, acabaram por ajudar a desgastar sua
imagem. Isso ficou evidente em governos anteriores que produziram propagandas
cada vez mais triunfantes, enquanto a realidade que vivia a população era
muitas vezes oposta. Não é um desrespeito alardear grandiosas conquistas na
saúde, por exemplo, quando o que a população recebe de verdade é mau atendimento
e a visão de seus entes queridos morrendo ou passando grande sofrimento nos
corredores dos hospitais?
Alguns exemplos da
aliança entre Estado e mídia são sutis, mas outros nem tanto. Desde o ano
passado que já ficara “telegrafada” essa coisa de jornalista “noticiar” - sem emitir
juízo, sempre em nome da isenção - novas regras do Estado e que este estava
claramente dando as costas às necessidades da população. De vingança o povo começou
a postar nas “mídias sociais” que político deveria ser obrigado a frequentar o
SUS. Outra crítica comum é a da notória eficiência do Imposto de Renda,
conhecido por ser o único órgão federal que realmente funciona. Não seria muito
bom se, por exemplo, as investigações contra a corrupção funcionassem como a famosa
“malha fina”? E por que diabos não funcionam?
A maneira como a Lei
Seca foi implantada e, aliás, muito bem recebida por grande parte das pessoas,
foi uma dessas situações. De repente começaram a pipocar na televisão os casos mais
escabrosos de motoristas embriagados em todo o país e os legisladores foram subindo
o tom do discurso, endurecendo pra cima da população com blitzes rigorosas,
multas mais caras e prisões. Por outro lado, foi pintando a sensação de que a
polícia estava mais preparada e apta para prender o cidadão de bem do que para combater
a violência – fora do trânsito - que continua crescendo em níveis de guerra
civil, a ponto de acontecer dois linchamentos em maio passado dado o grau de
sensação de abandono à impunidade.
Outro episódio que deu
muito errado aconteceu no Espírito Santo e em alguns outros Estados quando, no
ano passado, um acordo entre o Governo Estadual e os Supermercadistas decretou
o fim das sacolas plásticas. A imprensa fez direitinho seu dever de casa
explicando que acondicionar as compras em sacolas de plástico não era ecologicamente
correto e que as pessoas que tinham “consciência ambiental” deveriam passar a
usar as versões biodegradáveis pagas. Do dia pra noite os supermercados viraram
praças de guerra, lembro de ter visto pessoas enfezadas a ponto de um ataque
dos nervos, enquanto isso os jornais publicavam pesquisas dizendo que a maioria
aprovava a medida. A afirmação era tão distante da realidade que parecia ter
alguém maluco: ou no povo, ou no jornal.
O desgaste se arrastou
por meses, no final os Deputados Estaduais aprovaram uma Lei proibindo a cobrança
das “sacolas biodegradáveis”. Foi uma história em que todo mundo saiu perdendo,
especialmente a ecologia, porque muita gente tomou ódio do assunto. Quando viu
a guerra perdida, numa reportagem da CBN o Presidente da Associação de
Supermercados afirmou que o custo das sacolas "não vai sair de graça aos
consumidores”. Talvez por acaso, a volta da inflação aconteceu alguns meses após
os supermercados herdarem o ônus dessa lambança. Quando começou todo mundo a
gritar pela alta dos preços, as explicações foram inúmeras, mas não se falou naquilo
que todo mundo suspeitava, mesmo porque, não se pode comprovar que a inflação é
resultado da conta repassada para, novamente, o povo pagar.
Vivemos um tempo repressor e muito careta, as pessoas
vivem sob uma pressão e controle os quais não me lembro de ter experimentado
antes, era de se imaginar que uma hora a coisa fosse pipocar. Ao invés de ter
acesso a pão e circo, o povo, que foi tratado cada vez mais com a seriedade e o
rigor da Lei, de repente – ok, não foi de repente, nem é por vinte centavos - cansou
e resolveu cobrar de volta a mesma seriedade dos “representantes” que elegeram.
Descobriram o que já desconfiavam, o jogo só é “na vera” pra quem está fora do
poder. Derrubados os tapumes, o que havia atrás da construção? Outra construção
e mais outra e mais outra. Postas as cartas na mesa do que é e do que não é,
vamos ver o que acontece, mas te digo só uma última coisa: esse é um jogo que nunca
foi tão perigoso de jogar...
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